Quase todos têm uma experiência marcante na vida em que
pode afirmar, com voz embargada, “Neste dia eu nasci outra vez”. Quem sabe,
neste ano da pandemia, quando a morte ronda o caminho de todos de um jeito tão
impactante, depois que tudo passar, vamos dizer: “Recebemos uma segunda
chance”. É o que estamos assistindo nos relatos de centenas de pessoas que,
depois de permanecer entre a vida e a morte, saíram da UTI e sobreviveram
diante do vírus que já matou milhares de pessoas. Uma dessas histórias foi capa
do Jornal ABC, que circula no Vale do Rio dos Sinos, RS: “Deus me deu uma
segunda oportunidade de viver. Você não sai de uma experiência de quase-morte igual
como entrou”. O drama do médico Alexandre Ricciardi, que trabalha na emergência
hospitalar de Novo Hamburgo, RS, aponta para uma verdade: quem escapa da morte
dá mais importância à vida – à sua e à dos outros. Histórias assim, no entanto,
carregam um detalhe: é preciso reconhecer a “ressurreição” e acreditar na fonte
da nova oportunidade.
Diariamente recebemos chances
e nem nos damos conta. Por exemplo, a maioria de nós nem sabe o que seria viver
sem o pulmão. Outros até colocam fumaça dentro dele pelo irresistível prazer da
nicotina. Mas se alguém enfrentar situação parecida com a desse médico,
certamente dará mais valor ao que carrega no peito, mais que qualquer fortuna
no mundo. Interessante o pulmão artificial que salvou a vida do médico,
infectado pelo covid-19. É um mecanismo complexo que faz o sangue do paciente
circular fora do corpo, que depois de oxigenado por uma membrana, volta para a
pessoa, livre do gás carbônico. Assim, a tecnologia humana é a salvação. Mas
daí o detalhe testemunhado pelo médico: “Deus me deu uma segunda oportunidade
de viver”.
O apóstolo Paulo, que também
teve uma experiência de quase-morte (Atos 14.19), mais tarde confessou que
“Nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17.28), tudo para lembrar nossa total
dependência daquele que é o pulmão da vida. O rei Davi, que também escapou da
morte (1Sm 19), valorizou ainda mais a vida e reconheceu as maravilhas do corpo
humano, tanto que louvou a Deus num belo artigo de fé: “Tu criaste cada parte
do me corpo, tu me formaste na barriga da minha mãe” (Sl 139.13). São histórias
de pessoas sem o conhecimento de hoje, mas com a sabedoria que a ciência humana
não alcança. E por isso, se nas páginas da Bíblia ou em nossa vivência atual não
faltam exemplos de novas oportunidades para continuar vivendo, resta perguntar:
oportunidade para quais objetivos na vida?
A resposta a essa pergunta
depende de outra questão: “O que é vida”? Bem sabemos que a vida é muito mais
que um corpo respirando com pulmão natural ou artificial. Quem ajuda nessa
compreensão é o episódio dramático enfrentado por Lázaro, que também recebeu
outra chance, e diretamente das mãos do médico dos médicos. Antes de
ressuscitá-lo, Jesus diz para a angustiada irmã dele: “Quem crê em mim, ainda
que morra, viverá. E quem vive e crê em mim, nunca morrerá” (Jo 11.25,26). Por
essa afirmação, e por tudo aquilo que recebemos a partir do túmulo vazio do
Salvador ressuscitado, sabemos que a vida completa é o sopro divino,
restabelecido no corpo e na alma daqueles que receberam a segunda chance
através da fé cristã.
E assim, cada minuto é uma
chance para respirar a vida, um presente do céu que tem o valor da própria vida
do Filho de Deus. Histórias não faltam para inspirar.