Sob
o título acima, foi publicado no Jornal Zero
Hora, RS, em 4 de maio de 2014, uma longa reportagem alertando sobre o
problema da ingestão de bebida alcoólica pelos adolescentes. O assunto preocupa
a todos, mas especialmente, pais e educadores. “Meu filho não bebe”; “Minha
filha só toma um golinho”; “Ele sabe o limite”. Estas afirmações foram ditas
por mães cujos filhos cumprem uma rotina de, nos fins de semana, irem para a
balada. A notícia mostrou como esses adolescentes, com idades entre 13 e 15
anos, ludibriam seus pais, rotulando-os de ingênuos por desconsiderarem suas
transgressões que cometem longe das vistas deles, quando saem à noite para
encontrar-se com amigos em bares e danceterias. “Eles sabem que eu bebo, mas
não imaginam o quanto”, foi a confissão de um deles. O Jornal mostra um retrato
dos exageros frequentes nas noites de Porto Alegre, a capital que, segundo
pesquisa, lidera o consumo de bebida alcoólica por adolescentes no país.
Dados estatísticos
Segundo
pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada
em 2013, Porto Alegre é a capital brasileira campeã no consumo de álcool entre
estudantes de 13 a 15 anos do 9º ano do Ensino Fundamental. O estudo ouviu
1.455 alunos em 52 escolas.
36,7%
dos entrevistados consumiram bebida alcoólica nos 30 dias anteriores.
81,9%
das meninas já haviam experimentado álcool. Entre meninos, o percentual foi de
75,3%.
Em Florianópolis,
a segunda colocada, o índice foi de 34,1%. Os menores percentuais foram
encontrados em Belém (17,5%) e Fortaleza (17,4%). A média brasileira foi de
26,1%.
Pesquisa
com 2 mil estudantes mostra como começa o consumo do álcool. O primeiro contato
com o álcool e cigarro costuma ocorrer aos 13 anos.
35,3%
dos alunos afirmam terem experimentado bebida pela primeira vez na casa de
amigos.
Para
28,7% o gole inicial foi em casa, com pessoas do convívio diário. O consumo
abusivo é mais frequente entre meninos.
70,2%
deles relataram episódios de uso excessivo de bebida. 39,2% das meninas
praticaram o binge drinking (beber
grande quantidade em curto período) no mês anterior à pesquisa.
O
que mais preocupa nesta pesquisa é que 47% dos pais nunca conversaram com os
filhos, ou falaram pouco, sobre as consequências do uso de bebidas.
Motivos apresentados
O
que leva os adolescentes a ingerir bebida alcoólica? Acredito que a curiosidade
seja o principal fator. A pressão pelo primeiro gole é fator preponderante para
experimentar o álcool. A reportagem cita um exemplo bem comum. Fala de uma
menina chamada Giovana, que sempre foi a “certinha” da escola. Transcrevo, a
seguir, uma parte da reportagem: “Enquanto os colegas aprontavam desde os 13
anos, levando doses de bebidas alcoólicas escondidas para festas em tubos de
Cepacol, ela e suas amigas mais próximas se orgulhavam de não precisar beber
para se divertir.
Mas
à medida que o tempo passava, a curiosidade aumentava. Giovana queria entender
que sensação era aquela, que fazia com que os colegas parecessem aproveitar bem
mais a festa do que ela.
No
final de 2013, aos 15 anos, decidiu que era hora de experimentar. A
oportunidade surgiu numa formatura de oitava série. Como de costume, o pai de
uma das amigas deu carona até a festa. Só que, em vez de entrarem no clube, ela
e outras duas amigas se dirigiram a um posto nas redondezas. Chegando lá,
compraram vodca.
-
Vocês estão bebendo, não vão entrar na festa – repreendeu.
As
três meninas se olharam. Chegaram a hesitar.
-
Ah, mas eu já tô aqui, já fiz o que minha mãe disse para eu nunca fazer, que
era sair da festa, então vou beber – raciocinou Giovana.
Ao
experimentar a vodca diluída em energético, Giovana sentiu repulsa. Achou o
gosto ruim.
-
Não tem jeito de fazer isso mais rápido? – perguntou aos colegas que as
acompanhavam.
-
Só se tu tomar pura.
Giovana
não teve dúvida. Virou um copo de vodca em “gute-gute”.
Enquanto
bebiam na calçada, uns conhecidos passaram por ela e zombaram.
-Ih,
isso aí nem pega.
Sentindo-se
desafiada, Giovana virou o segundo copo.
Enquanto
voltavam para o clube, começou a sentir tonturas.
-Ah,
não te faz – duvidaram as amigas, que haviam bebido o destilado com energético.
Ao
chegar na festa, a tontura só piorou, foi para um canto e encontrou um colega
em estado parecido.”
Como
terminou esta história? Conta-se que horas depois, a mãe levou um choque quando
a filha abriu a porta de casa pedindo perdão.
-
“A gente sempre acha que na casa da gente não vai acontecer. Mas a pressão do
grupo é muito grande – constatou a mãe.”
