O tempo de Epifania é oportuno para refletirmos sobre os desafios de ser uma Igreja Luterana Confessional no mundo de hoje
O tempo de Epifania é oportuno para
refletirmos sobre os desafios de ser uma Igreja Luterana Confessional no mundo
de hoje. Ao mesmo tempo, a IELB tem feito ações para auxiliar Igrejas Luteranas
na África.
Nesse contexto, trazemos um resumo, uma ligeira adaptação da mensagem do
presidente da Lutheran Church Missouri Synod
(LCMS), o pastor dr. Matthew Harrison, enviada à Igreja Luterana da Nigéria por
ocasião do 75º Aniversário desta Igreja em solo africano.
Os desafios do luteranismo confessional
Antes de enfrentar os desafios
presentes e futuros, é importante lembrar os que estiveram antes de nós e
enfrentaram numerosos desafios com coragem e perseverança.
Nossos dias são preenchidos com a
incerteza e o medo sobre o que o futuro reserva para nossos países, nossas
famílias e nossa Igreja. Como cristãos, no entanto, somos abençoados por saber
que nosso futuro está nas mãos do misericordioso e amado Deus e Senhor. “Rendei
graças ao Senhor, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre”
(Sl 118.1).
Em 1937, o presidente emérito
Fredrick Pfotenhauer, comentando sobre a herança missionária da Igreja Luterana
no sermão “O dever da Igreja Luterana
de ser uma Igreja Missionária”, disse: “Aqui e acolá se afirma que Lutero e a Igreja Luterana de seu tempo
negligenciaram as missões. Que noção mais tola! Lutero é, depois dos apóstolos,
o maior missionário... Lutero, em seus dias, encheu a Europa toda até o limiar
da Ásia com o Evangelho... Pregadores luteranos levaram o Evangelho a muitas
terras, e alguns selaram a sua mensagem com o sangue de mártir”.
Em 1928, Jonathon Ekong veio
para os Estados Unidos a fim de obter formação teológica e procurar uma Igreja
disposta a enviar missionários para o povo Ibesikpo, Asutan, Nigéria: “uma Igreja
que ensinasse a Palavra de Deus em sua pureza e também ajudasse no estabelecimento
de boas escolas”. O Senhor guiou Jonathan Ekong à Igreja Luterana do Sínodo de
Missouri e às Igrejas Luteranas da Conferência Sinodal.
Em 24 de abril de 1936, o dr. Henry Nau
foi enviado à Nigéria como primeiro missionário luterano residente. No início
de 1937, juntaram-se a ele Vernon Koeper, o pastor William H. Schweppe e a
senhora Helen Kluck. Após isso, durante 75 anos, missionários dedicados
serviram ao lado de pastores fiéis, professores e leigos da Igreja Luterana da
Nigéria construindo congregações, escolas, um seminário e clínicas médicas.
Em suas memórias, o fundador da
LCN, pastor Jonathan Udo Ekong (1881-1982), exortou os nigerianos a agradecer a
Deus “pelos homens e pelas mulheres que deixaram sua terra para nos
trazer o conhecimento da Palavra Salvadora de Deus. Essas pessoas passaram por
caminhos ásperos e difíceis - muitos perderam suas vidas - a fim de trazer esta
mensagem de salvação para o nosso país. Eles não vieram em busca de riqueza
para si mesmos, não vieram por conta do comércio de escravos... Eles vieram
para a nossa terra com o coração cheio de amor e compaixão, e seu desejo era
apenas proclamar a nós o amor de Jesus Cristo, que o levou à cruz para morrer
pelos pecadores”.
Hoje,
os dons de perdão, vida e salvação eterna que ele conquistou na cruz continuam
a fluir por toda a Nigéria e por toda parte do mundo onde igrejas luteranas e
pastores luteranos banham seu povo na Palavra Refrescante de Deus proclamada
dos púlpitos e que são recebidos também no Santo Batismo e na Ceia do Senhor em
fontes e altares.
Aqui reside a maior força da Igreja
Luterana. Recebemos a grande herança da Reforma de Martinho Lutero e de nossos
pais luteranos, ou seja, o ensino puro da Doutrina da Justificação. Somos
justificados por graça mediante a fé em Cristo. Foi esse tesouro da Reforma que
atraiu o pastor Ekong à Conferência Sinodal das Igrejas Luteranas da América do
Norte em 1928. E é esse tesouro que continua a ser a pedra angular sobre a qual
continuamos a construir.
