À medida que o tempo passa nos
deparamos com diferentes situações que nos levam a refletir e tomar um posicionamento.
Dentre estas, quero destacar as mudanças de comportamento nos campos social, ético,
filosófico e religioso. Uma característica do tempo moderno que vem se
acentuando é o fato de que as pessoas estão em busca do prazer individual, num
processo de introjeção, desacreditando de valores que eram referência e que até
então definiam os pensamentos de cada um. Vive-se num certo relativismo e
subjetividade. Mesmo assim, o indivíduo tem diante de si a necessidade de se posicionar
frente às tendências que vêm surgindo. É
cada vez mais comum a pessoa abrir mão dos seus valores a fim de adaptar-se ao
novo momento, à nova onda de comportamentos, com dúvidas se tomou ou não a
melhor decisão e em que sentido isto pode ferir os seus princípios morais,
éticos e espirituais construídos até aqui. Diante
deste contexto de transformação e novas tendências da moralidade, que postura
devemos tomar? Esta questão irá nos acompanhar nas linhas a seguir.
Partimos de um pressuposto de que
vivemos dentro de um contexto familiar/social conservador (tradicional), mesmo
em meio aos grandes avanços tecnológicos do século 21. Por maiores que sejam as
aberturas que os pais têm diante das mudanças, o seu perfil de educação
continua sendo conservador. Podem não alcançar os resultados esperados, mas a
linha de atuação é de preservação dos princípios recebidos dos mais antigos. Consideramos
a nossa família o local de encontro das pessoas, com suas personalidades,
dúvidas, sonhos, mas esperamos o respeito mútuo a fim de não se perder de vista
o espaço de cada um. Estes diferentes espaços são construídos porque nossas
escolas são diferentes e os tempos também são outros, além das mudanças serem
aceleradas. Quando menciono nossas escolas diferentes, penso nas várias
gerações que compõem a família, avós, pais, filhos. É de se esperar que as
ideias sejam diferentes entre os seus membros, apesar de não estar em
questionamento a autoridade dos pais neste processo familiar, pois sua
experiência de vida é fator determinante na relação com os seus filhos.
Com este olhar vivemos as
diferentes tendências em que a sociedade está caminhando e fazemos um
contraponto com a nossa formação ou começamos a construir pontes entre o que
somos (o que acreditamos) e os movimentos que estão ao nosso redor,
independentemente se os desejamos ou não. Quando falamos em tendências, entendemos
que estas são os possíveis rumos que a sociedade aponta. A moda é um exemplo
disso. A política, outro. E os meios de comunicação, especialmente, são os
canais utilizados para ditar as regras às pessoas. Parece que tudo é novidade.
No entanto, numa rápida avaliação percebemos que nada vem de paraquedas. Ao
longo da história as coisas vão sendo construídas. Para vocês terem uma ideia
sobre este ponto, eis um exemplo: há cerca de 10 anos eram raros os notebooks,
e já se sinalizava que este seria uma “febre”. Somente quem tinha mais posse
financeira é que poderia ter um notebook. Os demais se viravam com os desktops
(torre). Hoje até os notebooks estão ficando ultrapassados, pois novos
equipamentos já surgiram e tomam o seu lugar. Isso nós chamávamos de tendência
há 10 anos.
E as tendências e possibilidades
continuam surgindo dia após dia, e começamos a nos perguntar: “Qual a dimensão
disso, onde vamos chegar e quais os desdobramentos disso para cada um de nós?”.
Ao mesmo tempo colocamos este assunto sob a ótica de Deus, convictos de que ele
tem nos dado respostas através de sua Palavra. Isto vai nos ajudar a fazer uma
leitura adequada do momento atual que vivemos e melhor balizar nossa postura.
Então, quais seriam as tendências
da (nova) moralidade? Para entendermos melhor esta pergunta precisamos definir
moralidade. O que ela vem a ser? Sua origem está na palavra moral e tem a ver também
com a ética. Só podemos falar de moralidade após compreendermos um pouco sobre
ética e moral. Estes dois conceitos nos acompanham. O que é ética? O que é
moral? Daí entendemos o que é antiético, imoral ou amoral e, ainda, moralidade,
que é o nosso foco. Estes assuntos também estão relacionados aos bons costumes.
