A olimpíada terminou, e agora?


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13/09/2021 #Editora Concórdia #Artigos #Exclusivo Assinantes #Reflexão

Por que corremos? Por não estarmos satisfeitos com o lugar em que estamos.

A olimpíada terminou, e agora?

Houve tempo em que o homem passava e o mundo permanecia estático, mil anos não modificavam nada. Mentes voltadas a modelos fixos orientavam comunidades. Hoje estamos longe de acompanhar a velocidade das inovações. Aparelhos levam a voz e a imagem de cada um instantaneamente a todos os lugares, a cada dia com perfeição maior. Notícias vindas de todos os continentes excedem em muito a capacidade de manter-nos modestamente informados. A inteligência artificial humilha as inteligências limitadas de seus produtores, milhares de inteligências trabalham para solucionar uma única dificuldade. Aparelhos lançados ao espaço navegam fora do sistema solar. Nações competem para ocupar Marte.

Olimpíadas são espetáculos de velocidade. Cada olimpíada celebra metas superadas de olimpíadas anteriores. Idolatramos os mais velozes. Corremos para aumentar colheitas, salários, prêmios, depósitos bancários. Exibimos medalhas, troféus, erguemos monumentos. Em competições esportivas, nas artes, no trabalho, corremos para superar competidores atuais e anteriores.  

 Todos correm, estádio é o mundo. Paulo não reprova os que correm, atletas robustecem músculos, Paulo adverte os que correm para alcançar prêmios perecíveis.  Por que corremos? Por não estarmos satisfeitos com o lugar em que estamos. Perdemos tardes ensolaradas e ares amenos, perdemos mulher, filhos, amigos, perdemos horas em que poderíamos viver felizes. Corremos tanto que nos esquecemos de nós mesmos.

Ao mudar de vida, Paulo se retira a lugares ermos.  Parar de correr é urgente, a busca de recompensa barra o acesso a valores que duram. Meditar não é qualidade de hiperativos. O meditar acontece em lugares reservados, longe de imagens, longe de máquinas, longe da velocidade, longe de competições e medalhas, longe de aplausos. 

Cristo convidou os discípulos, nas horas mais penosas de sua vida, para meditarem com ele, meditar é mais trabalhoso do que correr, os discípulos não suportaram o meditar de uma única hora. Por não terem forças para meditar, os discípulos se dispersaram, desandaram em momentos em que Jesus precisa muito deles. Desnorteado, Pedro ataca de espada soldados que vêm prender o Profeta, o mesmo Pedro nega enfaticamente não só o Redentor, nega a sua própria identidade, discípulos mais tímidos do que Pedro se escondem, Tomé declara que só crê no que vê, Judas abraça e beija o homem que ele traiu para ganhar um punhado de moedas.

Cristo, ao meditar, olha para além do visível, busca forças junto ao Pai para enfrentar a tortura que o leva à morte, medita para organizar o caos em que vivemos. Meditar leva a narrar. As parábolas narram ações, conectam acontecimentos. Cristo narra sem pressa. Fala a pessoas que têm tempo para meditar sobre o sentido velado das histórias narradas. Paulo – o último dos seus discípulos, o discípulo que não conviveu com Jesus – passa dez anos a meditar no deserto antes de levar o evangelho ao mundo.  Meditar resiste à velocidade dos dias e das horas, meditar nos confere a tranquilidade que necessitamos para viver em segurança e tranquilos.      

Vou preparar lugar, assegura Cristo. Cristo nos oferece lugares que não alcançamos. Lugares de morar, de meditar, de não correr. Moramos quando se tornam familiares as paredes que nos cercam, quando sentimos a proteção dos que vivem conosco. O lugar que abriga olhares meditativos não está distante. Cristo assegura que o reino de Deus está em cada um de nós. Se não meditamos, não descobrimos o sentido do que fazemos, não paramos de correr.

Donaldo Schüler

Professor emérito e escritor donaldoschuler@yahoo.com

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