É
certo que a Igreja Luterana enfrenta muitos desafios em todo o mundo, mas, com
Cristo, o nosso alicerce, podemos enfrentá-los com o coração alegre e confiante.
Pois, “a pedra que os construtores
rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular; isto precede do Senhor e
é maravilhoso aos nossos olhos. Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e
alegremo-nos nele” (Sl 118.22-24).
Desafios, problemas e
oportunidades
Em 1967, no
aniversário de 75 anos das missões luteranas na África do Sul, o pastor
Friedrich Wilhelm Hopf escreveu um ensaio chamado “A Igreja Luterana faz missão
luterana”. O corolário também é verdadeiro: “As missões luteranas devem levar a
igrejas luteranas”. Isso requer pastores luteranos que estejam “aptos para
ensinar”, que foram meticulosamente treinados na doutrina e na prática
luteranas...
Onde quer que missionários luteranos tenham
passado, eles estabeleceram seminários para treinar pastores e escolas
luteranas para treinar os leigos para a vida e a vocação cristã. Como presidente
da LCMS, educação teológica é uma das minhas principais prioridades. Temos de
ir em frente com fé, como fizeram os nossos antepassados que encontraram os
meios para apoiar as missões na Nigéria, Índia, Papua Nova Guiné e em outros
lugares, apesar da depressão econômica e da guerra mundial.
Se as igrejas luteranas no mundo todo pretendem
resistir aos crescentes ataques religiosos e teológicos a respeito da
verdadeira fé, precisam ter teólogos, pastores e leigos exaustivamente
treinados em teologia luterana.
Culto luterano
As missões luteranas
devem conduzir a igrejas luteranas com culto luterano, isto é, com liturgia e
hinos luteranos... Missões luteranas devem levar ao estabelecimento de igrejas
luteranas. Igrejas luteranas são igrejas litúrgicas por razões teológicas.
Doutrina e prática estão inseparavelmente unidas. A prática luterana reflete,
ensina e confessa a doutrina luterana.
Um dos grandes desafios para as
igrejas luteranas ao redor do mundo hoje vem da adaptação de formas de culto e
música dos movimentos de reavivamento e neopentecostais. Há um ditado que
remonta ao século 5º atribuído a um homem chamado Próspero de Aquitânia: “A forma como você cultua determina aquilo
que você crê”. Isso continua sendo verdade hoje: se você cultua como um
muçulmano, você vai se tornar um muçulmano; o culto budista gera seguidores do
budismo; se você cultua como um católico romano, você vai se tornar um católico
romano; se você cultua como um pentecostal, você se tornará um pentecostal. Assim,
o culto luterano produz cristãos luteranos e os mantém cristãos luteranos. O
compositor luterano contemporâneo Stephen Starke observou corretamente: “Há
pastores luteranos que nunca permitiriam que um pastor batista pregasse sermões
de seu púlpito, mas não veem nenhum problema em colocar regularmente as
palavras de hinos batistas na boca de seu povo”.
Desafios do Ocidente e da África
Muitos dos desafios
identificados acima fluem do Ocidente e alcançam ou são impostos ao resto do
mundo. No Ocidente, muitos desses desafios resultam da destruição das famílias
a partir de uma variedade de males sociais que vão desde aborto, divórcio,
homossexualidade e decadência dos costumes em geral. Nos últimos tempos,
enquanto muitos líderes de igrejas permanecem calados como “cães mudos” (Is
56.10), proeminentes bispos africanos têm sido capazes de falar a verdade das
Escrituras sobre esses pecados de uma forma que inspira o remanescente fiel no
Ocidente. A comunicação global e as viagens permitem que a Igreja no Ocidente
ouça agora vozes africanas que de outra forma não iria ouvir. Que haja mais
estímulos positivos para vocês e para nós através dessas ferramentas que nos
foram dadas por nosso Senhor nesse momento! Essas ferramentas também nos
permitem, como Corpo de Cristo, estar cientes quando um de nossos membros está
sofrendo.