Tudo o que se desencadeia a partir daí passa a ser a nossa visão sobre o
assunto.
Segundo o dicionário, “ética é o
estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de
qualificação do ponto de vista do bem e do mal” (Aurélio). Resumindo, é um
conjunto de valores e princípios. Não existe ninguém sem ética. A moral
(relativa aos bons costumes) é o conjunto das regras de conduta consideradas
como válidas. Moral é a prática da ética. Ela vai depender da referência ética
do indivíduo. Por exemplo, se dois homens se beijam, isso não significa que haverá
reação semelhante por parte das pessoas que os observam. Vai depender da
referência ética delas. Para uns, este comportamento pode ser normal; para
outros, uma afronta aos bons costumes. Moral é comportamento, são valores que
colocamos em prática, e a moralidade tem a ver com o caráter do indivíduo.
Estes conceitos apontam para
regras ou formas de viver em qualquer época. Para isso, são estabelecidos princípios
nos quais as pessoas se firmam (posicionam). Forma-se o caráter do indivíduo ao
longo da sua vida a fim de que este possa (ou tenha a capacidade de) se definir
diante das situações. Até este ponto penso que a nossa compreensão é tranquila,
pois compreendemos que estamos num processo de construção dos nossos valores, e
tudo o que foge do “padrão”, isto, sim, é que traz apreensão.
O que colocamos até aqui foi a
conceituação da moralidade que vai normatizar toda a nossa vida, em todos os segmentos
sociais, ou seja, a moralidade é ampla e não se reduz a um determinado aspecto.
Podemos, então, falar da moralidade em diversos campos, como por exemplo: na
política, no trabalho, na escola, na igreja, na sexualidade.
A
nossa proposta para este artigo é nos concentrarmos, nos focarmos nas questões
da família (sexualidade, homossexualismo, etc.) e lançarmos algumas questões
que precisam ser respondidas: a) pode
haver relação sexual antes do casamento (entre os namorados)? Casamento virgem?
Uso de preservativos, anticoncepcionais?
Podemos nos “ajuntar”, (o que caracteriza
a união estável), sem regularizar esta situação junto ao cartório? E o
“casamento” entre homossexuais, pode, já que a lei está sinalizando positivamente
nesta direção? Teríamos
aqui muitas outras questões que nos acompanham e que podem perfeitamente estar
dentro da nossa família. Todas elas estão relacionadas aos nossos princípios de
moralidade. E que postura tomar?
Quando menciono a respeito da
sexualidade ou da santidade do sexo é porque nós o colocamos dentro de um
padrão divino, pois também ele foi criado por Deus para dar prazer ao homem e à
mulher, além de ser o caminho para a procriação. Então, não pode ser
considerado tabu, não está errado, desde que ele seja feito dentro de um
contexto também estabelecido por Deus, o matrimônio. No momento em que Deus
entregou ao homem sua mulher, no Jardim do Éden, foi dito: “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à
sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gn 2.24). Reconhecemos que
aí está identificado o lugar do ato sexual, no matrimônio.
Mas o que percebemos é que de
uns tempos para cá a sociedade está banalizando a questão sexual, desvirtuando
o seu sentido e instigando homens e mulheres a encararem o assunto como sendo
comum, sem importância ou com desvio do foco de sua relevância, considerando inclusive
outras possibilidades de sua prática, o que em si não é nada novo. Já no Antigo
Testamento este assunto era comum ao povo de Israel. Em Dt 22.13-30 há leis a
respeito de relações ilícitas antes do casamento, de estupro e de adultério. Em
Lv 18.1-18 há leis sobre casamentos ilícitos, e em Lv 18.19-30 temos leis
contra as uniões abomináveis, tais como o homossexualismo e bestialismo
(zoofilia). Então, quando falamos em uma tendência da moralidade moderna é como
se estivéssemos vivenciando estes problemas tão antigos em nosso tempo.