Desconhecimento dos riscos
Um
fato agravante é o desconhecimento dos riscos que correm esses adolescentes com
a ingestão do álcool. Eles vão muito além do que um simples porre. Muitos se
enganam ao pensar que os efeitos do álcool no organismo se esgotam quando acaba
o porre. Diz-se que, especialmente entre os adolescentes, o risco é maior,
porque nesta fase o cérebro está em um período crucial de formação – e o álcool
pode comprometer esse desenvolvimento.
O
risco de se tornar um alcoólatra é muito grande. De acordo com a reportagem de Zero Hora, uma pesquisa realizada pelo National Institute on Drug Abuse, dos
Estados Unidos, mostrou que 15,2% dos que começam a beber aos 14 anos tendem a
desenvolver o alcoolismo, enquanto que entre os que esperam até os 21 anos ou
mais, o índice é de 2,1%.
O
psiquiatra do Hospital de Clínicas Thiago Pianca, especialista em crianças e
adolescentes, diz que a relação é química. Segundo ele, no cérebro adolescente,
o córtex pré-frontal, responsável pelo autocontrole, ainda não está totalmente
formado. Com o uso de álcool, pode nunca se desenvolver. Já o circuito de
recompensa, associado ao prazer, está plenamente desenvolvido nesta idade.
Como deu para perceber, não se
trata de um problema qualquer, pois ao tornar-se um alcoólatra, aquele
adolescente, em tão pouca idade, engrossará as fileiras dos que estarão à mercê
de um vício não tão fácil de ser controlado. Isso trará grandes dores de cabeça
não só para ele, mas também para seus pais, e, extensivamente, à sociedade,
pois sabemos que o álcool é um dos grandes vilões causadores de mortes no
trânsito. Sem falar que ele é uma das causas de desestrutura familiar, e seu
consumo em excesso é prejudicial à saúde.
Medidas
preventivas
É preciso tomar algumas medidas de
prevenção. Proibir os adolescentes de ir à balada e de experimentar o primeiro
gole é a melhor solução? Talvez, não. É sempre bom lembrar que quanto mais se
proíbe, mais desafiados e seduzidos estarão a desobedecer e a fazer a primeira
experiência.
Infelizmente, vivemos numa época
em que a maioria das pessoas pensa que a Palavra Deus precisa se adequar aos tempos
pós-modernos, de novos costumes e novas ideologias, quando é totalmente o
inverso. Largar-se um pouco não faz mal a ninguém, dizem. O apóstolo Paulo nos
recomenda dizendo: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos
pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).
Por isso, buscar a orientação em Deus e sua Palavra é imprescindível para a boa
formação cristã dos adolescentes e jovens. A Igreja precisa estar atenta e
oferecer um bom programa de educação e orientação cristã para eles. Isto já
começa na escola dominical, ensinando os pequeninos a amar e a respeitar a Deus
(Pv 22.6; 2Tm 3.15), a conhecer cada vez melhor o Salvador Jesus, sua vontade e
seu amor. A sequência do ensino é a Instrução de Confirmandos que, a meu ver,
não pode ser negligenciada ou realizada de qualquer jeito só para cumprir uma
agenda. Todavia, esta precisa ser tomada muito a sério, pois é ali, com seu
pastor, que os adolescentes poderão se aprofundar de maneira mais sólida nos
ensinos bíblicos cristãos. Tendo uma boa base bíblica, certamente terão prazer
em participar da união juvenil, onde se construirá uma boa liderança leiga.
Entretanto, tudo isso pode ir pelo
ralo se em casa, na família, não houver diálogo franco e aberto sobre os
perigos do alcoolismo e, acima de tudo, não houver o exemplo dos pais. Estes
precisam tomar as rédeas nas mãos, pois se não ensinarem a seus filhos bons
valores éticos e cristãos, o mundo se encarregará de fazê-lo a seu modo, o que
será muito doloroso. É preciso dedicar tempo para estar mais junto deles,
especialmente não descuidar dos momentos devocionais em família; orar junto com
eles e por eles. É importante saber com quem o filho anda, conhecer seus
amigos, seus costumes, determinar a que horas deve estar de volta em casa,
cuidar o que anda vendo na Internet, ou seja, estabelecer disciplina e limites.
Sabemos, no entanto, que isso não é
tarefa fácil; o que sabemos é que Deus prometeu dar forças e coragem para criarmos
e educarmos nossos filhos em seus caminhos. E prometeu estar sempre com seus
queridos e amados filhos, por quem entregou seu Filho amado para nos dar o
perdão dos nossos pecados, vida e salvação. Em seus meios da graça, Palavra e
Sacramentos, encontramos a força necessária para cumprir nossa missão de pais e
educadores cristãos.
Que
Deus abençoe a todos ricamente!
Argentino
Hélio Ahnert
Pastor
na Congregação Cristo Redentor de Viamão, RS
*Texto publicado na edição de agosto de 2014 do Mensageiro Luterano.