Pentecostes


Ler em formato flip
21/05/2021 #Estudos #Editora Concórdia

A igreja recebe o que precisa para a missão de levar Cristo para todos

Pentecostes

          Lucas começa a narrativa do evangelho com referência a um tempo histórico: nos dias de Herodes, rei da Judeia (Lc 1.5), enquanto a narrativa de seu segundo livro começa com a pergunta sobre um outro tipo de tempo, o tempo profético: Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel? (At 1.6).

         O primeiro e segundo livro de Lucas correspondem, no calendário litúrgico, respectivamente ao período do Advento até Pentecostes, e, do Pentecostes até o Advento. O primeiro tempo é dedicado ao ministério de Jesus. O segundo, à missão da igreja. Na primeira metade do ano litúrgico, comemoramos o Natal, Epifania, Transfiguração, Domingo de Ramos, Crucificação, Páscoa, Ascensão e Pentecostes. Na segunda parte, o tempo chamado comum ou tempo da igreja.

           O domingo de Pentecostes, assim como o primeiro domingo de Advento, são o fim de um ciclo e o início do outro. São datas litúrgicas que marcam dois tempos, o começo e o fim. E a cada data corresponde um grupo de pessoas, que correspondem à esperança de Israel, antes e depois do cumprimento da promessa de salvação.

          O primeiro grupo era formado por mulheres e homens que, com fidelidade, esperavam a vinda do Salvador, filho de Davi. Entre estes estavam Isabel e Zacarias, pais de João Batista; Maria e José; além de dois idosos, quase centenários: Ana e Simeão. São estas as pessoas que Lucas menciona como aquelas a quem Deus revelou, antes e logo depois do nascimento de Jesus, que ele era o Salvador prometido. Mateus menciona os magos do Oriente.

            O segundo grupo era também formado por mulheres, a exemplo de Maria, mãe de Jesus, e homens, especialmente os apóstolos.  No total, eram 120 discípulos de Cristo que estavam reunidos em Jerusalém. Paulo fala de 500 discípulos reunidos na Galileia, provavelmente antes do Pentecostes.

            A única pessoa que é mencionada nos dois grupos, no início do evangelho e no início de Atos dos Apóstolos, é Maria, mãe de Jesus. No evangelho, Maria e José. Nos Atos dos Apóstolos, Maria e os irmãos de Jesus. O destaque que Lucas dá a Maria, no início do segundo livro, o dos Atos dos Apóstolos, remete o leitor ao início do primeiro livro, o evangelho. O Pentecostes remete ao Advento, e este, de volta ao Pentecostes.

           Maria, no primeiro livro, recebe a promessa: Descerá sobre ti o Espírito Santo (Lc 1.35), e Maria, de novo, como uma dentre outras tantas mulheres, está entre aqueles a quem o Ressuscitado prometeu: recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas (At 1.8).  As duas promessas respondem, a primeira, à pergunta de Maria ao anjo, e a segunda, à pergunta dos apóstolos a Cristo. 

Nos dois relatos está presente o tema da restauração do reino segundo a promessa divina por meio dos profetas (2Sm 12-17; Isaías 9.6,7). Quando Pilatos perguntou se de fato Jesus era rei, ele respondeu: O meu reino não é deste mundo... o meu reino não é daqui... [mas] Para isso nasci e para isso vim ao mundo [para ser rei], a fim de dar testemunho da verdade (Jo 18.36,37).

Os fiéis do início do evangelho são apresentados por Lucas como aqueles que que esperavam a consolação de Israel e a redenção de Jerusalém (Lc 2.25-38), exatamente o que esperavam os discípulos de Jesus no início do livro de Atos dos Apóstolos: será este o tempo em que restaures o reino a Israel (At 1.6).

            O tempo da restauração do reino, a dádiva do Espírito Santo e o testemunho são os pontos em comum nas narrativas do nascimento de Jesus e no relato da ascensão de Jesus. No evangelho, contudo, a narrativa está assentada na profecia de Isaías: e o seu reinado não terá fim (Lc 1.33; Is 9.7). Já em Atos dos Apóstolos, o contraponto da narrativa é a profecia de Joel: antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor (At 2.20; Jl 2.31).

          A pergunta de Maria (Lc 1.34) e a dos discípulos (At 1.6) têm, ainda, em comum, que ambas demonstram a perplexidade humana diante do modo de agir de Deus. Ambas as perguntas, por essa mesma razão, recebem como resposta não uma explicação racional do modo de ação de Deus, mas a promessa da descida ou derramamento do Espírito Santo (Lc 1.35 e At 1.8).  No evangelho de João, temos a promessa de Jesus aos discípulos: o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas (Jo 14.26).

