Cada qual, à sua maneira tem histórias para contar
No dia 15 de maio, comemoramos o Dia da
Internacional da Família. Convidamos algumas famílias, que passam por diferentes
momentos da vida, para conversar conosco sobre como está sendo o dia a dia em
meio à pandemia. Quais foram as grandes mudanças; o que lhes deu medo; o que
virou rotina, quais foram os seus planos frustrados; e quais são os seus planos
para o futuro. Cada qual, à sua maneira e em diferentes momentos, tem histórias
para contar. Acompanhe!
Planos
adiados
A ilustradora Isabel Schmidt Sonntag e o editor de
vídeo Nickolas Hoffmann Barbosa, de Curitiba, PR, foram obrigados a mudar os planos
do casamento previsto inicialmente para abril deste ano. “Decidimos
nos casar uns dias antes da pandemia começar em 2020, e os planos para o
casamento foram feitos em meio a várias incertezas. A festa seria em abril
deste ano, mas ao ver que as coisas demorariam para melhorar, resolvemos
adiantar o casamento para janeiro, só com a família, e adiamos a festa para o
fim do ano. Agora estamos adiando novamente, para o ano que vem, com a
esperança de que tudo esteja melhor”, afirmam.
O casal, que iniciou a nova família em meio à
pandemia, conta que o fato de estarem juntos todos os dias é o lado bom de tudo
isso, já que trabalham em casa e conseguiram se adaptar bem à rotina a dois.
“Se não fosse a pandemia, provavelmente estaríamos trabalhando fora, nos vendo
bem menos durante a semana. Mas com a experiência tão boa de home office, pode
ser que ela continue mesmo depois da pandemia acabar.”
A procura pela casa foi feita remotamente, sendo
que apenas a visita ao apartamento foi presencial. Para confraternizar com os
amigos e garantir alguns utensílios e itens para a casa, fizeram um chá-drive,
organizado pelos padrinhos. “O pessoal veio de carro para nos dar um oi,
conversar um pouco e matar a saudade. Foi maravilhoso, pois ter amigos por
perto nesse momento da vida faz muita falta”, comentam.
Nascimento
na pandemia
A assessora especial da Ministra da
Agricultura, Larissa Wachholz, e o diplomata Marco Tulio Cabral, são pais do
Nuno, de 4 anos, e do Oto, de 6 meses. Eles moram em Brasília, DF, e o
nascimento do segundo filho ocorreu durante a pandemia, em uma circunstância em
que a gravidez era considerada de risco após duas gestações anteriores que não
prosperaram. Tulio não pôde acompanhar as consultas, e, como moram longe dos
familiares, quase ninguém viu a barriga crescer. Por causa dos riscos, a
família foi muito cautelosa, evitando ao máximo sair de casa. Felizmente a mãe
da Larissa, Vivian, viajou a Brasília logo após o nascimento e ficou com a
família por algumas semanas. “Para recebermos a tão sonhada visita, nós nos
isolamos e fizemos testes de Covid, inclusive o bebê recém-nascido. A grande
beleza de tudo isso foi acompanhar de muito perto a adaptação do nosso filho à
chegada do irmão e o desenvolvimento do nosso bebê, o que não seria possível em
circunstâncias normais. A situação foi desafiadora, mas foi um momento
especial. Pela primeira vez passamos tanto tempo juntos, e os laços como
família se fortaleceram”, lembram eles.
Larissa e Tulio contam que foram se
moldando de acordo com as circunstâncias pessoais e as do país. Nuno chegou a
frequentar a escola, mas apenas por três meses. “Fizemos o possível para
conciliar um ritmo de trabalho intenso, aulas virtuais (que demandam um
adulto), bebê e a casa, quase sempre sozinhos. Equilibrar as demandas foi um
desafio. Temos uma funcionária muito querida e pedimos que ela ficasse em sua
casa a maior parte do tempo, evitando a exposição dela e a nossa. As fotos vão
nos lembrar do caos e da doçura deste período: a bagunça da casa e os
piqueniques do fim de semana, muitos deles à sombra das árvores do
estacionamento da Embaixada do Paraguai. Para além das questões práticas, o
maior desafio foi a ausência do convívio com a família, igreja e amigos. Ainda
assim, não deixamos de reconhecer o quanto nossa situação é privilegiada.
