Consumismo homicida 


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17/07/2020 #Reflexão #Editora Concórdia

Em 2013 o desabamento de um prédio de três andares onde funcionava uma fábrica de tecidos em Bangladesh, que levou a vida de mais de mil pessoas, mostra a voraz ganância humana.

Consumismo homicida 

             O desabamento de um prédio de três andares onde funcionava uma fábrica de tecidos em Bangladesh, que levou a vida de mais de mil pessoas, apresenta de forma brutal a voraz ganância humana. A tragédia, ocorrida no final de abril de 2013, também revela o lado obscuro da indústria internacional de roupas, já que muitas destas fábricas na Índia e arredores produzem peças para marcas famosas vendidas em todo o mundo, especialmente na Europa. Como disse um jornalista, “trata-se de um sinal, para os críticos, de que o ‘boom de roupas’ ultrapassou os limites, na tentativa desesperadora de alimentar o apetite do Ocidente por vestimentas mais baratas”.

            No entanto, não são apenas prédios que estão desabando com o desenfreado consumismo; o próprio planeta Terra está sucumbindo. Em 5 de junho comemoramos o Dia Mundial do Meio Ambiente. Nesse dia é bom lembrar que boa parte dos problemas ambientais estão relacionados ao consumismo. Para o presidente do Instituto Worldwatch, uma ONG que se preocupa com a sustentabilidade do planeta, “o aumento mundial do consumo ajudou a satisfazer necessidades básicas e a criar emprego. Mas à medida que avançamos no século 21, esse apetite consumista nunca antes verificado está corroendo os sistemas naturais dos quais todos dependemos, e tornando ainda mais difícil para os pobres do mundo satisfazer suas necessidades básicas”.

            Para termos uma ideia, nos últimos anos, cerca de dois bilhões de pessoas em todo o mundo engordaram a “classe consumidora” – grupo de gente que se alimenta de produtos altamente processados, habita em casas maiores, possui mais carros, tem estilo de vida devotado ao acumulo de bens não essenciais e está endividada. Muitos desses consumidores moram nos países em desenvolvimento, a exemplo da Índia, China e também do Brasil. Isto não seria um problema ambiental, se não fosse o lixo produzido e o extermínio dos recursos naturais. Calcula-se que estamos consumindo praticamente um planeta e meio em 12 meses. Neste ritmo, em 2030 precisaremos de duas Terras para atender a nossa demanda anual, ou seja, vai faltar água, comida, ar para respirar e todos os outros recursos naturais.

            Nós sabemos que o problema está na raiz, o pecado. “Vocês querem muitas coisas”, acusa Tiago na sua carta, “mas, como não podem tê-las, estão prontos até para matar a fim de consegui-las”. Esta ganância homicida sempre existiu desde que o mundo é mundo, mas nestes tempos com tantas coisas para consumir, a propaganda tem despertado este mal de forma perversa e intensa. Exemplo recente é o caso do leite adulterado na indústria gaúcha, tudo pelo lucro e nada pela saúde da população. Mas, e a infinidade de coisas enlatadas e processadas que consumimos? O que é legítimo e o que é adulterado? A absurda corrupção e desonestidade de empresários, governos e políticos têm mostrado que nada mais é confiável, nem o leite das criancinhas.

            “Não vivam como vivem as pessoas deste mundo”, já dizia Paulo num tempo sem os produtos industrializados. Mas a raiz do mal já estava lá, com as mesmas consequências dos problemas atuais. Por isto, o mesmo remédio: “Deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês” (Romanos 12.2). Sabemos que não se trata de uma mudança cultural, moral, ética ou ambiental. É espiritual, mas o veículo está na mente. Estudos indicam que o consumismo tem aumentado com a propaganda no mundo virtual, colocando a internet em primeiro lugar. A mente das pessoas, especialmente dos jovens, está presa sob os efeitos constantes da internet, e, por isto, nenhuma surpresa pela degradação moral e social, já que boa parte no mundo virtual é pior que o leite fraudado com formol.

            O que podemos fazer? A primeira coisa é seguir o convite de Jesus: “Ponham em primeiro lugar o Reino de Deus” (Mateus 6.33). Diz isto após tratar dos perigos das riquezas, ou seja, do consumismo. Lembra para não nos preocuparmos com comida, roupas, bens materiais, e promete que nada disto nos faltará. “O Pai de vocês, que está no Céu, sabe que vocês precisam de tudo isto”, tranquiliza o Salvador. Este é o primeiro passo, confiança em Deus que entregou o seu filho e não nos deixará sem as coisas materiais (Romanos 8.32). O passo seguinte é obedecer à vontade de Deus, os seus mandamentos (Mateus 6.33), longe da ganância, da desonestidade, da corrupção e das falcatruas. E, por fim, não esquecer da responsabilidade ambiental, que aliás é a primeira ordem de Deus, antes mesmo do pecado: cuidem do jardim (Gênesis 2.15).

            Diante de tantos desabamentos, tragédias e crimes, nunca foi tão oportuno o recado de Jesus: "Prestem atenção! Tenham cuidado com todo o tipo de avareza porque a verdadeira vida de uma pessoa não depende das coisas que ela tem, mesmo que sejam muitas" (Lucas 12.15).

Marcos Schmidt

Pastor da IELB marcos.ielb@gmail.com

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