Onde encontrar prazer?


20/10/2020 #Reflexão #Editora Concórdia

Como seria a vida se o centro de interesse não fosse individual?

Onde encontrar prazer?

        Com recursos avançados, empreendedores produzem mais do que consomem, expõem o excedente no mercado. Trocas planejadas multiplicam recursos. Máquinas produzem temperaturas amenas em territórios tropicais. Em centros comerciais circulam ferramentas, alimentos, abrigos, facilidades vindas de muitas partes do mundo. Cresce o número de pessoas que viajam, aparelham-se de saberes, voltam ricos de experiências em outras terras.

         O mercado idealizado para a livre troca de produtos, marginaliza muitos. Cresce o número de excluídos, o desenvolvimento técnico demite operários, pessoas com vontade de trabalhar perambulam por anos em busca de emprego. Monumentos homenageiam privilegiados, milhões definham sem o necessário para viver. A morte leva corpos debilitados.

         Cristo é abordado por um homem rico, orgulhava-se de vida limpa e disciplinada (Mc 10.17-22). Presente e passado estavam seguros. Como garantir o futuro? Se a morte não é o fim, como enfrentar confiante o que virá depois? Preocupações dessa natureza levam o homem bem-sucedido a Jesus. A sorte de pessoas menos favorecidas não o inquieta, dobra-se diante do Mestre levado por projetos individuais. O homem afortunado chama Cristo de bom, espera “bom” como resposta. Contra suas expectativas, Jesus lembra que só Deus é bom. É uma declaração de significado geral, criatura nenhuma iguala ou supera o Criador. Pedagógicas são as palavras de Jesus, o Mestre deseja que o homem, obediente a mandamentos, comece a refletir.

         Cristo propõe um novo modo de pensar. Como seria a vida se o centro de interesse não fosse individual? A existência inteira do homem rico está em jogo: presente, passado e futuro. Repensar valores é a carga que pesa sobre os seus ombros. Consideremos a atividade de Deus. Deus se manifesta como criador. O universo é dádiva de Deus. Se a virtude divina prospera em dar, quem acumula para si interrompe a dádiva. Acumular, o contrário de dar, não pode ser declarado bom. Não haveria um equívoco fundamental no comportamento do homem que se aproxima esperançoso? Que recursos poderiam garantir segurança futura? Riquezas produzidas no tempo desgastam-se no tempo, como poderiam valer para a eternidade? Se Deus exaltasse homens industriosos poderia ser considerado justo?

        Marcos diz que Jesus amou o homem preocupado com o futuro. Amar é dar, Jesus sacrificou a vida para que tivéssemos vida. O aquinhoado está diante de alguém que confere poder, poder que transforma vidas, que acende esperanças. Sacrificar a vida estava longe das intenções do homem próspero, ele não estava disposto a se desfazer de seus bens, eram muitos. A fortuna, em lugar de lhe ser útil, crescia como obstáculo, impedia aproximar-se de Deus, de Jesus, da vida eterna. O homem rico que se afasta decepcionado, priva-se do prazer de dar e do prazer de receber.

        Temos muito a dar. Somos ricos em informações, em projetos, em afeto, em maneiras de amparar. Riquezas requerem administração sábia. Seguidores de Cristo são benéficos a vida inteira. Sempre seremos pobres em algo; sem amparo, viveremos dias amargos. No aprender a dar experimentamos o prazer de receber. No receber e dar estabelece-se a rede da confraternização universal.

Se estendemos a mão a necessitados, podemos contribuir para que a vida seja melhor. Como cooperadores de Deus, experimentamos a alegria de dar, de criar. Quem dá transforma necessitados em agentes, ergue debilitados à condição de criadores. O progresso do povo de Deus promove a riqueza de todos.

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Donaldo Schüler

Professor emérito e escritor donaldoschuler@yahoo.com

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