O dr. Martinho
Lutero, observando como o Sacramento do Altar nos torna um só corpo em Cristo,
disse: “Quem pode ferir uma parte do corpo, sem ferir o corpo todo? Qual dor
pode ser sentida pelo dedinho do pé que não é sentida por todo o corpo? Nós
somos um só corpo. Qualquer dor que o outro sofre, eu também sofro e suporto.
Tudo de bom que acontece comigo, também acontece com ele. Assim, Cristo diz que
tudo o que for feito a um dos menores irmãos é feito com ele”. Assim, devemos
pedir a Deus: Perdoa-nos por não sentirmos quando nossos irmãos e nossas irmãs
em Cristo da Igreja Luterana da Nigéria (e de outros lugares) têm enfrentado
necessidade ou dor.
Que Cristo fortaleça a
unidade que compartilhamos na pregação pura do seu Evangelho e na correta
administração dos seus dons de perdão encontrados nos sacramentos.
Todas as coisas cooperam para o bem
O Livro de Concórdia, na Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida,
artigo XI, parágrafos 48-50, afirma o seguinte:
“Proporciona essa doutrina,
outrossim, glorioso consolo em cruz e tentações, a saber, que Deus determinou e
decretou, em seu conselho, antes do tempo do mundo, que vai assistir-nos em
todas as situações difíceis, conferir-nos paciência, dar-nos conforto, suscitar
esperança e prover desfecho que seja para a nossa salvação. Também, conforme
disso trata de maneira mui consoladora Paulo em Romanos 8, que Deus ordenou em
seu propósito, antes do tempo do mundo, através de que cruzes e sofrimentos
haveria de tornar cada qual de seus eleitos conforme “à imagem de seu Filho”, e
que a cruz de cada um deve e tem de “cooperar para o bem” dele, já que “são
chamados segundo o propósito”, de onde Paulo inferiu como certo e indubitável
que “nem tribulação, nem angústia, nem morte, nem vida, etc. nos podem separar
do amor de Deus em Cristo Jesus” (cf. Rm 8.28,29,35,38,39). Esse artigo
igualmente dá glorioso testemunho de que a Igreja de Deus existirá e
permanecerá contra todas as portas do inferno (Mt 16.18)”.
Nosso Senhor não apenas
promete que no final o bem surgirá dos sofrimentos e das cruzes que levamos
neste mundo como seu povo e sua Igreja, mas que ele próprio escolheu essas cruzes,
sofrimentos e desafios para nós, para que nada pudesse nos tirar de sua mão.
Não só isso, mas através dessas cruzes, nosso Senhor nos conforma à imagem de seu
Filho. Como Isaías profetizou sobre Jesus: “Ele não tinha aparência nem
formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse. Era
desprezado e o mais rejeitado entre os homens” (Is 53.2-3). Assim é para os
cristãos e a Igreja do Senhor neste mundo. Nós carregamos a imagem de nosso
Salvador ao ser pendurado na cruz. Por meio dos sofrimentos e desafios que
enfrentamos, o Senhor leva nossa carne pecaminosa à morte, e ele promete elevar-nos
à vida com ele, assim como ele ressuscitou. Embora desprezada pelo mundo, as
portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja do Senhor.
O maior recurso que
temos e que transforma cruzes, sofrimentos e desafios em oportunidades é o puro
Evangelho de Jesus Cristo, que vence o pecado com o perdão e a morte pela
ressurreição. Vocês têm a Palavra de Deus que vence o mal e transforma a morte
em vida. A menor igreja possui o mesmo idêntico tesouro que a maior igreja
também possui - nosso Senhor Jesus, sua Palavra e seus sacramentos. Em face dos
desafios, sua Palavra oferece oportunidades. Em face do liberalismo,
secularismo, Islã, decadência moral, etc., a Igreja tem a oportunidade de TESTEMUNHAR
(martyria), isto é, testemunhar e
proclamar a verdade a um mundo que não conhece a verdade; de mostrar MISERICÓRDIA
(diakonia) a pessoas que necessitam
de compaixão e amor cristãos; e de ter uma VIDA EM COMUNHÃO (koinonia) com outros membros do Corpo de
Cristo, que vivem sob a sombra da cruz, reunidos em torno da Palavra e dos sacramentos.