          As narrativas de Atos dos Apóstolos, em que a missão de Pedro e de Paulo, especialmente, mas também de Estevão, Felipe, Barnabé e Tiago, são exemplos que correspondem, no evangelho, aos testemunhos, especialmente, de Isabel e Zacarias – pais de João Batista, de Maria, de Ana e Simeão. Cheios do Espírito Santo, todos dão testemunho da ação salvadora de Deus.  No evangelho, são alguns apenas.  Nos Atos dos Apóstolos não são apenas os doze apóstolos, mas os cento e vinte discípulos reunidos no dia de Pentecoste, e todos os que atenderam ao chamado e promessa do evangelho: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa (At 16.31).

            Um novo tempo começa no Pentecostes, já não estão presentes Isabel e Zacarias, José, Ana e Simeão. Maria está, com os irmãos do Senhor. E destes, somente Tiago é mencionado novamente em Atos dos Apóstolos. Tiago, irmão de Jesus, se torna o líder da igreja em Jerusalém depois da perseguição do rei Agripa I. Lucas menciona Tiago como um dos que estavam em Jerusalém no Pentecostes. 

            E novo tempo é o anunciado pelo profeta Joel, que começa com o Pentecostes e termina com o Dia do Senhor (juízo). A resposta de Jesus aos discípulos está no marco da profecia de Joel: um tempo que começa com o derramamento do Espírito e que termina com o dia do juízo, e que é um tempo de pregação do evangelho.

O novo tempo começa com o Pentecostes: E acontecerá... que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão; e termina com o Juízo final: o grande e terrível Dia do SENHOR. Entre um e outro tempo, a igreja anuncia o evangelho de Cristo: E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo (At 2.16-21; Jl 2.28-32).

          O Pentecostes é o tempo da graça ou o tempo oportuno (Hb 4.16). O Pentecostes é o tempo único na história humana, o tempo em que no Senhor, o vosso trabalho não é vão (1Co 15.58).  Pregar o evangelho de Cristo ao mundo é fazer a obra do reino eterno, que jamais deixará de existir. O resto, tudo, é vaidade, é vão. Por mais importantes que sejam, são deste mundo (deste século). O reino de Cristo é do mundo (do século) vindouro.

            Os discípulos esperavam, com sinceridade, a restauração do reino de Deus, e Jesus lhes mostrou que o reino de Deus, nesta vida, experimentamos por meio do testemunho: e não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos (At 4.12).

            A restauração do reino de Deus, nesta vida, se dá no coração e nos frutos (palavras e ações). É restauração interior, sim, obra do Espírito Santo, pelo testemunho ou pregação do evangelho de Cristo. Não é, contudo, restauração de coisas vãs, mas a restauração da nossa vida com Deus.

            No último versículo de Atos dos Apóstolos, temos o modelo de missão da igreja que é guiada pelo Espírito Santo.  Paulo, confinado em uma casa em Roma, aguardando o julgamento de César, pregava o reino de Deus e ensinava as coisas referentes ao Senhor Jesus Cristo (At 28.31).

            A restauração em glória do reino de Deus acontecerá em tempos ou épocas que o Pai reservou para sua exclusiva autoridade (At 1.7), nossa missão é o testemunho até os confins da terra (At 1.8).

          Pentecostes é o início da missão, testemunho e pregação do evangelho a toda criatura e todas as nações (Mc 16.15; Mt 28.19). E essa missão, testemunho e pregação não cessará até a vinda do Senhor.

          No Pentecostes, a igreja anuncia a todos, sem distinção: para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor nosso Deus, chamar (At 2.39; Ef 2.17; Is 57.19).

          E damos nosso testemunho sem duvidar, porque não falamos em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito de Deus (1Co 2.13 [11]).  E nosso trabalho não é vão, nem nos envergonhará – isto é, não deixará de dar frutos para a eternidade, porque o evangelho de Cristo é poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16). 

          Pentecostes é tempo de restaurar o reino de Deus nos corações de todos pela pregação do evangelho, antes que venha o dia da restauração de todas as coisas segundo a vontade de Deus. Pentecostes é graça, antes que venha o juízo de Deus sobre a terra. Pentecostes é o poder do Espírito Santo derramado sobre a igreja para o anúncio do evangelho de Cristo ao mundo.

Assine o mensageiro luterano e fique por dentro dessa e outras notícias

Já é assinante?

Não sou assinante

Luisivan Vellar Strelow

lstrelow@hotmail.com

Estudos Leia mais


Notícias Leia mais


Assine o Mensageiro Luterano e
tenha acesso online ou receba a
nossa revista impressa

Ver planos