Testemunho Público Enfático do Evangelho
- A Marca do Luteranismo

Quando as Confissões Luteranas foram publicadas no Livro de Concórdia, em 1580, o grupo de teólogos luteranos estava afirmando que eles não confessavam suas meras opiniões pessoais, mas declaravam publicamente a verdade pela qual estavam dispostos a arriscar suas próprias vidas aqui neste mundo e, principalmente, diante do juízo do Deus Todo-Poderoso.

A presente explanação […] é a nossa doutrina, fé e confissão.
Pela graça de Deus haveremos de comparecer, de coração
intrépido, diante do tribunal de Jesus Cristo com esta confissão.

—Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida, XII 40

Coração intrépido, de fato! O que poderia ser tão importante que você arriscaria sua eternidade? O que pode dar tamanha coragem e convicção a uma pessoa? Somente uma coisa – a verdade. Esse é o foco da Reforma Luterana: a verdade da Palavra de Deus.

O povo de Deus sempre falou dessa forma. Por exemplo, o salmista escreveu: “Também falarei dos teus testemunhos perante os reis, e não me envergonharei” (Salmos 119:46). Pedro confessou sua fé quando Jesus lhe perguntou em que acreditava: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16:16). Paulo escreveu: “E temos portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também, por isso também falamos” (2 Coríntios 4:13).

Os luteranos usaram as confissões de fé contidas no Livro de Concórdia por quase 500 anos como seu testemunho público do que a Bíblia ensina. Essas confissões dão um testemunho claro, inequívoco e convicto da fé cristã. Elas unem todos que são chamados pelo nome de luterano e desejam ser – e permanecer – genuinamente luteranos. É por isso que esse livro usa a palavra Concórdia como título.

O significado de concórdia

Concórdia vem de duas palavras do Latim que significam “com” e “coração”. Descreve um compromisso tão forte e profundo com a verdade que é como se aqueles que o compartilham têm uma só batida do coração. Para muitas mentes do século XXI, a afirmação de que há uma verdade objetiva é vista com profunda suspeita. Sugerir que há uma, e somente uma, verdade absoluta sobre Deus é considerado por muitos como absurdo, tolo, ridículo ou sinal de uma mente intolerante e fraca. Infelizmente, até mesmo muitos cristãos modernos hoje enxergam declarações de verdade e certeza com grande desconfiança.

Mas a verdade e a inverdade são reais. É possível conhecer a verdade e é preciso rejeitar todos os enganos que contradizem a verdade. Deus revela a verdade absoluta em sua Palavra, que é precisamente o que os documentos do Livro de Concórdia afirmam, com completa e total convicção.

A Bíblia é a sólida base dos documentos do Livro de Concórdia. Os cristãos que abraçam os documentos desse livro como seus ensinamentos, sua crença e sua confissão também acreditam que é possível que as pessoas conheçam e tenham certeza da verdade. Eles estão convencidos. Eles estão certos. Eles têm certeza. Por quê? Por causa daquele que os chamou a essa convicção: o Senhor Jesus Cristo. Ele disse: “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:31–32).

Luteranismo genuíno e histórico

Abraçar a liberdade da verdade significa rejeitar a escravidão do engano. É por isso que o Livro de Concórdia emprega duas frases para captar a essência da confissão bíblica: “cremos, ensinamos e confessamos” e “rejeitamos e condenamos”. Não se pode crer, ensinar e confessar a verdade sem também rejeitar e condenar tudo que coloca em perigo ou contradiz a verdade. Esse espírito de “luteranismo confessional” é o que continua animando as pessoas hoje que se agarram a essa coleção de afirmações, profissões e confissões de fé.

Nem todas as igrejas que usam o nome “luterana” ainda têm tanta consideração pelo Livro de Concórdia quanto já tiveram. Algumas organizações de igrejas luteranas nos Estados Unidos e ao redor do mundo consideram tais afirmações “historicamente condicionadas”. Elas afirmam que as confissões mais velhas não são necessariamente corretas no que ensinam sobre a Palavra de Deus. Essas igrejas abraçaram diversos acordos ecumênicos com igrejas não luteranas que contradizem o que o luteranismo historicamente ensina.

