O que aconteceu com a escola – e com o estudo –, hoje mais associados a obrigações, deveres e trabalho árduo do que a “festa da alma”?
No artigo anterior (Mensageiro
Luterano, março 2022, p.13), começamos a elogiar o ócio, no sentido de skholé, a serena e festiva atitude da
alma, disponível para o mirandum (aquilo
que suscita a admiração). Essa atitude do espírito – que, naturalmente,
pressupõe que não nos deixemos sucumbir ao workaholism
(compulsão pelo trabalho) e
ao embotamento que as diversas trabalheiras do dia a dia nos querem impor – é o
sentido do Terceiro Mandamento, o do repouso. Da skholé, também fala o salmo 46.10: “Aquietai-vos
(skholasate) e sabei que eu sou Deus”.
Não por acaso, o próprio nome “escola” remete imediatamente a skholé, lugar por excelência dessa
festa de admiração e de “estudo” (esta palavra, studio, como vimos, significa originariamente algo que se faz com muito
gosto, amor e entusiasmo...).
Mas, então, o que aconteceu com a escola – e com
o estudo –, hoje mais associados a obrigações, deveres e trabalho árduo do que
a “festa da alma”? O que é que perdemos no meio do caminho?
Jean Lauand, professor titular da Faculdade de
Educação da USP e professor colaborador do Colégio Luterano São Paulo, insiste
na urgente necessidade de resgate de uma Pedagogia da Admiração, proposta por
Josef Pieper, um dos mais importantes filósofos alemães do século 20.
Se os alunos forem incapazes de ler o mundo, de
vibrar com o conhecimento, com o olhar da admiração, irão se sentir cada vez
mais entediados e deslocados na escola. O ensino de literatura, de história, de
línguas, de matemática e ciências, etc., que deve ser a fantástica e prazerosa
descoberta da grandeza do humano, corre o risco de ficar reduzido a uma
burocrática transmissão de informações, sem muito significado. E fica esquecida
a admiração.
Não se trata de uma mudança no “conteúdo” do
que se ensina, mas do modo como se aborda o mesmo conteúdo.
Tomo um exemplo do próprio dr. Lauand, a
propósito do ensino de língua francesa. O francês dispõe de duas palavras para
esperança: espoir e espérance. A primeira tende ao plural,
dirige-se às mil esperanças “espoirs” da vida – que a inflação esteja contida,
que eu permaneça no meu emprego, que meu time se saia bem no campeonato, que os
exames de saúde não tragam nenhum resultado que cause apreensão, que os rumores
de conflitos e guerras ao redor do mundo não se confirmem etc. Já espérance se emprega quase que
exclusivamente no singular. Uma educação, digamos, somente preocupada com
pontuação no Enem, pararia por aí: é um fato gramatical da língua e isso basta.
Mas para a Pedagogia da Admiração e da skholé,
pelo contrário, esse “fato gramatical” é ponto de partida para uma consideração
filosófica (afinal, a linguagem é um laboratório para o filosofar) de extrema
importância, pois se refere a nada menos que à virtude teologal da Esperança.
Esta dirige-se à única, singular e decisiva esperança, a de "acabar
bem", “dar-se bem” não deste ou daquele ponto de vista (os famosos S:
saúde, segurança, saldo, sucesso etc.), mas “dar-se bem” simpliciter, pura e simplesmente, “enquanto ser humano”, ou para o
cristão: a salvação.
Há outro genial e incrível – prossegue Lauand –
fato gramatical no francês: o verbo espérer requer, “por curiosa
exceção", em sua forma afirmativa, o modo indicativo e não o subjuntivo. Assim,
não se diz: "J'espère que tout finisse bien" (espero que tudo
acabe bem), mas "J'espère que tout finira bien" (espero que
tudo acaba bem). Novamente, a língua francesa traz em seu bojo uma profunda
consideração teológica: que a verdadeira, radical e definitiva Esperança (a que
nos é dada por Deus em Cristo) traz consigo a certeza, incompatível com o subjuntivo.
Continuaremos no próximo artigo.
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