O nascimento e a ressurreição


18/12/2019 #Artigos #Editora Concórdia

“O Natal está chegando, vamos festejar. Jesus nasceu e veio nos salvar”.

O nascimento e a ressurreição

Texto base: Lucas 2.1-20

“O Natal está chegando, vamos festejar. Jesus nasceu e veio nos salvar”. Este é o trecho de uma conhecida música cantada pelas nossas crianças em praticamente todos os anos nas programações especiais de Natal. Aliás, o período natalino nas igrejas, por vezes, foca simplesmente na comemoração e na alegria, chegando a pedir que as pessoas que assistem ou acompanham esses momentos, deixem de lado suas tristezas pessoais e as dificuldades que enxergam no mundo para se alegrar com o nascimento de Jesus.

É, por vezes, uma visão utópica da realidade das pessoas. Porque podemos deixar aquele momento com a impressão de que o nascimento de Cristo resolve todos os problemas e tristezas do mundo e da realidade que vivemos, afinal de contas: “vamos festejar. Jesus nasceu e veio nos salvar”.

Qual a alegria de comemorar o natal?

A visão utópica da chegada de Cristo como “solução para todos os problemas” não é algo incomum na história da humanidade. O povo de Israel esperava um Messias que havia sido prometido por Deus no Antigo Testamento. Esperavam ansiosamente o seu líder político que viria para resolver todos os seus problemas. E a construção dessa visão do povo se deu muito pelos líderes que o próprio Deus levantou durante a história. Abraão, Isaque, Jacó – que mais tarde se tornou Israel, o pai das 12 tribos; José, que liderou o Egito durante os 7 anos das vacas gordas e os 7 anos das vacas magras; Moisés, o grande líder da libertação do povo de Israel da escravidão; Davi, o mais famoso rei de Israel, que foi antepassado de Jesus e que também nasceu em Belém. A esperança do povo de Israel era pela vinda de um rei político. E de um grande líder que agiria em favor do povo para seu reinado soberano sobre as outras nações. Esse líder viria para resolver todos os seus problemas.

Aliás, o contexto do relato de Lucas 2.1-20 é da vinda de um Rei. O anjo anuncia a Maria que ela ficaria grávida, dizendo: “Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim” (Lc 1.32-33). Além disso, o nascimento de Jesus se dá em meio a um grande movimento político que estava acontecendo na época. Logo no início do capítulo 2 do evangelho de Lucas, observamos um decreto do imperador César Augusto para que todas as pessoas voltassem à sua terra natal para o recenseamento.

Há, no texto, um indicativo de que o próprio evangelista Lucas quis suscitar essa temática política para o nascimento de Jesus. Mas, obviamente, Lucas não anuncia a vinda de um líder político para Israel. Não seria Cristo o responsável por tornar o povo de Israel soberano sobre os povos, pois Cristo não seria esse tipo de líder.

O próprio Lucas faz seus leitores olharem para o episódio do nascimento de Jesus com alegria. O tema “alegria”, é recorrente no evangelho de Lucas. Quando o anjo anuncia à Maria que ela ficaria grávida do Salvador, ele chega a ela dizendo: “alegra-te” (1.28); João batista estremece de alegria no ventre de Isabel quando Maria se aproxima (1.44); os anjos anunciam a “boa-nova de grande alegria” (2.10); o cântico de Zacarias é um cântico de alegria e agradecimento (1.67-79); Simeão canta sua alegria ao receber Jesus em seu colo (2.29-32).

Mas qual o motivo dessa alegria?

O reino que Jesus Cristo veio trazer ao mundo não é o reino político, mas o reino espiritual. E Lucas mostra isso em outros momentos no contexto do texto. Maria canta: “e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador” (1.47); Zacarias canta a vinda do Salvador Jesus como aquele que “visitou e redimiu o seu povo” (1.68); aos pastores é anunciado que “hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (2.11); Simeão, ao pegar o menino Jesus no colo, canta: “porque os meus olhos já viram a tua salvação” (2.30).

A salvação para o povo de Israel estava ali. Mas essa salvação não foi conquistada meramente com o nascimento de Jesus. Cristo, que foi enviado para o povo de Israel, o povo de Deus, foi rejeitado pelo seu próprio povo. Aqueles que deveriam receber o Messias prometido com a mesma alegria e entusiasmo de Maria, João Batista, Isabel, Zacarias, os pastores e Simeão, na verdade não o receberam assim. O povo de Israel não recebeu Jesus como o Messias prometido. Cristo foi rejeitado de tal modo que foi levado a julgamento, a açoites e à morte. E esta é uma verdade que nós não podemos esconder, mesmo no período do Natal. Mesmo com a alegria do nascimento de Jesus, nós não podemos encobrir o sofrimento, a violência, o desespero e o medo que pairam por esse mundo pecaminoso. Não podemos criar um mundo paralelo onde o nascimento de Jesus cria uma visão utópica da nossa realidade. Nós comemoramos o Natal com cores, luzes e músicas alegres. Mas na história de Jesus, há perseguição para tirar a sua vida desde o seu nascimento até a sua morte. E em nenhum momento ele prometeu que no mundo não haveria mais dor, sofrimento, tristeza ou angústia. Ele mesmo disse aos discípulos: “No mundo, passais por aflições” (Jo 16.33). No mundo haverá desastres, catástrofes, dificuldades e morte.

Mas o grande ponto que precisa ser destacado é que Cristo não permanece na morte. Ele ressuscita. E esta é a fonte da nossa grande alegria. Por causa da ressurreição de Cristo, você e eu recebemos o privilégio de sermos batizados. De sermos colocados dentro da família da fé. E é nesta família que Jesus nos alegra. É dentro da família da fé, na qual nós fomos colocados desde o nosso batismo, que Jesus diz: “tenham coragem, eu venci o mundo” (Jo 16.33). E é por causa da ressurreição de Cristo que nós podemos cantar: “o Natal está chegando, vamos festejar. Jesus nasceu e veio nos salvar”. O nascimento de Cristo nos alegra, porque sabemos da sua ressurreição. Porque sabemos do nosso batismo e da garantia que Cristo nos dá, que é a vida eterna. Amém.

 

Lucas Prando

Pastor

         Tuparendi, RS

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