Há 50 anos, a IELB chegava em Rondônia


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19/03/2021 #Artigos #Congregações #Editora Concórdia

Caminhos da história

Há 50 anos, a IELB chegava em Rondônia

Para falar da presença da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) no estado de Rondônia, é preciso primeiro falar da colonização do estado. E antes disso, é preciso dizer que Rondônia, na época, não era um estado, era Território Federal. A instalação do Estado de Rondônia deu-se em 4 de janeiro de 1982.

 

A colonização

No ano de 1968, o governo federal concluiu a rodovia BR-364, ligando Cuiabá, MT, a Porto Velho, RO, um trecho de aproximadamente 1500 quilômetros de estrada de chão. E na década de 1970, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), coordenou um projeto de distribuição gratuita de terras da União em Rondônia.

A abertura da BR 364 e a distribuição de terras atraiu um grande fluxo de agricultores e pecuaristas vindos de várias regiões do Brasil. Dentre estes, muitos eram luteranos, vindos principalmente do estado do Espírito Santo, mas também da região sul do país.

 

Como a IELB chegou em Rondônia?

No ano de 1970, o então presidente da IELB, Rev. Elmer Reimnitz, sabedor da existência de luteranos no norte de Mato Grosso e Rondônia, solicitou ao pastor Arno Krick, na época, pastor em Salvador, BA, que fizesse uma viagem de sondagem sobre as possibilidades missionárias ao norte do Brasil. Este, em carta escrita ao presidente Reimnitz em 28 de julho de 1970, relata em detalhes a sua viagem ao norte do Brasil, que durou 22 dias. Depois de breve parada em Cuiabá, o pastor Krick deteve-se alguns dias em Cáceres, MT, conversando com pastores de outras denominações e visitando cidades na redondeza. De Cáceres, Krick foi para Porto Velho, capital de Rondônia, onde ele diz que “não achei muita favorabilidade para a igreja, pois há já diversas igrejas trabalhando. Talvez com os anos a gente consiga realizar uma obra por lá”.

Felizmente não foram necessários muitos anos para a IELB se estabelecer em Porto Velho. Em 1979, o estagiário Jorge Kopper, vindo de Ji-Paraná, deu os primeiros cultos por lá. Hoje, temos em Porto Velho quatro templos construídos, quatro congregações estabelecidas e três pontos de missão.

De Porto Velho, Krick seguiu para Vila Rondônia, hoje Ji-Paraná. Lá ficou sabendo que no interior moravam muitas famílias luteranas, mas que ele não pôde visitar.

Finalmente dirigiu-se para Pimenta Bueno, que ele descreveu como “um lugarejo de 190 casas”, distante 500 quilômetros da capital, Porto Velho. Lá ele se hospedou na casa de Martin Discher, membro da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). O pastor Krick relata que Martin Discher dominicalmente dava estudos bíblicos e cultos para luteranos de Pimenta Bueno, inclusive fazia batismos e dava santa ceia. Uma filha do sr. Discher acompanhava os hinos tocando um harmônio.

O relatório do pastor Arno Krick foi decisivo para a designação de dois pastores, recém-formados, no final de 1970, para Cuiabá, MT: Egon Eidam e Evaldo Maron, para atenderem o Norte de Mato Grosso. Em fins de março de 1971, ambos viajaram para Rondônia e, no dia 28 de março de 1971, realizaram o primeiro culto ao ar livre, em frente à residência de Alfredo Stre, com a participação de 109 pessoas.

Duas semanas antes, a jovem Lindaura Stre, na época com 17 anos já havia dado Escola Dominical para crianças. Assim, do pioneirismo da IELB em Rondônia, faz parte o trabalho de uma jovem.

Em Rondônia, tanto a IELB como a IECLB iniciaram os seus trabalhos a partir da cidade de Pimenta Bueno. Nos dois casos, os primeiros trabalhos foram realizados por leigos.

O primeiro pastor da IELB residente em Rondônia foi o Rev. Evaldo Maron. O pastor Egon Eidam continuou residindo em Cuiabá, MT, de onde atendeu várias cidades do Norte do Mato Grosso.