As igrejas luteranas confessionais consideram tais concessões não apenas uma concessão do luteranismo histórico, mas também uma negação da própria verdade da Palavra de Deus (uma questão da mais alta seriedade!). É importante manter em mente essa distinção entre igrejas que usam o nome “luterana”. É preciso assegurar que essas Confissões não sejam meramente documentos históricos nas congregações que são genuinamente luteranas. Elas devem ser conhecidas pelos leigos e por quem trabalha na igreja.

O luteranismo histórico e legítimo defende que a Bíblia é a verdadeira Palavra do Deus Vivo. Acreditamos que ela é incapaz de errar e livre de erros. Nós nos agarramos firmemente às Confissões Luteranas porque estamos absolutamente convencidos de que tais confissões de fé são uma exposição e explicação puras da Palavra de Deus. Os luteranos concordam com o apóstolo Pedro, que disse: “[…] não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido” (Atos 4:20).

Quando o Espírito Santo nos dá o dom da fé em Jesus Cristo como Salvador, esse dom da fé cria um desejo de confessar, testemunhar, testificar, proclamar e anunciar essa fé. É disso que tratam os documentos desse livro. Elas não são relíquias velhas e bolorentas da história. São a confissão viva do povo de Deus, que se agarrou às verdades nesses documentos por quase 500 anos. Hoje, nós que nos agarramos a essas Confissões fazemos do Livro de Concórdia nossa confissão e nosso testemunho público do que a Bíblia ensina. Com Martinho Lutero, dizemos: “Assim permanecemos. Não podemos fazer diferente. Que Deus nos ajude. Amém.”

Uma história de sacrifício pessoal pela verdade

Durante os anos em que essas Confissões foram escritas e defendidas, homens e mulheres fiéis a Deus, tanto pessoas leigas quanto do clero, sacrificaram tudo que tinham – em alguns casos, suas próprias vidas – para defender e transmitir as verdades da santa Palavra de Deus como confessada pela Igreja Luterana. Homens morreram em combate para defender o direito de ensinar os preceitos luteranos nas salas de aula e pregar a fé luterana nos púlpitos. Eles morreram defendendo suas cidades – e, principalmente, suas convicções – dos exércitos de líderes políticos e religiosos que tentavam destruir o luteranismo para sempre.

Por exemplo, durante a Guerra dos Trinta Anos (1618–48), os soberanos católicos romanos atacaram as regiões protestantes da Alemanha na esperança de acabar com a Reforma. As batalhas que se seguiram forçaram dezenas de milhares de pessoas a deixar seus lares. Doenças e a fome aprofundaram a miséria, levando a um grau de sofrimento semelhante ao que vemos hoje em partes da África. Finalmente, o rei sueco Gustavo Adolfo II (1594–1632) conduziu seus exércitos à defesa dos protestantes. A vitória de seu exército na batalha de Lützen assegurou a sobrevivência da Reforma. Mas o próprio Gustavo morreu em combate. Todo luterano que valoriza sua confissão de fé deve lembrar desse “Leão do Norte” e agradecer a Deus por seu sacrifício.

A coragem dos primeiros luteranos inspira admiração em nós hoje. É difícil imaginarmos sacrificar tudo por aquilo em que acreditamos. É difícil para nós hoje sequer imaginar uma situação semelhante à dos luteranos nos séculos XVI e XVII. Hoje, a atitude em relação à verdade é muito mais de conceder a qualquer custo do que de confessar a qualquer custo. Em muitas igrejas hoje, há uma atitude de não discordar para evitar desentendimentos. Essa atitude também existia na época em que as Confissões Luteranas foram escritas, mas acabou sendo cabalmente rejeitada.

Um livro para todos

O Rev. Dr. C. F. W. Walther, o grande teólogo luterano estadunidense e primeiro presidente do Lutheran Church—Missouri Synod, explicou a importância do Livro de Concórdia para todos os luteranos.

