Certa
vez vi uma imagem que falava a respeito da criatividade. A imagem era a de um
senhor de idade avançada, cabelos brancos e com roupas típicas de vovô, com
suspensório e chapéu. Ele estava abaixado, à beira de um lago, rodeado por um
bosque colorido e espelhado por um belo céu azul. De joelhos, à beira do lago,
aquele homem observava seu reflexo na água cristalina. Mas o que ele via não
era um rosto marcado por rugas e pelos sofrimentos da vida, mas um jovem
menino, de roupas coloridas, com um olhar brilhante e cheio de vida. Aquele
velho homem enxergava a si mesmo ainda como um menino, que não fora engolido
pelo tempo, mas que o tinha acompanhado durante toda a vida como um ser curioso
e criativo, sonhando acordado em pensamentos e viajando longe através da
imaginação. O ser criativo é aquele que não deixar morrer a criança sonhadora
que todos nós já fomos um dia, é não deixar o mundo adulto das pressões e
tensões sufocar o mundo de imaginações de uma criança.
Também podemos observar nosso rosto, seja no espelho ou no
reflexo em um lago. E o que veremos não são apenas as marcas que as décadas nos
deram, mas aquela velha criança que ainda vive em nós. E não pense que estou
falando apenas do ser criativo ou que, até certo ponto, via a vida com certa
inocência. Mas falo especialmente daquela criança que era teimosa, repleta de
medos e apreensões, que precisava de colo e de cuidados. Precisamos confessar:
esta velha criança ainda vive em nós. A diferença é que a vida adulta nos
ensinou a segurar o choro, a controlar as palavras e a disfarçar a teimosia de
sempre.
Com este mesmo olhar daquela velha criança, somos convidados
a apreciar o que Jesus no diz em Mateus 18.1-5. Se alguém esperava que o
Salvador relacionasse o ser grande no reino do céu com uma figura cheia de
poder e autoridade, ficou espantado ao ver ele colocando uma criança como
exemplo de grandiosidade no reino de Deus. “A pessoa mais importante no Reino
do Céu é aquela que se humilha e fica igual a esta criança”, disse Jesus. Lembremo-nos
que ele tem diante de si uma criança dos tempos bíblicos, que tinha uma realidade
precária dentro da sociedade. Em suma, era um pequeno ser totalmente dependente
dos cuidados, dos ensinamentos e da atenção de alguém. Era alguém sem nada a
oferecer, mas com tudo a receber.
Ao olhar o reflexo do nosso rosto, continuamos vendo uma
amada criança crescida de Jesus. Mesmo que os sinais da idade tenham
transformado o rosto, o coração continua sendo o daquela velha criança diante
do Senhor Deus. Birrenta, teimosa, pecadora e que quer sempre tudo para si. Tem
vontade de chorar quando não ganha as coisas que quer. Sente medo e solidão.
Observando o reflexo daquela velha criança que vive em nós,
reconhecemos alguém que continua totalmente dependente dos cuidados de Deus. Precisamos
de alguém que ensine a viver a vida, que ofereça colo nos dias de medo, que
ouça nossas belas histórias ou que, simplesmente, acalme nosso coração em meio à
dor. Pelo batismo, fomos tornadas eternas crianças de Jesus, que nada temos a
oferecer – a não ser culpas, medo e pecado. E, mesmo assim, somos crianças que
ganham o presente mais colorido, fascinante e aguardado: a vida eterna
conquistada por Cristo Jesus. Lá, sim, todas as crianças brincarão eternamente
sob o olhar do Salvador.
Bruno Krüger Serves
Pastor em Candelária, RS