Geração Alpha


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08/10/2021 #Editora Concórdia #Crianças #Artigos #Congregações #Exclusivo Assinantes #Reflexão

Para elas, o virtual e o real não têm diferença. O mundo digital é uma extensão da sua realidade.

Geração Alpha

A cada semana nascem 2,5 milhões de crianças, o que significa que há uma estimativa para 2025 de que este grupo seja em torno de 2 bilhões de pessoas. De quem estamos falando? Da geração Alpha, que corresponde àqueles nascidos a partir de 2010. O que isso implica, quais os desafios para pais, educadores e para a igreja é o que nós queremos abordar no texto que segue, na perspectiva de levar a questão para o debate dos leitores, bem como apontar algumas possibilidades para andarmos juntos com essa geração.

Quando falamos sobre as diferentes gerações e suas interrelações, na verdade o fazemos com o objetivo de entender as suas características, que lhes são peculiares, e que nos ajudam muito a compreender as razões das suas atitudes e comportamentos. Assim, poderíamos mencionar as seguintes gerações: Baby Boomers (nascidos entre 40 e 60), Geração X (entre 60 e 80), Geração Y – ou Millennials (entre 80 e 95), Geração Z (entre 95 e 2010) e a Geração Alpha (entre 2010 e 2025). Todas elas têm as suas particularidades, que são o resultado do seu contexto histórico e social.

Como já mencionado, o objetivo deste artigo é trazer informações sobre a Geração Alpha. Em geral, suas características são de liberdade, versatilidade, questionamento, hiperconexão, curiosidade, esperteza e indiferença. Vejamos como isso se dá na prática e quais são os nossos desafios ao lidar com as crianças e adolescentes de hoje.

Enquanto as gerações Y e Z nasceram no advento das tecnologias, como a internet etc., a Geração Alpha nunca conheceu o mundo sem estas tecnologias. Ela já nasceu nesse contexto. A tecnologia é uma realidade tal que esta geração não tem qualquer ideia de como seria a sociedade no passado. As crianças dessa Geração crescem com as vozes da Siri, Cortana e Alexa, e o assistente de pesquisa é o Google. Nasceram junto com o iPod, Instagram e TikTok. Cerca de 90% desta geração aprende a manusear um tablet aos 2 anos (quando não antes) e ganham o seu próprio aparelho entre 3 e 4 anos. Com o TikTok, por exemplo, as crianças se expressam criativamente usando os vários diferentes efeitos, e a fácil edição dos vídeos. Esse é o seu mundo.

Isso faz com que sejam também conhecidass como iGeneration Glass ou Screenagers (geração das telas). Para elas, o virtual e o real não têm diferença. O mundo digital é uma extensão da sua realidade. A própria interação social é virtual. Elas veem o mundo através das telas. Elas próprias transmitem seus jogos e seriados. Jogam com os seus amigos, virtualmente. As visualizações dos seus vídeos sempre são maiores que as dos adultos. Além disso, ajudam os pais com a tecnologia digital. Na verdade, é uma geração que depende da tecnologia.

Talvez isso possa nos assustar, mas precisamos aprender a lidar com essa geração. Esse é o grande desafio da sociedade atual. Percebemos, por exemplo, que eles são mais independentes e têm mais habilidade para adaptar-se às diferentes realidades. Até mesmo o cérebro tem esta capacidade em adaptar-se ao novo. É possível que isso seja assim porque os seus pais, na maioria, são das gerações Y e Z, que também têm características de mudanças (de emprego ou de cidade). Nessa perspectiva, percebemos que eles têm um grande interesse pelo novo e são mais estimulados a isso, e acredita-se que, quando forem adultos, serão mais inovadores. Essa é uma tendência natural e que não tem mais volta. Está diante de nós. Dá a impressão de que todos os processos da vida para eles são mais acelerados. Quanto às gerações anteriores, ou se adaptam ou são “engolidas” por essa nova geração.

A Geração Alpha consome toneladas de informações todos os dias, o que para algumas pessoas, significa que eles aprendem muito mais rápido. Seriam mais inteligentes? O aprendizado é superficial? São questões relevantes para os adultos, mas não são determinantes para os Alpha neste momento. É importante salientar que a formação do indivíduo nem sempre é caracterizada pelo seu conhecimento. Aliado a isso podemos incluir os sentimentos que evidenciam o lado emocional, psicológico, social e também espiritual do indivíduo. Até porque esta não é sua preocupação. Eles estão voltados para o que acontece hoje, agora. São imediatistas e esperam que o mundo seja adaptado às suas necessidades e interesses. É como se eles não estivessem presos a algum sistema, com plena liberdade de expressão e construção dos seus próprios saberes. O seu pensamento crítico os leva a não perderem tempo com coisas menos importantes para eles.

