Com recursos avançados, empreendedores produzem mais do que consomem,
expõem o excedente no mercado. Trocas planejadas multiplicam recursos. Máquinas
produzem temperaturas amenas em territórios tropicais. Em centros comerciais
circulam ferramentas, alimentos, abrigos, facilidades vindas de muitas partes
do mundo. Cresce o número de pessoas que viajam, aparelham-se de saberes, voltam
ricos de experiências em outras terras.
O mercado idealizado para a livre troca de produtos,
marginaliza muitos. Cresce o número de excluídos, o desenvolvimento técnico
demite operários, pessoas com vontade de trabalhar perambulam por anos em busca
de emprego. Monumentos homenageiam privilegiados, milhões definham sem o
necessário para viver. A morte leva corpos debilitados.
Cristo é abordado por um homem rico, orgulhava-se de vida limpa
e disciplinada (Mc 10.17-22). Presente e passado estavam seguros. Como garantir
o futuro? Se a morte não é o fim, como enfrentar confiante o que virá depois?
Preocupações dessa natureza levam o homem bem-sucedido a Jesus. A sorte de
pessoas menos favorecidas não o inquieta, dobra-se diante do Mestre levado por
projetos individuais. O homem afortunado chama Cristo de bom, espera “bom” como
resposta. Contra suas expectativas, Jesus lembra que só Deus é bom. É uma
declaração de significado geral, criatura nenhuma iguala ou supera o Criador. Pedagógicas
são as palavras de Jesus, o Mestre deseja que o homem, obediente a mandamentos,
comece a refletir.
Cristo propõe um novo modo de pensar. Como seria a vida se o
centro de interesse não fosse individual? A existência inteira do homem rico
está em jogo: presente, passado e futuro. Repensar valores é a carga que pesa
sobre os seus ombros. Consideremos a atividade de Deus. Deus se manifesta como
criador. O universo é dádiva de Deus. Se a virtude divina prospera em dar, quem
acumula para si interrompe a dádiva. Acumular, o contrário de dar, não pode ser
declarado bom. Não haveria um equívoco fundamental no comportamento do homem
que se aproxima esperançoso? Que recursos poderiam garantir segurança futura? Riquezas
produzidas no tempo desgastam-se no tempo, como poderiam valer para a
eternidade? Se Deus exaltasse homens industriosos poderia ser considerado
justo?
Marcos diz que Jesus amou o homem preocupado com o futuro. Amar
é dar, Jesus sacrificou a vida para que tivéssemos vida. O aquinhoado está
diante de alguém que confere poder, poder que transforma vidas, que acende
esperanças. Sacrificar a vida estava longe das intenções do homem próspero, ele
não estava disposto a se desfazer de seus bens, eram muitos. A fortuna, em
lugar de lhe ser útil, crescia como obstáculo, impedia aproximar-se de Deus, de
Jesus, da vida eterna. O homem rico que se afasta decepcionado, priva-se do
prazer de dar e do prazer de receber.
Temos muito a dar. Somos ricos em informações, em projetos, em
afeto, em maneiras de amparar. Riquezas requerem administração sábia.
Seguidores de Cristo são benéficos a vida inteira. Sempre seremos pobres em
algo; sem amparo, viveremos dias amargos. No aprender a dar experimentamos o
prazer de receber. No receber e dar estabelece-se a rede da confraternização
universal.
Se
estendemos a mão a necessitados, podemos contribuir para que a vida seja
melhor. Como cooperadores de Deus, experimentamos a alegria de dar, de criar.
Quem dá transforma necessitados em agentes, ergue debilitados à condição de
criadores. O progresso do povo de Deus promove a riqueza de todos.