É preciso ser realista com o novo ano. A pandemia até pode acabar, mas vamos continuar experimentando o ódio e a infidelidade, a injustiça e a desunião.
Precisamos de
quatro coisas no Ano Novo para uma vida próspera e feliz. De todas elas, sem
exceção. Igual ao pão que precisa de quatro ingredientes – farinha, fermento,
água e sal. É desses ingredientes que trata o salmista quando implora: “Faze
com que prosperemos de novo, ó Deus, nosso Salvador”. Depois de sublinhar que
Deus sempre está pronto para nos ajudar, revela a receita para uma vida
próspera e feliz: “O amor e a fidelidade se encontrarão, a justiça e a paz se
abraçarão” (Sl 85.10).
Amor e
fidelidade, justiça e paz? Será que é disso que precisamos? Mas e o dinheiro e
a saúde? Não podemos mudar o salmo? Dizer que o dinheiro e a saúde se
encontrarão? Aliás, este foi o dilema nesses dois anos de pandemia, o mundo
precisou escolher entre economia e saúde quando as duas coisas não puderam se
encontrar e se abraçar. Essa é a nossa constante briga nas encruzilhadas da
vida. Ou seja, para ficar com certas coisas temos que deixar de lado outras.
Mas será que não existe um jeitinho?
Em algumas
situações não tem jeito, é preciso desistir de algumas coisas para ficar com o
que é mais importante. Como agora, por exemplo, rejeitar abraços e aglomerações
para manter a saúde e a vida. Mas quando o salmista diz que o amor e a
fidelidade podem se encontrar, e que a justiça e a paz podem se abraçar, então
ele está falando de algo parecido com o dilema “saúde ou abraço”.
O amor ao
qual se refere o texto bíblico também é traduzido por compaixão, misericórdia,
bondade. Enquanto fidelidade também pode ser verdade, honestidade, exatidão. No
mundo onde todos cometem erros, a verdade sempre terá obstáculos para conviver
com o amor. Por exemplo, um juiz honesto nas suas decisões precisa deixar de
lado a compaixão para ser correto. Quando o salmista segue dizendo que “a
justiça e a paz se abraçarão”, aponta para um conflito semelhante. Fazer
justiça na realidade humana é provocar a guerra, a inquietação, a revolta.
Percebe-se,
portanto, que o salmo está tratando de uma situação distante da nossa vida no
dia a dia. Mas, ao mesmo tempo, próxima e possível. Isso porque o texto está
apontando para Cristo. Quando Paulo diz que “pelo sacrifício de Cristo, Deus
mostra que é justo” (Rm 3.26), lembra exatamente desse abraço da justiça com a
paz.
É preciso ser
realista com o novo ano. Ele não vai ser muito diferente do ano velho. A
pandemia até pode acabar, mas vamos continuar experimentando o ódio e a
infidelidade, a injustiça e a desunião. Tentar resolver isso com as velhas
promessas do “tudo se realize no ano que vai nascer”, só funciona nos
nossos desejos e votos. Precisamos da vontade e do amor daquele que olha com
justiça lá do céu (Sl 85.11).
É a
receita do pão para um ano próspero e feliz. Ou, como disse Jesus: “Eu sou o
pão da vida”.
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