Apesar desse quadro ser uma realidade, ainda assim podemos criar mecanismos de diálogo, contrapondo com outras possiblidades no viver diário junto aos da Geração Alpha. Pais e educadores podem se aproximar e verbalizar suas impressões, desejos e sentimentos, bem como construir processos que possam contribuir na formação desta Geração. Mesmo reconhecendo todo esse contexto, é importante dar alguns nortes que sejam matrizes na formação das crianças e adolescentes de hoje. Se a interação social é virtual, podemos propor e executar, pelo menos no contexto da família, da escola e da igreja, onde estamos reunidos com essa geração, uma abordagem de interação que seja real, pessoal e corporal. Se em uma família, por exemplo, a tecnologia é mal-usada pelos seus integrantes, especialmente os adultos, o que esperar dos menores? A responsabilidade da interação social é de todos os seus membros. Significa, então, menos celular, menos rede social, mais diálogo, afeto e presença.

Por mais que esta geração não faça diferença entre o virtual e o real, os pais e os educadores têm a responsabilidade social e programática de criar rotinas para o uso da tecnologia, proporcionar meios para outras brincadeiras, que não sejam os jogos online, a fim de que as crianças e adolescentes possam ter também essa experiência na sua vida. Agindo assim, minimizarão os impactos negativos. As brincadeiras de antigamente não estão descartadas neste processo. O contato humano é extremamente importante. É evidente que o conflito geracional vai continuar existindo, mas depende de adultos desempenharem o seu papel visando dar o melhor para essa geração. O melhor caminho sempre será conscientizar a todos para viverem os seus diferentes papéis, seja como pais, filhos, professores, alunos ou amigos. É, talvez, mais difícil, porém mais eficaz.

Outro aspecto importante a se levar em conta é que há uma tendência de que esta Geração tenha dificuldade em lidar com as frustrações, hierarquia e autoridades. Não deixa de ser uma Geração mais mimada e que não aprende a ouvir o não. Muitos pais estão assoberbados em seus trabalhos e, para não se incomodarem, deixam os seus filhos por tempo demasiadamente longo diante das tecnologias, que é sempre muito rápida. Parece que isso traduz também a necessidade de crianças e adolescentes terem em suas mãos imediatamente o que querem. Querem respostas rápidas às suas demandas, o que pode torná-las mais ansiosas. É evidente que precisam trabalhar o seu lado emocional. É como se o mundo girasse em torno dessas suas conquistas. Além disso, como são estabelecidas as relações de forma horizontal, o respeito à hierarquia e autoridades é sempre questionado, e os diferentes espaços em que vivemos parece que são a mesma coisa para a Geração Alpha.

Ainda na perspectiva de que vivem no mundo real, mas que o virtual não constitui problema, são acostumados a compartilhar suas experiências não somente com a sua família, mas com o resto do mundo. Se concentram na construção de um mundo sem fronteiras ou formalidades. Talvez nem mesmo tenham consciência disso, e os adultos, que fazem uma leitura diferente, começam a perceber o perigo dessa exposição. É preciso sempre estar atento aos diferentes comportamentos que as crianças apresentam no dia a dia. De fato, é importante estar presente no seu processo de formação.

Diante do exposto, seguem algumas outras sugestões para refletirmos sobre a Geração Alpha:

·         Ela é uma realidade. Já estamos convivendo com ela. É tudo muito rápido e diferente. Mas ainda podemos ter o comando das regras sociais de convivência humana. Mesmo que isso signifique pressão, mas as crianças precisam de nós.

·         Os educadores têm um papel muito importante nesse processo. Nem sempre a escola do futuro poderá ser a melhor escolha. Não precisamos antecipar processos que visam tirar das crianças o seu direito de serem crianças.

·         Estabelecer rotinas irá contribuir nesse processo educacional.

·         Compreender a Geração vai ajudar muito pais e educadores a encontrarem os melhores caminhos para a educação.

·         Possibilitar atividades esportivas ajudará muito a combater o sedentarismo, além de favorecer a exposição ao sol, tão importantes para a saúde da criança.

·         A igreja e sua liderança farão uma leitura adequada desta Geração para ajudar tanto os pais como as crianças no desenvolvimento da sua vida espiritual.

Enfim, grandes desafios o Senhor Deus tem colocado diante de nós. Ele também irá nos capacitar para entendermos melhor como funciona esta Geração Alpha. Num processo que envolve a todos, vamos construir juntos os melhores caminhos para a formação dessas crianças e adolescentes.

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Waldyr Hoffman

Mestre em Teologia Pastor da IELB em Joinville e-mail: waldyr.h@uol.com.br

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