A ideia de se viver a liberdade
sexual precisa ser refletida pelas pessoas. Hoje é comum a relação sexual antes do compromisso conjugal. Muitas
mães levam suas filhas ao ginecologista e pedem a receita de um
anticoncepcional, porque elas estão namorando e não querem uma gravidez precoce.
Os pais já compram preservativos para os seus filhos usarem quando tiverem um
relacionamento sexual. Os mais jovens (namorados ou não) justificam sua postura
argumentando que: a) querem adquirir
experiência, b) não querem ficar
ultrapassados em relação aos amigos, c) o
fazem por amor, ou d) todo mundo faz.
Por mais que queiramos justificar, isso é pecado. Não está no projeto de Deus.
Deus coloca o sexo pleno e realizador para o homem e a mulher dentro do
contexto do matrimônio. O apóstolo Paulo responde sobre estas questões (1Co
7.1-9) e conclui que “caso, porém, não se dominem, que se casem; porque é
melhor casar do que viver abrasado” (1Co 7.9). Sugere-se, portanto, que haja
autocontrole dos envolvidos, o que é um fruto do Espírito (Gl 5.23).
“Então vou me
ajuntar para ver o que dá”. Esta é uma alternativa que precisa ser bem pensada.
Por que vou me “ajuntar”? Quando vou fazer isso? Qual o meu plano? A fim de assegurar
mais proteção (garantias), especialmente aos filhos e à mulher, foi criada a
lei da união estável. Sobre isso também temos um parecer da Comissão de Teologia
e Relações Eclesiais (CTRE – IELB), que, entre outras palavras, recomenda aos
nubentes o seguinte: “Em se tratando de filhos de Deus, apesar do
reconhecimento do estado e da sociedade em geral, os ‘nubentes’ sempre sejam
lembrados fraternalmente de que o casamento civil honra a autoridade; dá ao
casamento um caráter público mais definido e oficial; combate a ideia de que
agora se pode casar e descasar ao bel-prazer; é um bom testemunho perante o
mundo; garante logo de início os direitos do outro cônjuge e dos filhos, pois,
pela nova lei, estes direitos apenas aparecem quando buscados e comprovados na
justiça; é uma união com compromisso comprovado e maduro, e vai muito além do
romântico ‘a gente se gosta e vai juntar os trapos’”.
Percebemos que os assuntos
relacionados à moralidade sexual vão muito além do que podemos imaginar. Até
mesmo novas leis vêm surgindo com o objetivo de adequar este mundo moderno,
dando garantias de direito às pessoas como lhes convém, como é o caso das
uniões homoafetivas. Estamos vivendo um período de ajustes, mas as tendências
nesta área também já estão sendo alinhadas, e num curto espaço de tempo estaremos
vivendo em novos contextos familiares. Diante de tudo isto, precisamos assumir
uma postura, e nada melhor do que estabelecer princípios sobre os quais nos guiemos,
ou seja:
a) Deus formou
o homem e a mulher e estabeleceu a sua união matrimonial (e sexual) no jardim
do Éden.
b) A Bíblia, ao
mencionar sobre as relações sexuais ilícitas (e abomináveis), quer preservar o
matrimônio, o casal, e torná-lo padrão para a sociedade.
c) Jovens e
pais precisam ler mais as Escrituras Sagradas e se deixarem guiar pelo seu ensino.
Desta forma lutarão contra tudo o que possa desvirtuar este assunto.
Não precisamos estar alheios às
tendências, pois elas nos acompanham dia a dia. Mas podemos balizar nossas
posturas a partir de princípios morais, éticos e religiosos que sejam um
reflexo da nossa identidade cristã. Por isso, precisamos buscar em Deus, na sua
Palavra, sabedoria e orientação em como lidar com todas as tendências, visando
um fim proveitoso para nós e para nossa família.
*Texto publicado no mensageiro
Luterano em agosto de 2013.