Como
será o Natal 2020? Essa pergunta foi feita nas famílias que costumam se
encontrar nessa data, nas igrejas que organizam programações especiais, nos
shoppings que fazem do Natal o maior evento de vendas do ano.
Como será o Natal 2020? Esse tempo de pandemia revirou
a rotina do mundo, mudou costumes, alterou programações e revisou valores. Um
vírus invisível mostrou que posição social, dinheiro, bens não têm o valor que
lhes eram dados. Fomos desafiados a dar mais valor às pessoas do que às coisas,
invertendo a grande tentação dos natais que é valorizar mais as coisas do que as
pessoas, transformando o Natal numa festa de solidão, saudade e depressão.
Como será o Natal 2020? Poderá ser uma festa
inesquecível se prestarmos mais atenção ao mensageiro do primeiro Natal: “Não
tenham medo! Estou aqui para lhes trazer boa-nova de grande alegria, que será
para todo o povo: é que hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é
Cristo, o Senhor” (Lc 2.10-11).
Aglomeração
Como foi o
primeiro Natal? Ele foi marcado por aglomerações em todo o Império Romano
provocadas por um decreto governamental que obrigava a população a um recenseamento
no seu local de origem. O evangelista Lucas registra alguns detalhes: “Naqueles
dias, foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do
Império para recensear-se. Este, o primeiro recenseamento, foi feito quando
Quirino era governador da Síria. Todos iam alistar-se, cada um à sua própria
cidade” (Lc 2.1-3). Lucas não conseguiu precisar a data desse decreto, e esta falta de informação provocou longas discussões a ponto de não se saber com exatidão a data do nascimento de Jesus, festejada no mundo
ocidental em 25 de dezembro.
A aglomeração
que esse decreto provocou fez-se cumprir uma profecia há muito registrada (Mq
5.2), de que o Messias nasceria na cidade de Davi. Lucas continua sua
narrativa: “José também saiu da Galileia, da cidade de Nazaré, e foi para a
Judeia, até a cidade de Davi, chamada Belém, por ser ele da casa e família de
Davi, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida” (Lc 2.4,5).
E assim, depois do desconforto de uma viagem de 156 quilômetros no lombo de um
burro para uma mulher com gravidez avançada, esse casal não encontra lugar para
descanso.
Isolamento
Como foi o
primeiro Natal? Lucas registra assim: “Então Maria deu à luz o seu filho
primogênito, enfaixou o menino e o deitou numa manjedoura, porque não havia
lugar para eles na hospedaria” (Lc 2.7). O jeito foi o isolamento social. Ali, distante da multidão, no silêncio da noite, na companhia de alguns animais, nasceu uma criança há muito prometida: “Eis que a virgem
conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel” (Is 7.14). O “Verbo que era Deus” (Jo 1.1), no útero de Maria, se torna uma criança recebendo um corpo como o de Adão e, assim, nossa carne e ossos são colocados sobre ele.
“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14).
Em algum campo
nas cercanias de Belém, isolados socialmente, alguns pastores que cuidavam de
seus rebanhos ouviram algo extraordinário quando o silêncio da noite foi
quebrado pela voz do anjo que anunciou a boa notícia da salvação: “É que hoje,
na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2.11). Ainda
ecoava o cântico dos anjos quando esses pastores resolveram conferir a
veracidade dessa informação. Eles encontraram Maria, José e o menino Jesus numa
manjedoura e “voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham
ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado” (Lc 2.20).
Os magos do
Oriente, que vieram de longe (certamente alguns dias depois) para o primeiro
Natal, também encontraram a família natalina em isolamento. Ninguém sabia
informar o que perguntavam: “Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque
vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo” (Mt 2.2). Foi preciso a
estrela luminosa aparecer novamente para encontrarem o menino Jesus. “Entrando
na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e,
abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra”
(Mt 2.11).
Todas as cenas
do primeiro Natal são marcadas por certo isolamento, quebrado apenas pela chegada
de visitantes que queriam conhecer o Menino. José e Maria, com a vinda do novo
componente familiar, se veem envolvidos por um mistério que ia muito além de
sua percepção e inspirava Maria a guardar essas palavras, meditando-as no
coração (Lc 2.19).
Mantenha o distanciamento
Como será o Natal 2020? Memorizamos, nesses tempos de pandemia, as principais orientações das equipes
de saúde: lave bem as mãos, use máscara, evite aglomeração! Mas como festejar o Natal sem aglomeração se o primeiro comercial que recebi para este Natal diz: “Nesse Natal, o melhor presente é estarmos juntos”?
Imagino que esse desafio poderá transformar o Natal 2020 numa celebração inesquecível, mesmo que seja necessário manter o distanciamento
social. Se não for possível a realização dos tradicionais programas de Natal, que costumam encher as igrejas com a participação dos que vão só nessa data, a tecnologia nos permite elaborar cultos e programas on-line para celebrar o Natal na intimidade
da família, sem aquela agitação marcada por tarefas e correrias intermináveis que, no final, só trazem o estresse e a canseira.
Li em algum
lugar uma frase parecida com esta: “Faz tanto tempo que aconteceu o primeiro
Natal que nem parece mais verdade”. Foi uma expressão que mexeu com meus
sentimentos e me reportou para os programas de Natal da minha infância, onde a
história do primeiro Natal era revivida. Lutero disse que a Bíblia é o berço
onde dorme o menino Jesus. Nas histórias bíblicas, que aprendemos desde
crianças, encontramos o Salvador que se fez homem e veio ao mundo para nele
termos perdão, vida e salvação.
Portanto, a
notícia do anjo dada aos pastores de Belém é também para nós. Em Jesus, Criador
e criatura estão juntos numa só pessoa para nos salvar. Recontar essa história
do amor de Deus e refletir sobre o seu significado traz sentido não só para a
festa do Natal, mas para a nossa vida de fé e esperança, como presentes que não
se compram nos shoppings e nem se conseguem com a própria força. São dados pela
ação do Espírito Santo e tomam conta do nosso coração.
O Natal é a
história do amor de Deus. É esse amor que torna as pessoas mais solidárias e
sensíveis, pois quando Deus se enrola em panos por nossa causa, é porque ele
nos quer junto de si. Recontar essa história na intimidade familiar e no
distanciamento social exigido pelo momento, pode revigorar nossa esperança e fazer
do nosso Natal 2020 uma celebração inesquecível. Por isso, hoje e sempre: FELIZ
NATAL!
Edgar Lemke
Pastor na Comunidade
da Cruz
Porto Alegre, RS
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