O Livro de Concórdia deve estar em todo lar luterano. Por isso, [nossa Igreja] deve fornecer uma cópia boa e barata, e os pastores devem providenciar que todos os lares tenham um. […] Se alguém não estiver familiarizado com esse livro, pensará: “esse livro velho é só para pastores. Eu não preciso pregar. Depois de [trabalhar] o dia todo, não posso me sentar e estudar à noite. Ler minhas devoções da manhã e da noite é o suficiente.” Não, não é o suficiente! O Senhor não quer que permaneçamos crianças, que são levadas pelo vento de cada doutrina; ele quer que cresçamos em conhecimento para que possamos ensinar aos outros. (Essays for the Church, vol. 2 [St. Louis: Concordia Publishing House, 1992], 51, tradução nossa)



O Livro de Concórdia não é meramente um livro para pastores e “profissionais” ou “acadêmicos” da igreja. Inclusive, é importante destacar que as pessoas mais diretamente responsáveis pelas Confissões Luteranas eram leigas, não pastores e teólogos. Arriscando imensamente suas próprias vidas, sua propriedade e sua profissão, leigos corajosamente ficaram diante do imperador e dos representantes do papa. Eles afirmaram que as Confissões eram suas próprias. Eles não recuaram nem fizeram concessões. Por isso, é lastimável que com o passar dos anos o Livro de Concórdia veio a ser considerado um livro mais para pastores e teólogos profissionais.

No Livro de Concórdia se encontra a Confissão Luterana mais usada: o Catecismo Menor de Martinho Lutero. Lutero escreveu esse documento não apenas como um recurso para a igreja e a escola, mas, acima de tudo, para o chefe de família. Lutero queria que esse pequeno livro fosse usado por leigos, diariamente, para ajudá-los a permanecer ancorados nos ensinamentos sólidos da santa Palavra de Deus, a Bíblia. Portanto, tenha esse importante fato em mente: O Livro de Concórdia existe por causa da fé e da convicção de pessoas leigas, que arriscaram suas vidas para que essas Confissões fossem produzidas, publicadas e distribuídas. O Livro de Concórdia é um livro para todos os cristãos, tanto os que trabalham na igreja quanto os leigos.

Os cristãos que desejam ser fiéis aos ensinamentos da Bíblia sempre retornam a esse livro. Nessas confissões de fé, encontram concórdia, unidade e harmonia nas verdades da Palavra de Deus. Esses documentos nunca substituem a Bíblia. Eles distinguem entre o que a Bíblia ensina e os falsos ensinamentos dos outros, que minam o uso da Palavra de Deus. Eles dão aos cristãos uma voz comum para confessar sua fé para o mundo.

Transmitir enfaticamente o Evangelho de Jesus Cristo é o objetivo das Confissões Luteranas. Elas não devem ser tratadas como peças de museu, mantidas debaixo de vidros como curiosidades interessantes. Também não são decorações comemorativas para serem expostas e admiradas uma vez por ano, e depois guardadas e esquecidas. As Confissões Luteranas também não são clavas para bater nas pessoas, nem escudos para evitar o contato com os outros, tampouco troféus para expor numa prateleira. As Confissões Luteranas são recursos para comunicar e defender de modo vigoroso o Evangelho de Jesus Cristo. São ferramentas poderosas para todos usarem, em todas as circunstâncias, para pregar, ensinar e proclamar o Evangelho de Jesus Cristo e todas as verdades da Palavra de Deus na igreja, na escola, em casa, no trabalho, na comunidade e no mundo inteiro.

Os luteranos especialmente desfrutam de “concórdia” por meio dessas confissões. Unidos na convicção comum sobre a Palavra de Deus, eles vivem unidos num só coração, declarando ao mundo e uns aos outros que “é isto que cremos, ensinamos e confessamos”.

Trecho de: Concordia: The Lutheran Confessions (St. Louis, MO, EUA: Concordia Publishing House, 2005), xiii–xvi.

Teologia

A Reforma Luterana continua tendo Jesus como único foco, isto é, prega e ensina fielmente a boa nova de Jesus Cristo e defende os ensinamentos da Palavra de Deus como confessados em todos os tempos e lugares em que o Evangelho foi ensinado e compreendido de modo puro e os Sacramentos administrados conforme instituídos por Cristo. Com Martinho Lutero, ainda dizemos: “Assim permanecemos; não podemos fazer diferente. Que Deus nos ajude. Amém.”

A Reforma Luterana então, e agora, não deseja jogar fora o passado, mas reter e preservar o melhor da rica história da Igreja e de seus ensinamentos, ao mesmo tempo filtrando tudo que cubra ou contradiga a Palavra de Deus e negue a boa nova da salvação somente pela fé, somente pela graça, somente por Cristo.

Os luteranos jamais desejaram se rebelar contra a Igreja Romana. Eles foram, entretanto, feitos cativos pela força da clara verdade da Palavra de Deus. Martinho Lutero se recusou a abrir mão da verdade e foi excomungado pela Igreja Católica Romana exatamente por defender o Evangelho puro e as verdades da Palavra de Deus.

