Quaresma e páscoa


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03/04/2020 #Estudos #Editora Concórdia

Neste mês de abril termina o período quaresmal e começa o período pascal

Quaresma e páscoa

Neste mês de abril termina o período quaresmal e começa o período pascal. O período quaresmal foi instituído pelo Papa Gregório, o Grande, no ano 600 A.D. Ele fixou, em preparação à Páscoa, um período de 40 dias de jejum, meditação e oração. Quanto ao jejum, não se pensa em jejum completo, mas em alimentação moderada, abstenção de festas, a fim de que nada possa impedir nossa preparação para a grande festa da Páscoa.

     Em tempos passados, todas as congregações celebravam, no meio da semana, seus cultos quaresmais, mesmo sem a presença do pastor. Era lida a história da paixão conforme os quatro evangelhos ou a História Bíblica, ou de impressos que os pastores elaboravam. As congregações que, por vários motivos, não tinham cultos quaresmais, se reuniam na Semana Santa, uma ou duas vezes, para uma reunião de duas horas, a fim de rever a história da paixão de Cristo.

     Alguém poderia perguntar: Por que 40 dias, sem contar os domingos, visto que o domingo em si é dia de festa? Não há uma resposta categórica. O número 40 é muito usado na Bíblia. Confira as seguintes citações: Gênesis 7.4; 8.6; Êxodo 24.18; Números 14.33; Deuteronômio 8.2; Juízes 3.11; 2Samuel 5.5; 1Reis 11.42; 19.8; Salmo 95.10; Jonas 3.4; Mateus 4.2; Lucas 2.22; 4.2; Atos 1.3.

     Ao meditarmos sobre a história da paixão de Jesus, cumpre lembrar que Jesus trilhou esse caminho em nosso lugar, como teu e meu substituto, em favor de toda a humanidade. Deus derramou sua ira santa sobre seu próprio Filho, Jesus Cristo, o qual se dispôs a salvar a humanidade. O poeta sacro o expressa assim: “Eu, eu e meu pecado / havemos motivado / a tua grande dor” (Hinário Luterano 94.4). E o consolo: “Pelo teu cruel pecado / eu na cruz penei, morri, / conseguindo, ó desgarrado, / vida eterna para ti. / Tendo sido já remido / da mais dura servidão, / és o filho bem querido / do Senhor da redenção” (HL 86.3). Na cruz vemos a grande ira divina que pesava sobre nossos pecados. Isso nos leva ao arrependimento. Ao mesmo tempo, a cruz mostra o amor de Jesus que, com seu obedecer à lei, padecer e sofrer, reconciliou a humanidade com Deus Pai, para que todo o que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna (Jo 3.16).         

     Pela ressurreição de Jesus na Páscoa, Deus Pai mostrou que aceitou o sacrifício de Jesus em favor da humanidade – Jesus já tinha falado a respeito de sua ressurreição a seus discípulos (Mt 26.32). Na hora, eles não entenderam nada; os inimigos de Jesus, no entanto, entenderam, por isso pediram a Pilatos que colocasse guardas na sepultura. Com isso, sem querer, providenciaram testemunhas da ressurreição de Jesus.

     Jesus, conforme tinha dito, ressuscitou no terceiro dia. Ele foi vivificado. Agora, não mais em estado de humilhação, mas de exaltação. A exaltação de Jesus consiste em que ele, como verdadeira pessoa humana “usa agora, sempre e inteiramente a majestade divina comunicada (transmitida) à sua natureza humana”, Fp 2.9-11 (Catecismo Menor, de 2016, pergunta 164). Isto é, agora Jesus, conforme a sua natureza humana, é onipresente, onisciente, onipotente. Isso nossa razão humana não consegue entender. Mas nós o cremos.

     Interessante notar como os incrédulos temeram a ressurreição. Os soldados, quando viram os sinais da ressurreição de Cristo (terremoto, anjos, esplendor) fugiram apavorados da sepultura e foram contar aos fariseus: “Jesus ressuscitou” (Mateus 28). Estes não duvidaram, nem foram para a sepultura conferir, mas pagaram dinheiro aos soldados, para que mentissem, dizendo que os discípulos levaram o corpo.

