Como falar a pessoas, se não temos tempo para ouvir o que elas têm a dizer?
Vocês são a luz do mundo (Mt
5.14). Jesus fala a pessoas como eu. Como poderia eu iluminar o mundo, se,
quando entro em mim mesmo, passo por corredores escuros, bato em portas
fechadas, encontro fraqueza, medo, tristeza, angústia, incertezas? A luz não é
de holofotes, não brilha em estádios, frágeis são as luzes que portamos, velas.
Vela a gente leva na mão, a vela ilumina o chão em que pisamos, permite
enxergar as paredes que nos rodeiam, destaca as fisionomias que nos rodeiam.
Não
vem de nós a luz da vela que nos ilumina. Antes de levar luz ao mundo, somos
iluminados. Jesus acende a vela; sem ele, a mecha não brilha. Não nos assustem
deficiências. Jesus, instalado num monte, dirige-se a pobres, a deserdados, a
perseguidos, a pessoas distantes de familiares, a indivíduos sem terra, sem pátria.
Somos muitos, portadores de velas vivem espalhados em toda parte, juntos
constituímos uma cidade. Não somos cidade qualquer. Como ocultar uma cidade da
importância de Nova York. Tóquio, Pequim, São Paulo? Cidades de importância
econômica, política, cultural. Somos cidade de Deus, cidade habitada por todos
os que foram chamados das trevas para a luz. Quem nos fala é a Palavra que deu
origem ao universo, a palavra que se fez carne tornou-se vida das nossas vidas.
A luz da cidade de Deus se forma das luzes de seus habitantes.
Abrimos
portas e janelas, entramos no mundo, encontramos gente. Como falar a pessoas,
se não temos tempo para ouvir o que elas têm a dizer? Se tivermos paciência,
ouviremos dores, incertezas, amarguras, as mesmas que se aninham em nós mesmos.
Costumes mudam, línguas se multiplicam, dores permanecem. Entramos num
turbilhão de vozes, de sentimentos. Andamos e encontramos pessoas que pensam e
sentem como nós, aprendemos a conviver com os que são diferentes.
Para
iluminar o mundo, uma casa só não basta. Se todas as casas se unirem,
produziremos um clarão global – processo
de globalização, globalização em processo, velas congregadas iluminam o mundo.
O que levar ao mundo?
Coisas que fábricas não produzem, artigos que não se encontram em estantes de
supermercados. Vive nas trevas quem se contenta com o PIB (Produto Interno
Bruto – o valor econômico de um país). As mercadorias produzidas pelas máquinas
são perecíveis e oferecidas a consumidores que perecem. Os cidadãos da cidade
edificada sobre um monte contam parábolas que animam, congregam, aliviam,
oferecem um bem que beneficia produtores e consumidores, bens que duram; mais
fortes que a morte, travessam fronteiras.
Unimo-nos em projetos que aproximam, que nos tiram da
solidão, que iluminam a vida. O conhecimento não vem inteiro nem pronto, ele se
desdobra lentamente ao ritmo dos nossos passos, diversifica-se e se multiplica
com a paisagem. Foi assim que Paulo, o divulgador da mensagem de Cristo, se fez
tudo para todos. A mensagem convoca os que ingressam para ampliar o processo de
iluminação.
A Terra é menos do que uma vela na luz universal, Deus se
preocupa com o mínimo, fomos encarregados de iluminar a Terra. Intenções não
bastam. Cristo não teve a intenção de salvar o mundo, Cristo salvou o mundo. Obras
são sentidas e vistas, fomos produzidos por boas obras, somos convidados a
produzir. Boas obras não são produto industrial, não têm valor de mercado, não engordam
depósitos bancários, boas obras produzidas por regenerados enriquecem a vida.
Fundamento de todas as boas obras é Cristo. Cristo sacrifica sua vida em
benefício de todas as vidas do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada
sobre um monte, o monte é Cristo, ergue-se no recanto em que soa a palavra da
paz.
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