Talvez o cristianismo nunca tenha sido explicado de forma mais simples e eloquente do que nas palavras que Martinho Lutero escreveu para explicar o Credo Apostólico. Esta é uma explicação atemporal, que resume muito bem a teologia da Reforma na época e também hoje.

Creio que Deus me criou junto com todas as criaturas, e me deu corpo e alma, olhos, ouvidos e todos os membros, inteligência e todos os sentidos, e ainda os conserva; além disto, me dá roupa, calçado, comida e bebida, casa e lar, família, terra, trabalho e todos os bens. Concede cada dia tudo de que preciso para o corpo e a vida; protege-me de todos os perigos e guarda-me de todo o mal. E faz tudo isso unicamente por ser meu Deus e Pai bondoso e misericordioso, sem que eu mereça ou seja digno. Por tudo isso devo dar-lhe graças e louvor, servi-lo e obedecer-lhe. Isto é certamente verdade.

Creio que Jesus Cristo, verdadeiro Deus, gerado do Pai desde a eternidade, e também verdadeiro ser humano, nascido da virgem Maria, é meu Senhor. Ele perdoou a mim, pessoa perdida e condenada, e me libertou de todos os pecados, da morte e do poder do diabo. Fez isto não com dinheiro, mas com seu santo e precioso sangue e sua inocente paixão e morte. Fez isto para que eu lhe pertença, seja obediente a ele em seu reino e lhe sirva em eterna justiça, inocência e felicidade, assim como ele ressuscitou da morte, vive e governa eternamente. Isto é certamente verdade.

Creio que, por minha própria inteligência ou capacidade, não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem chegar a ele. Mas o Espírito Santo me chamou pelo Evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé. Assim também chama, reúne, ilumina e santifica toda a Igreja na terra, e em Jesus Cristo a conserva na verdadeira e única fé. Nesta Igreja ele perdoa, cada dia e plenamente, todos os pecados a mim e a todas as pessoas que creem. E, no último dia, ressuscitará a mim e a todos os mortos e dará a vida eterna a mim e a todas as pessoas que creem em Cristo. Isto é certamente verdade.

O que é um luterano?

Embora haja uma variedade de maneiras de responder a essa pergunta, uma resposta muito importante é simplesmente esta: “um luterano é uma pessoa que crê, ensina e confessa as verdades da Palavra de Deus conforme resumidas e confessadas no Livro de Concórdia”. O Livro de Concórdia contém as confissões de fé luteranas.

Talvez você tenha assistido à ordenação de um pastor e ouviu ele prometer que cumprirá os deveres de seu ofício de acordo com as Confissões Luteranas. Quando as pessoas são recebidas como membros em uma congregação luterana por meio da confirmação, elas são perguntadas se confessam que a doutrina da Igreja Evangélica Luterana, como a conheceram pelo Catecismo Menor, é fiel e verdadeira.

Essas promessas solenes indicam a nós a importância das Confissões Luteranas para a nossa igreja. Vejamos os diversos itens contidos no Livro de Concórdia e por que as Confissões Luteranas são tão importantes para ser um luterano.

Quais são os credos ecumênicos?

Os três credos ecumênicos no Livro de Concórdia são o Credo Apostólico, o Credo Niceno e o Credo Atanasiano. Eles são descritos como “ecumênicos” (universais) porque são aceitos por cristãos no mundo inteiro como expressões corretas do que a Palavra de Deus ensina.

O que são a Confissão de Augsburgo e a Apologia da Confissão de Augsburgo?

Em 1530, os luteranos foram solicitados a apresentar sua confissão de fé diante do imperador em Augsburgo, na Alemanha. Filipe Melanchthon redigiu a Confissão de Augsburgo, e ela foi lida diante da corte imperial no dia 30 de junho de 1530. Um ano depois, os luteranos apresentaram sua defesa da Confissão de Augsburgo, que é o que significa “apologia” nesse caso. Ela também foi escrita por Filipe Melanchthon. O maior documento do Livro de Concórdia, seu capítulo mais longo, é dedicado à verdade mais importante da fé cristã: a doutrina da justificação somente pela graça, somente pela fé, somente em Cristo.

O que são os Catecismos Menor e Maior?