 

Os desafios iniciais

O início dos trabalhos da IELB em Rondônia foi desafiador. E sou testemunha disso. Em 1973, minha família mudou-se para Pimenta Bueno, e presenciamos o trabalho consagrado do casal pastoral Evaldo e Eleonora Maron. No começo, deslocavam-se em lombo de mula ou viajando em torno de cinco horas num precário barco, andando por matas, onde podia haver onças e cobras sucuris. Mais tarde, o trabalho foi facilitado porque uma congregação de Cape Girardeau, Mo, Estados Unidos, atendida pelo pastor Ellis Rotmann, enviou um auxílio para aquisição de um Jeep.

O pastor Maron logo percebeu que, em Cacoal – uma vila em formação, hoje município com mais de 85 mil habitantes – havia necessidade de uma escola. O poder público doou uma quadra, onde ainda havia mato, que precisava ser desbravado. Para iniciar esta escola foi chamado o professor Edgar Schütt, que, junto com membros, construiu a Escola Concórdia. Essa escola teve seu início letivo em 1974, com 286 alunos.

O professor Edgar Schütt e a sua esposa Marlene foram fundamentais para o início do trabalho da IELB em Rondônia. Pode-se dizer que ele é um marco da educação em Cacoal. O professor Schütt, além das atividades da escola, também fazia trabalhos da comunidade de Cacoal. No primeiro semestre de 1975, quando o único pastor residente em Rondônia teve de ficar no sul do Brasil em função de tratamento de saúde da esposa, o professor Schütt fazia sozinho todo trabalho da IELB em Rondônia, atendendo a escola, dando cultos de leitura, instruções, estudos bíblicos e fazendo sepultamentos.

 

Primeira capela

Na mesma época, uma família dos Estados Unidos doou o valor de 70.000,00 cruzeiros para a construção da primeira capela e da primeira casa pastoral em Pimenta Bueno, que foram inauguradas dia 2 de junho de 1974. No evento histórico, a IELB foi representada pelo então secretário de Comunicação da IELB, Rev. Leopoldo Heimann. Ele, juntamente com o pastor Egon Eidam, o professor Erno Oscar Koller e a esposa Telma, viajaram de Cuiabá para Rondônia num fusca, num trecho de mil quilômetros de estrada de chão. Que aventura!

No culto de inauguração, o pastor Heimann pregou sobre o texto de Gênesis 28.16,17, “O Senhor está neste lugar”. Estive presente no evento, tinha 12 anos, e me lembro do sermão dele. Heimann disse que, naquele momento, nenhum dos grandes meios de comunicação do Brasil estavam anunciando a inauguração da primeira capela em Rondônia, mas que os anjos do céu estavam cantando, comemorando aquele evento.

 

A expansão

De Pimenta Bueno, a IELB logo se expandiu em Rondônia. Hoje está presente em 44 municípios, contando com 12.133 membros, 26 paróquias, 138 congregações, 37 pontos de missão e 3 distritos. De Rondônia, a IELB se expandiu para o Amazonas, o Acre e o Norte de Mato Grosso. Também houve trabalhos realizados na Bolívia. Mais informações sobre a IELB em Rondônia, acesse: https://www.ielb.org.br/encontre-uma-igreja

Esta publicação é apenas um extrato, um resumo do muito que aconteceu no trabalho da IELB em Rondônia. Ainda há muitos outros personagens, histórias e lugares a serem lembrados, mas não há como mencionar tudo e todos aqui. Isso seria assunto para um outro momento, quem sabe, um livro... SOLI DEO GLORIA!

 

Bibliografia

DA CUNHA, Eliaquim Timotéo; MOSERI, Lilian Maria. Os projetos de colonização em Rondônia. Revista Labirinto, Ano X, n.14, dez.2010. Disponível em: <https://www.periodicos.unir.br/index.php/LABIRINTO/article/download/938/922>. Acesso em: 10 dez.2020.

Há esperança para o teu futuro. Mensageiro Luterano, nov.1974, p.5-9.

Nossa Igreja em Rondônia. Mensageiro Luterano, jun.1982, p.4-8.

Carta de Arno Krick a Elmer Reimnitz, 28 de julho de 1970.

 

David Karnopp

Pastor em Vacaria, RS

dkarnopp@gmail.com

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