Jó é louvado pelo próprio Deus como
“homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desviava do mal” (Jó 1.1). Mas Jó
vive sob o impacto de terríveis contrastes. De seus bens e de seu lar só lhe
restam doloridas lembranças. Seu corpo é um resto mal-cheiroso. Só o visitam
três amigos cheios de acusações e incompreensão. E onde ficou Deus? Seu Deus
tão rico e misericordioso? O olhar angustiado e ansioso de Jó busca por Deus,
mas confessa: Clamo a ti, e não me
respondes; estou em pé, mas apenas olhas para mim.
Com isso, Jó não diz que Deus o
abandonou, ou que não mais o enxerga em sua dor. O que lhe dói é que Deus só
“olha” para ele. Ou seja, Deus ouve e entende seus pedidos; mas não quer
responder-lhe agora.
O evangelho registra que no caso da
mulher cananeia ou siro-fenícia, Jesus também parece nem mesmo olhar para quem
lhe clamou: “Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim! Minha filha está
horrivelmente endemoninhada”. Nem atendeu à intervenção dos próprios discípulos.
– O Deus Eterno silencia ante suas orações. Parece que ela suplica para dentro
do ar e não ao coração do Deus gracioso. O mesmo aconteceu com Maria nas bodas
de Caná.
Mas tanto Jó como a mulher cananeia e a
própria Maria estão na escola de Deus. É preciso que aprendam e aceitem algumas
lições. A primeira é que eles não estiveram ‘falando no ar’, mas ao Senhor que
ouve realmente as orações. Pois ele jamais “dormita nem dorme”. Que, por isso,
estivessem certos do fato: “Deus realmente me escuta”.
A segunda é que ninguém – nem mesmo o
cristão – tem qualquer direito ao socorro de Deus ou para prescrever a Deus o
que lhe cabe fazer. Todos precisam aprender que são alunos na escola de Deus, o
qual, como seu Senhor e Mestre, quer prová-los quanto à sinceridade da oração e
ao empenho da fé.
Cada cristão precisa ouvir Deus dizer-lhe: Por breve momento te deixei. Deixou-o
sem resposta, mas não sem a sua presença ou atenção. Deus garante a todos os
cristãos: “Com grande misericórdia torno a acolher-te”. O próprio Jó experimentou
isso. Deus, depois que havia provado a constância de Jó na fé, voltou-se com
muita misericórdia a este triste sofredor. Devolveu-lhe tanto a saúde como
também o cobriu com muitas bênçãos. – A mulher siro-fenícia foi atendida por
Jesus e louvada por sua “grande fé”. E Maria foi, logo a seguir, alegrada com o
primeiro milagre operado por Jesus, que transformou água em “bom vinho”.
Querido(a) irmão(ã) na fé. Também eu e
você já clamamos a Deus, e este não nos respondeu. Não nos revoltemos contra o
Senhor, blasfemando que “não somos cães que precisam mendigar”. Lembremos que,
mesmo que sejamos tão indignos como cães, ainda assim é verdade, que “os cães
comem das migalhas que caem da mesa de seus donos”, e que o Senhor, com
certeza, sempre tem reservado dons graciosos para a nossa necessidade. Em Jesus
Cristo, Deus nos concede “plena e poderosa salvação”. É em nós que ele pensa,
quando diz: Não te deixarei; nunca jamais
te desampararei.
Por isso, aumentemos ainda mais as
nossas confiantes preces. Pois, ele, a seu tempo, nos exaltará. Muitas são as tempestades/que ameaçam nos
tragar; ... Mas o nosso Cristo amado/não nos deixa perecer” (HL 408). Amém.