Martinho Lutero logo percebeu o quanto os leigos e o clero de sua época eram ignorantes a respeito até mesmo das verdades mais básicas da fé cristã. Por volta de 1530, ele produziu dois pequenos manuais para ajudar os pastores e chefes de família a ensinar a fé.

O Catecismo Menor e o Catecismo Maior se organizam em torno de seis tópicos: os Dez Mandamentos, o Credo Apostólico, o Pai Nosso, o Santo Batismo, a Confissão e o Sacramento do Altar. Esses magníficos resumos doutrinários de Lutero foram tão universalmente aceitos que foram incluídos no Livro de Concórdia.

O que são os Artigos de Esmalcalde e o Tratado sobre o poder e o primado do papa?

Em 1536, Martinho Lutero foi solicitado a preparar uma declaração da fé luterana para uso em um concílio da igreja, se fosse pedido. A enfática e vigorosa confissão de fé de Lutero foi mais tarde incorporada ao Livro de Concórdia. Ela foi apresentada a um grupo de soberanos luteranos reunidos na cidade de Esmalcalde. Filipe Melanchthon foi solicitado a elaborar sobre o assunto do papa romano e o fez em seu tratado, que também foi incluído no Livro de Concórdia.

O que é a Fórmula de Concórdia?

Após a morte de Lutero em 1546, significativas controvérsias irromperam na Igreja Luterana. Depois de muito debate e empenho, a Fórmula de Concórdia em 1577 deu um fim a tais controvérsias doutrinárias, e a Igreja Luterana pôde seguir adiante unida naquilo que acreditava, ensinava e confessava. Em 1580, todos os escritos confessionais mencionados aqui foram reunidos em um único volume, o Livro de Concórdia. Concórdia é uma palavra que significa “harmonia”. A Fórmula de Concórdia foi resumida em uma versão conhecida como o “Epítome” da Fórmula de Concórdia. Esse documento também está incluso no Livro de Concórdia

Qual a ligação entre a Bíblia e as Confissões?

Confessamos que “somente a Palavra de Deus deve ser e continuar sendo a única norma e regra de toda a doutrina” (FC DS, Regra e Norma, 9). O que a Bíblia assevera, Deus assevera. O que a Bíblia ordena, Deus ordena. A autoridade das Escrituras é completa, certa e final. As Escrituras são aceitas pelas Confissões Luteranas como a própria Palavra de Deus. As Confissões Luteranas pedem que acreditemos na Escritura porque “ela não te mentirá” (CM, V, 76) e não pode ser “falsa e enganosa” (FC DS, VII, 96). A Bíblia é a “Palavra pura, infalível e inalterável” de Deus (Prefácio ao LC).

As Confissões Luteranas são a “base, regra e norma indicando como como todas as doutrinas devem ser julgadas em conformidade com a Palavra de Deus” (FC SD RN). Como as Confissões estão em completa concordância doutrinária com a Palavra de Deus escrita, elas servem como o padrão na Igreja Luterana para determinar o que é um ensinamento bíblico fiel, na medida em que tal ensinamento é tratado nas Confissões.

Qual o principal objetivo das Confissões Luteranas?

A Reforma Luterana não foi uma “revolta”, mas começou como uma expressão sincera de preocupação com os ensinamentos falsos e enganosos que, infelizmente, até hoje obscurecem a glória e o mérito de Jesus Cristo. O que motivou Lutero foi uma preocupação zelosa com o Evangelho de Jesus Cristo. É assim que as Confissões Luteranas explicam o que é o Evangelho:

Todavia (já que o homem não cumpriu a lei de Deus, senão que a transgrediu, sendo que sua natureza, pensamentos, palavras e atos corrompidos guerreiam contra a lei, razão por que está sujeito à ira de Deus, à morte, a todas as calamidades temporais e ao castigo do fogo do inferno), o evangelho, propriamente, é doutrina que ensina o que o homem deve crer a fim de obter de Deus o perdão dos pecados, a saber, que o Filho de Deus, Cristo Senhor nosso, tomou sobre si e carregou a maldição da lei, expiou todos os nossos pecados e por eles pagou, e que apenas por ele chegamos de novo a estar nas graças de Deus, alcançamos a remissão dos pecados pela fé, somos libertados da morte e de todos os castigos do pecado e somos eternamente salvos. [. . .] [É] uma boa e alegre mensagem de que Deus não quer castigar o pecado, senão que por causa de Cristo o quer perdoar (FC DS, V, 20).