Muitos passaram por dificuldades graves, perda de renda e problemas de saúde.
Diante disso, tentamos ajudar outros como podemos.”
Quanto ao entendimento do filho mais
velho sobre a pandemia, Larissa conta que ele é muito consciente sobre os
cuidados que precisa ter para proteger a si e aos outros. “Ele não sai de casa
sem máscara, sempre pergunta se lembramos do álcool gel e avisa quando a
máscara está molhada. A principal preocupação dele é saber quando a pandemia
vai acabar para que ele possa reencontrar os avós e a prima, Ana Clara, de quem
é fã. Ele sente muita saudade da família”, diz a mãe.
Como todos, a família também tem sonhos
e planos para quando a pandemia passar. Eles dizem que, sem dúvida, o maior
desejo é o do reencontro. “Com a família, amigos, igreja. Para proteger as
pessoas mais idosas da família, foi preciso ficar distante ao longo do último
ano. Não vemos a hora de poder visitá-los, abraçá-los e voltar a conviver.”
A família Wachholz Cabral relembra
momentos peculiares que viveram: “Tivemos dois batizados na família com
transmissão por vídeo, com a presença de pouquíssimas pessoas: fomos padrinhos
de nossa sobrinha Helena, em São Paulo, e batizamos o Oto, em Brasília. No
batizado do Oto estiveram presentes apenas o pastor e a mãe da Larissa, que já
estava na cidade. Temos também lindas lembranças de um encontro de família em
Porto Alegre, que só foi possível depois de um rigoroso isolamento prévio e de
testes. Os avós, Nilo e Vivian, puderam reunir quase todos os netos. Foi uma
festa. Por fim, do ponto de vista profissional, foi interessante notar certa
normalização da presença de crianças em reuniões de trabalho por vídeo
conferência. A vida pessoal ficou mais visível no ambiente de trabalho.”
Tarefas e
bom humor
A adaptação da família Huf, de São Paulo, SP, foi
bem tranquila a esse momento de pandemia, mas logo o pastor Fernando, a
professora Magda e as filhas Tábata, 17, e Muriel, 13, sentiram falta das
reuniões familiares e dos cultos presenciais.
“Cozinhar e almoçar juntos quase
diariamente virou uma rotina especial, e, agora, quando a rotina anterior
começa a voltar, já sentiremos falta desse tempo juntos. As aulas on-line foram
trabalhosas e cansativas no início. Fazer pão, cuidar do quintal e fazer a
faxina juntos passou a ter uma certa dose de diversão, com música e todo mundo
de bom humor (quase sempre)”, relatam.
Também por causa das aulas on-line e do trabalho
remoto, a família sentiu a necessidade de aumentar o número de computadores em
casa.
Quando a pandemia acabar, a família quer aproveitar
para “visitar parentes e amigos, realizar a formatura da Tábata no Ensino Médio,
viajar e reencontrar, e abraçar os irmãos da congregação na festa da ceia!”.
Adaptação
às vídeo-chamadas
Para a vendedora Lianete Schneider de Souza, no
início da pandemia foi tudo estranho e difícil. Ela lembra que se falava em
isolamento e quarentena, mas que pensava que seriam poucos dias. “E agora já se
passou mais de ano.” Lia, como é chamada, o esposo, o despachante Hildo, e as
filhas Bruna, 26, e Luisa, 27, ambas assistentes administrativas, de Guaíba,
RS, contam que com todos em casa, vieram também os medos, estresses, incertezas
e a saudade de ver a família. “A Juliana, nossa filha mais velha, mora na
Irlanda, então temos notícias de lá e vimos como a rotina naquele país também
mudou rapidamente”, afirmam.