O TESTEMUNHO ocorre quando Jesus é
proclamado como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Cada cristão
testemunha Jesus quando Cristo é anunciado de acordo com nossa vocação e nosso lugar
na vida. Uma pessoa que recebeu o perdão e a misericórdia de Cristo não pode
agir de outra forma a não ser mostrando MISERICÓRDIApara com outras pessoas, a começar pelos membros da família de
Deus. Como povo perdoado de Deus, temos koinonia,
comunhão, ou VIDA EM COMUNHÃO como Corpo de Cristo.
A vida
em comunhão
Como
parte de uma VIDA EM COMUNHÃO no século 21, precisamos promover uma melhor
comunicação entre os luteranos em todo o mundo, particularmente com aqueles que
partilham da nossa fidelidade às Sagradas Escrituras e às Confissões Luteranas.
As igrejas luteranas
confessionais deveriam ter um repositório online, um site onde as mais recentes
notícias poderiam ser postadas a partir de nossos parceiros em todo o mundo.
Como membros do Corpo de Cristo, temos o dever de “manter os olhos bem abertos”
e estar cientes do que está acontecendo em cada uma das outras igrejas a fim de
que possamos permanecer “em constante contato com os acontecimentos e as
necessidades do Reino de Deus”. Estar em contato com as necessidades do Reino
de Deus nos permite orar uns pelos outros, encorajar uns aos outros e criar
estratégias e planos sobre como podemos trabalhar melhor em conjunto, sendo
melhores mordomos dos recursos que nosso Senhor deu a cada um de nós para que
compartilhássemos uns com os outros.
Uma das grandes
contribuições que o Sínodo Missouri fez para a história do luteranismo é a correta
distinção entre Lei e Evangelho enfatizada por Walther. Uma boa pregação de Lei
e Evangelho não é apenas um sermão com um esboço em duas partes, em que na
primeira parte se fala daquilo que o ser humano faz de errado, e na segunda, de
como Jesus conserta esse erro, mas é uma poderosa pregação onde a Lei é pregada
em sua severidade total e o Evangelho em sua completa doçura.
Os cristãos que foram perdoados
por Cristo não apenas dão TESTEMUNHO de Cristo através do Evangelho, mas também
dão TESTEMUNHO demostrando MISERICÓRDIA uns para com os outros e também para
com os necessitados. No cuidar do corpo, podem também surgir oportunidades para
que a Igreja dê TESTEMUNHO a pessoas que ainda não ouviram o Evangelho de
Jesus. Esses esforços podem nos ajudar a construir uma VIDA EM COMUNHÃO para
luteranos confessionais no mundo inteiro.
Conclusão
Agora é o momento que o Senhor
dedicou para que sejamos uma Igreja Luterana Missionária no mundo e que faz
missão luterana e que planta comunidades luteranas. Temos a promessa segura e
certa do Senhor de que ele vai trabalhar todas as coisas para o nosso bem e
que, de fato, nenhuma das cruzes, sofrimentos e desafios que enfrentamos pode
nos tirar de sua mão. Ele nos chamou para dar um TESTEMUNHO fiel, mostrar
MISERICÓRDIA para com o outro, enquanto temos uma VIDA EM COMUNHÃO sob a cruz
de Jesus. Os muitos desafios que enfrentamos como povo do Senhor em uma
sociedade em decomposição também são uma oportunidade para compartilhar a
esperança que temos em Cristo e para oferecer a única coisa que pode realmente
fazer a diferença. O Senhor nos deu as ferramentas e os recursos para esse
momento em que nos encontramos, e ele promete dar-nos força e coragem para
enfrentarmos o que está diante de nós.
Dr. Matthew Harrison,
Pastor presidente da LCMS
www.wmltblog.org
Título Original: The Challenges of Lutheranism Worldwide
Disponível em:http://wmltblog.org/2011/09/page/2/
Tradução: Matias Auel e Hermann Auel
Adaptação: Nilo Wachholz
*Este
texto foi publicado no Mensageiro Luterano de janeiro/fevereiro de 2013.
Aos poucos, algumas pessoas foram se juntando a esse grupo, outras foram reconquistadas, e hoje, oito anos depois, aqui estamos, com a bênção e força de nosso Deus, retomando a missão nos Campos ...
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