A presença da Bíblia no culto


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16/10/2020 #Reflexão #Editora Concórdia

Na primeira parte do culto, conforme a liturgia luterana, o ponto alto é a leitura da Bíblia e a pregação ou o sermão.

A presença da Bíblia no culto

O culto cristão histórico, conforme a liturgia luterana, tem dois eixos ou pontos focais: a proclamação da Palavra de Deus e a celebração da Santa Ceia. Na primeira parte do culto, o ponto alto é a leitura da Bíblia e a pregação ou o sermão.

 

Por mais que a Bíblia esteja presente no culto também nas diferentes partes da liturgia, ela aparece de modo todo especial nas leituras. Usamos, na Igreja Luterana, juntamente com outras igrejas, a assim chamada série trienal. Como o nome diz, é uma série de leituras bíblicas para três anos. No primeiro ano, ganha destaque Mateus. No ano seguinte, Marcos. E o terceiro ano é de Lucas. O Evangelho de João é lido ao longo dos três anos, um pouco a cada ano. Assim, ao longo de três anos são lidos longos trechos dos quatro Evangelhos. Quanto ao restante da Bíblia, dos 66 livros, 59 aparecem na série trienal. Isto significa que, nessa série, sete livros bíblicos não vão ser lidos no culto da igreja: Esdras, Ester, Cântico dos Cânticos, Naum, Obadias, 2João e 3João. Nada impede, porém, que sejam lidos e estudados à parte. Que tal uma série de estudos bíblicos sobre “os esquecidos da série trienal”?

 

Com a série trienal, lê-se um bocado de Bíblia na igreja. Diz-se que membros de outras igrejas, os assim chamados “crentes”, leem muito mais a Bíblia do que membros de igrejas históricas, como a luterana. Isto pode até ser verdade, mas quando se trata de ler a Bíblia em público, a coisa não é bem assim. Não há exagero em dizer que, no culto público, lê-se mais Bíblia na Igreja Luterana, Episcopal ou Católica do que nas igrejas pentecostais.

 

            Em cada culto temos um salmo, uma leitura do Antigo Testamento, um trecho de Epístola e uma leitura do Evangelho. E a sequência não é aleatória. Ela segue um protocolo: primeiro fala o profeta, na leitura do Antigo Testamento; depois fala o apóstolo, na Epístola; e, no final, fala o próprio Senhor Jesus, no Evangelho.

 

            A leitura principal do culto sempre é o Evangelho. Em função dele é escolhida a leitura do Antigo Testamento, que faz uma dobradinha com o Evangelho do dia. Porque precisam “rimar” tematicamente com o Evangelho do dia, os textos do Antigo Testamento não aparecem em ordem fixa dos livros. Ou seja, não existe uma sequência de leituras de Isaías, por exemplo. Com as epístolas é diferente. Elas costumam aparecer em leitura contínua, ou seja, aparecem várias leituras da mesma carta do Novo Testamento em domingos sucessivos. E as leituras de Epístola não estão necessariamente conectadas com o tema das outras leituras, embora, quando menos se espera, percebe-se uma conexão. O Salmo do domingo introduz, na medida do possível, a temática do dia.

 

            Conhecer este critério para a escolha dos textos de cada domingo ajuda a ouvir (e pregar) essas leituras. Exemplificamos com as leituras de um domingo em que o tema central é a própria Palavra de Deus. Trata-se do 5º domingo após Pentecostes da série A, em que estão previstas as leituras de Salmo 65.9-13, Isaías 55.10-13, Romanos 8.12-17 e Mateus 13.1-9,18-23.

 

Embora listadas nesta sequência, a leitura que é “cabeça de chave” é Mateus 13, a parábola do semeador. A leitura do Antigo Testamento, Isaías 55, foi escolhida em função da temática do Evangelho, que afirma que a Palavra de Deus não volta vazia. E, em Isaías 55, existe uma comparação com um processo da agricultura (a terra que produz), além de uma referência ao semeador (“dar semente ao semeador”). Vê-se que a leitura de Isaías 55, nesse dia, não é acidente de percurso. Salmo 65, por sua vez, lembra que Deus torna a terra boa e rica (v. 9). Isto é verdade no âmbito natural e é verdade também no campo espiritual. Resta ver se a leitura da epístola, Romanos 8, encaixa-se nisto. Aparentemente, não. Mas, relendo o texto, percebe-se uma ênfase na ação do Espírito de Deus (algo apropriado neste período pós-Pentecostes). O Espírito nos torna filhos de Deus. Pode-se dizer que ele torna o solo bom. Assim, nosso foco não deveria ser a reflexão sobre que tipo de solo nós somos – algo que sempre é lei e tende a resultar em “legalismo” – mas que, apesar de todas as evidências em contrário – fracasso sobre fracasso,  a vinda das aves do céu, pouca umidade, espinhos –, a Palavra de Deus produz a trinta, sessenta e cem por um!

 

*Texto publicado no Mensageiro Luterano em outubro de 2014.

Vilson Scholz

Professor de Teologia no Seminário Concórdia vscholz@uol.com.br

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