Ficar sem ver o restante da família foi e continua
sendo uma das partes mais difíceis para eles, pois sempre estavam juntos,
almoçando e fazendo visitas. “Aprendemos todos a fazer vídeo-chamadas para
amenizar um pouco a falta e poder celebrar os aniversários de uma forma
diferente”, lembram eles.
Para a família, o medo e a incerteza ainda estão
presentes, mas agora a esperança, com a chegada das vacinas, cresce a cada dia.
“Com certeza já aprendemos a valorizar ainda mais os momentos que podemos estar
junto das pessoas que amamos, e o quão importante é estar perto.”
Para a Lia, que trabalha na Editora Concórdia, ficar
sem ir fisicamente à empresa foi uma experiência estranha. “Sempre gostei muito
de estar presente, de receber os clientes, de conversar. Continuo trabalhando
como sempre fiz, com dedicação e amor, e hoje em dia já me sinto mais tranquila
em trabalhar home-office, pois seguimos na missão de levar a Palavra de Deus a
todos. Sigamos, não sabemos como será o futuro. Por isso continuamos orando e
crendo nas promessas de Deus, pois tudo está em suas mãos”, finaliza.
Mudança de trabalho e cidade
Receber um chamado pastoral em meio à
pandemia para ser capelão hospitalar em Cacoal, RO foi algo inusitado e
desafiador para o pastor Adriel Prestes Rodrigues e também para sua família, a
esposa Katia, dona de casa, e o filho Carlos Adriel, de 10 anos. No momento em que
recebeu o chamado, o estado de Rondônia estava em destaque nos noticiários pelo
número de contaminados por Covid-19, e a mensagem era de que não havia mais
leitos no estado. Nesse período, o governador de Rondônia estava enviando
pacientes rondonienses para o Rio Grande do Sul.
Diante desse desafio, a família
estava consciente e apoiava a decisão do pastor, porque este trabalho era algo com
o que ele sempre teve afinidade. “Talvez o que mais pesou na mudança de
localidade foi não poder abraçar e se despedir das pessoas da Paróquia São
João, de Cerrito, RS, e dos membros de Morro Redondo, RS, agradecer por tudo
que vivemos ali e dizer que estes 5 anos e 11 meses foram especiais para nossa
família. Creio que devido à pandemia, nossa saída e despedida ficaram
acinzentadas, por não podermos nos despedir da forma tradicional, com um forte
abraço. Conversávamos com os membros e depois acenávamos e dizíamos um tchau
engessado... isso doía o coração. E para piorar, justamente naquele dia marcado
para a desinstalação, o culto precisou ser cancelado por causa do decreto do estado
do Rio Grande do Sul, que obrigava todas as igrejas a fecharem as portas para
conter a pandemia”, lembra a família.
Logo que chegou em Rondônia, a
família ficou uma semana em isolamento, por questão de segurança. “Mas Deus foi
tão misericordioso e bondoso! Até o presente momento estamos bem e não fomos
acometidos pela Covid-19. Continuo tomando todos os cuidados ao voltar para
casa depois de um dia de trabalho.” Em abril, o pastor recebeu a primeira dose
da vacina.
Para o pastor Adriel, como capelão
hospitalar, é muito triste ver as famílias se despedirem do seu ente querido
quando está dando seu último suspiro. Ele as acompanha juntamente com o setor
da psicologia. “Nessa hora não tem palavra certa para consolar e não podemos
oferecer o ombro para chorar. Isso rasga o coração. Por outro lado, um momento
que me enche de alegria é quando levo a Palavra aos enfermos, lembrando-lhes do
amor de Jesus por eles. Poder olhar e ver a fé e a confiança avivada em seus
olhos é maravilhoso e recompensador”, reflete.
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