O que é um luterano “confessional”?

A palavra “confissão” é usada de diversas maneiras, mas quando falamos de um luterano “confessional”, nos referimos a um luterano que declara ao mundo sua fé e sua mais profunda crença e convicção, em harmonia com os documentos contidos no Livro de Concórdia. Você entenderá o espírito do luteranismo confessional nestas palavras, as últimas escritas no Livro de Concórdia:

Visto querermos ter testificado, na presença de Deus e de toda a cristandade, entre os contemporâneos e os pósteros, que a presente explanação de todos os artigos controvertidos que precedem e que foram explicados, que ela, e nenhuma outra, é nossa doutrina, fé e confissão, na qual também pela graça de Deus haveremos de comparecer, de coração intrépido, diante do tribunal de Jesus Cristo e da qual haveremos de prestar contas, e contra a qual nada falaremos ou escreveremos, nem secreta nem publicamente, mas, sim, intencionamos, mediante a graça de Deus, perseverar nela, subscrevemos, com madura ponderação, em temor e invocação de Deus, com o próprio punho. (FC DS, XII, 40).

O que é uma “subscrição incondicional” às Confissões?

Os pastores luteranos confessionais precisam “subscrever” incondicionalmente às Confissões Luteranas porque elas são a exposição pura da Palavra de Deus. É assim que nossos pastores, e todos os leigos que confessam sua crença no Catecismo Menor, podem com grande alegria e sem reservas ou qualificações dizer o que eles acreditam ser a verdade da Palavra de Deus. O Dr. C. F. W. Walther, o primeiro presidente do Missouri Synod, explicou o significado de uma subscrição confessional incondicional em palavras tão claras e pungentes hoje quanto então:

Uma subscrição incondicional é a declaração solene que o indivíduo que deseja servir a igreja faz sob juramento 1) de que ele aceita o conteúdo doutrinário de nossos Livros Simbólicos, porque ele reconhece o fato que esse conteúdo está em total acordo com a Escritura e não se opõe à Escritura em qualquer ponto, seja esse ponto de maior ou menor importância; 2) de que ele, por isso, crê sinceramente nessa verdade divina e está determinado a pregar esta doutrina sem adulteração.

Então o que é ser luterano?

Ser um luterano é ser uma pessoa que acredita nas verdades da Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada, conforme são corretamente explicadas e ensinadas no Livro de Concórdia. Fazê-lo é confessar o Evangelho de Jesus Cristo. Luteranos genuínos, luteranos confessionais, ousam insistir que: “Com esse padrão, conforme acima participado, devem concordar todas as doutrinas, e o que lhe é contrário deve ser rejeitado e condenado como oposto à unânime declaração de nossa fé” [FC Ep. RN, 6).

Uma declaração dessas pode parecer arrogante para alguns. Mas não é; trata-se de uma expressão da confiança dirigida pelo Espírito que nos move a falar de nossa fé diante do mundo. Ser um luterano confessional é ser um que honra a Palavra de Deus. Essa palavra deixa claro que Deus deseja que sua igreja esteja em concordância de doutrina e que tenha uma só mente, vivendo em paz uns com os outros (1Co 1:10; 2Co 13:11). É por isso que estimamos a preciosa confissão da fé cristã que temos no Livro de Concórdia. Para os Luteranos Confessionais, não há outra coleção de documentos, declarações ou livros que de forma tão clara, precisa e confortadora apresente os ensinamentos da Palavra de Deus e revele o Evangelho bíblico quanto o nosso Livro de Concórdia.

De mãos dadas com o nosso compromisso de ensinar e confessar de modo puro a nossa fé está, e sempre deverá estar, nosso igualmente forte compromisso de proclamar enfaticamente o Evangelho e falar a verdade de Deus ao mundo. É isso que significa “confissão” de fé, em última análise. De fato, “[...] está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também, por isso também falamos” (2Co 04:13). É isso que significa ser luterano.

Para mais estudos:

Robert Preus, Getting into the Theology of Concord: A Study of the Book of Concord (St. Louis: Concordia Publishing House, 1977).

David Scaer, Getting into the Story of Concord: A History of the Book of Concord (St. Louis, Concordia Publishing House, 1977).

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