“Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de
mim um espírito inabalável. Não me lances fora da tua presença, nem me retires
o teu Santo Espírito. Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com
um espírito voluntário” (Sl 51.10-12, NAA).
Cantamos estas palavras do salmo 51 no ofertório de nossa
liturgia tradicional. Logo depois, os versículos 13 e 15 nos mostram para
que o salmista quer um coração puro e limpo, um espírito reto e inabalável,
a alegria da salvação e o espírito voluntário para obedecer ao Senhor: “Então
ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores se converterão a
ti. Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca manifestará o teu louvor”.
Ser renovado por Deus, nascer de novo pela ação do
Espírito e assim ter a alegria da salvação não somente garante ao cristão a
vida nova e eterna, ou seja, que pela fé em Jesus ele já tem a coroa da vida
(Ap 2.10), conquistada pela obra salvadora de Cristo, mas também dá um novo
sentido e propósito para a sua vida enquanto espera o prêmio final: ensinar aos
pecadores os caminhos do Senhor e proclamar seu louvor.
A vida nova, criada no novo nascimento do batismo pela ação
do Espírito Santo (Jo 3.1-15; Tt 3.5-7), nos leva a ter novas palavras, um novo
discurso, para poder louvar ao Senhor e mostrar aos pecadores como nós o
caminho da salvação de Deus – Jesus Cristo.
Na Bíblia, temos muitas pessoas que, depois de terem suas
vidas mudadas por Jesus, saíram falando sem medo nem vergonha de sua nova vida
e de seu Salvador.
Vejamos alguns exemplos:
•
O ex-endemoniado geraseno (Mc 5.1-20), que pediu a Jesus
para ficar com ele, depois de ter sido livrado do espírito imundo. Jesus lhe
respondeu que deveria ir para sua casa e família e contar-lhes o que o Senhor
havia feito e como havia recebido misericórdia. Ele foi, diz Marcos, e “começou
a proclamar em Decápolis tudo o que Jesus lhe tinha feito; e todos se
admiravam”.
•
A mulher samaritana no poço de Jacó (Jo 4.1-42), que
depois de uma conversa na qual Jesus mostrou a ela seu pecado e se apresentou
como o Messias prometido, foi para a cidade e deu testemunho de Jesus, e, diz
João, “muitos samaritanos daquela cidade creram em Jesus, por causa do
testemunho da mulher”.
•
Os cristãos espalhados por causa da perseguição que
começou após a morte de Estevão (At 8.1-4), que chegaram até a Fenícia, Chipre
e Antioquia, falando do evangelho aos judeus e não judeus, e lá muita gente
creu em Jesus (At 11.19-26).
Da mesma forma, ao longo dos séculos, cristãos em toda
parte, tanto em situações de perigo como na vida normal e comum, em suas
vocações diárias, deram testemunho de que estavam mortos para o pecado e vivos
para Cristo (Rm 6.11).
Hoje, diante de tantos discursos religiosos e tantas
ofertas de “salvação”, somos desafiados a seguir os passos destas testemunhas
do evangelho e falar sem medo nem vergonha que somos novas pessoas, mortas para
o pecado e vivas para Cristo, que não se conformam com as palavras e costumes
do mundo sem Deus, porque somos transformados na mente e no coração pelo mesmo
Espírito que deu fé, coragem e sabedoria a todos esses irmãos na fé do passado.
Em uma época de tanto relativismo e de uma cultura que
muda constantemente, somos desafiados a manter a mente e o coração puros,
pensando “em tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é
justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama” (Fp
4.8 – NAA), porque “a boca fala do que está cheio o coração” (Lc 6.45 – NAA).
Somos chamados a ser cartas escritas por Cristo (2Co
3.2-3), que apresentam ao mundo palavras de vida, de alegria e salvação que
brotam de um coração cheio do amor de Cristo e governado por sua paz. Para que
seja assim, é necessário que a Palavra de Cristo habite abundantemente entre
nós, como ensina o apóstolo Paulo em Colossenses 3.14-16.
Somos convidados a nos aproximar das pessoas, cada um em
seu lugar e vocação (fisicamente e virtualmente), com humildade e paciência,
oferecendo a elas os ouvidos e quem sabe um ombro ou um abraço, para derrubar
muros e construir pontes, criando canais de comunicação e confiança, para que,
quando temos oportunidade, falemos que temos visto e ouvido, da paz que temos
em Cristo (Rm 5.1) e de sua salvação oferecida a todos os pecadores.
O próprio Jesus prometeu que seu Espírito nos fará
lembrar de suas palavras (Jo 14.26) e que ele estará conosco quando falarmos de
seu amor (Mt 28.18-20).
Em cada novo amanhecer somos novas pessoas pela
misericórdia do Senhor (Lm 3.22-23; Rm 12.1-2). Por isso podemos dizer com
confiança e alegria: “logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. E
esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou
e se entregou por mim” (Gl 2.20 – NAA).
Podemos, assim, viver cada novo dia com nova vida e novas
palavras – palavras de salvação!
Leandro
Hübner
Pastor
em Sorocaba, SP