     Jesus tinha dito a seus discípulos: “Depois da minha ressurreição, irei adiante de vós para a Galileia (Mateus 26.32; Marcos 14.28). Os anjos disseram às mulheres: Não temais... Ele não está aqui: ressuscitou... Ide, pois, depressa, e dizei aos seus discípulos que ele ressuscitou dos mortos, e vai adiante de vós para a Galileia, ali o vereis”(Mt 28.5-7; Mc 16.7). Eles, no entanto, não conseguiram crê-lo. Jesus teve que manifestar-se a eles, pessoalmente, no dia da Páscoa, à tardinha (Lc 24.36), e repreendeu a incredulidade deles (Lc 24.36-43). Mas Tomé não estava com eles. Ele chegou mais tarde. Os discípulos lhe disseram: Jesus ressuscitou e apareceu e comeu conosco. Ele não acreditou. O que fazer? Ir para a Galileia sem Tomé? Não! Eles permaneceram ainda uma semana em Jerusalém. Provavelmente pedindo que Jesus aparecesse a Tomé. No primeiro dia da outra semana, Tomé estava com eles. Jesus lhes apareceu. Chamou a Tomé e repreendeu sua incredulidade. Então seguiram, no outro dia, para a Galileia, onde Jesus apareceu a eles durante 40 dias e os instruiu. Como é difícil crer na ressurreição. Quantas dúvidas a respeito já se passaram na nossa mente. Nossa razão se opõe. Assim como Jesus convenceu seus discípulos, o Espírito Santo convence, ainda hoje, as pessoas. Ele convenceu a nós e nos levou a crer. Por isso, confessamos no Credo Apostólico: Creio na ressurreição da carne.

     Certa feita, ao oficiar um sepultamento no Cemitério Luterano em Porto Alegre, RS, fui ver se a sepultura estava em ordem. O coveiro estava dando os últimos retoques. Quando ele me viu, ele me disse: “Pastor! Veja a lápide. Aqui já foram sepultadas seis pessoas. Abri a cova e, veja, não encontro mais nada. O senhor acredita que no dia do juízo final vão sair daqui essas sete pessoas?”. “Sim!”, respondi. “Porque Deus o diz”. Ele, que criou tudo do nada, o fará. E será como Jó o disse: Será a minha pele e serão os meus olhos, e não outros (Jó 19.25-28). Não sei explicar, mas sei que será assim. O apóstolo Paulo dá ainda mais alguns detalhes: “Pois assim também é a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscita em honra. Semeia-se em fraqueza, ressuscita em poder. Semeia-se corpo natural, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual” (1Co 15.42-44). Nosso corpo será tão perfeito e bonito como nós nunca nos imaginamos. Que Deus, em sua graça, nos firme nesta fé.

     No período quaresmal cantamos, em lugar de Glória, o hino: Ó Cordeiro inocente, / sobre o madeiro morrendo, / em extremo paciente, / desprezo e dores sofrendo, / os crimes tu pagaste / e assim me resgataste. / Sê compassivo, Jesus Cristo! (HL 91.1); e voltamos a entoar de todo o coração o Glória in ExcelsisLouvor e glória ao grande Deus! / De graça e por bondade / do mal liberta os crentes seus / por toda a eternidade. / Em nós o Pai dos céus se apraz, / agora reina santa paz; / cessou a adversidade (HL 231.1).  

      Jesus, por sua morte e ressurreição, não nos conquistou somente o perdão dos pecados e a libertação de nossos inimigos: pecado, morte e Satanás, mas também a nossa comunhão com Deus Pai e a certeza da ressurreição, para vivermos já agora como filhos de Deus e após a ressurreição dos mortos, no novo céu e na nova terra, em comunhão e felicidade com Deus, para toda a eternidade. 

   Horst Kuchenbecker 

Pastor emérito

São Leopoldo, RS 

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