Às vezes só precisamos de 1%


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05/05/2022 #Reflexão #Mulheres #Editora Concórdia #Exclusivo Assinantes

Histórias inspiradoras – Especial Dia das Mães - Parte 3

Às vezes só precisamos de 1%

Na Bíblia há muitos modelos de mães corajosas, fiéis, humildes, guerreiras. Podemos apresentá-las como exemplos de milagres de Deus para mães de hoje que passam por situações difíceis. Mulheres atuais que se identificam com mulheres da Bíblia, que confiam que Deus podia fazer o impossível a olhos humanos.

Conversamos com algumas mulheres que têm histórias incríveis para contar. Acompanhe e louve a Deus conosco pela vida delas e de tantas outras mães com milagres para contar.

Às vezes só precisamos de 1%

Em março de 2017, sofri uma queda durante um jogo de vôlei com o grupo de jovens na Congregação Rei Jesus, Novo Hamburgo, RS. Comecei a sentir muita dor. Fiz exames e foi constatado que tive uma torsão de ovário, onde apareceu um corpo estranho, não identificado, que poderia ser câncer. Fui submetida a uma cirurgia de urgência em 29 de março de 2017, para a retirada do ovário direito. Durante esse procedimento, também descobri que tinha endometriose. Foi retirado um endometrioma grande, com cerca de 10 centímetros. Logo iniciei tratamento medicamentoso para endometriose.

Nessa época, o Guilherme e eu estávamos noivos. Casamos no dia 24 de junho de 2017. Na cirurgia que eu havia feito, as chances de gravidez já haviam diminuído muito. E o tratamento para endometriose diminui muito a produção de hormônios. Então fomos investigar se eu realmente teria chances de engravidar.

Em 2019 fiz um exame que mostrou que as trompas estavam obstruídas, e precisaria fazer uma videolaparoscopia com o intuito de desobstruir a trompa e limpar os focos de endometriose. Eu tinha passado no concurso para escrivã da polícia civil, e o curso de formação da Academia de Polícia, a princípio, começaria em novembro. Decidi fazer a videolaparoscopia antes de iniciar o curso, em setembro. No fim o governo decidiu prorrogar o curso para março de 2020, o que foi muito bom para mim.

Em 17 de setembro de 2019 fui fazer a videolaparoscopia. Durante o procedimento tive uma hemorragia grave e os médicos precisaram abrir meu abdômen inteiro com urgência. Como a hemorragia foi por causa do pinçamento de uma das veias principais, minha perna direita ficou sem circulação e acabei tendo uma trombose. Tive síndrome compartimental, o que me colocou em risco de perder o membro. Precisaram fazer procedimentos para salvar a perna. Nessa hemorragia perdi cerca de 4,3 litros de sangue. Fiquei em coma dois dias e meio, cinco dias na UTI e 39 dias internada.

No hospital tive dias muito alegres e também muito difíceis. Em comparação a outros pacientes, percebi como a espiritualidade, a fé e muitos amigos orando por mim fizeram a diferença. Não teve um dia que fiquei sozinha. A família, meu esposo e amigos sempre estiveram presentes. Fiz muita fisioterapia e tratamentos para recuperação, mesmo depois de sair do hospital.

Em março de 2020, eu ainda não estava totalmente recuperada, e o curso da polícia começou. Eu foquei totalmente nisso. Me dediquei muito. Eu trabalhei quase um ano, e então meu esposo e eu decidimos verificar quais seriam nossas reais chances de ter um filho, a partir de tudo o que tinha acontecido. Fomos então consultar uma clínica especializada. Os exames mostraram que eu tinha uma baixa produção de óvulos. Por ter só um ovário e por todo o resto que tinha acontecido, a médica disse que só nos restava fazer uma fertilização. Mas eu pedi para ela me dizer se realmente não havia nenhuma chance. Ela então respondeu que não poderia garantir 100%, mas colocou tudo na mesa, desenhou e disse que tínhamos 1% de chance de engravidar naturalmente. Eu perguntei então por quanto tempo poderíamos tentar naturalmente. E ela nos deu seis meses.

Saímos de lá muito chateados e tristes. Conversamos bastante e decidimos tentar esse 1%.

Ainda brinquei com meu esposo, que nas letras miúdas do contrato da videolaparoscopia no hospital diz que 2% de pessoas podem ter intercorrências. Então se eu já tinha sido parte dos 2%, porque não poderíamos ser o 1%? A gente só precisava desse 1%.

Aí decidimos tentar e não comentamos com ninguém, porque as chances eram pequenas. No último mês deu uma tristeza, porque estávamos chegando no fim do prazo e nada tinha acontecido. Mas ao mesmo tempo, a gente relaxou e eu comecei a me sentir diferente. Fazia minhas orações com a mão na barriga, parecia que eu sabia.

Um dia antes de vir a menstruação, fiz café de manhã e estava vendo alguns vídeos, chorei com um vídeo bobinho. Me achei diferente. Fiz um teste, mas não apareceu nada. No dia seguinte deveria menstruar, mas não veio, aí comprei outro teste de farmácia e fiz no trabalho, escondido, para não dar falsa esperança para meu esposo. Nesse apareceu uma segunda linha bem clarinha. Mas decidi fazer o exame de sangue. Ainda deu baixa contagem do hormônio, mas já deu positivo. Nesse dia meu esposo trabalhava até madrugada. Quando ele chegou, fiz uma surpresa para ele. Deixei uma roupinha de bebê com o teste e fiz um vídeo dele chegando em casa e encontrando a surpresa.

Então, no dia 16 de março de 2022, a Clara chegou, com 49,5 cm, forte e saudável. Eu estava com muito medo de fazer cesárea por causa de tudo o que tinha acontecido. Um dia antes da cesárea, mandei foto da saída do hospital, em 2019, para meu esposo, e disse para ele que agora a saída seria diferente. No dia em que ela nasceu eu fiquei muito calma, muito tranquila.

Não tem como descrever esse sentimento que está em nós. É uma bênção sem tamanho. Até me pergunto se mereço tanto. Ela veio sob medida. Olho para ela e só vejo a mão de Deus. Faz tudo valer a pena, mesmo com tantas dificuldades, como agora para mamar, por exemplo. Ela é tudo para nós.

Digo que devemos usar a fé a nosso favor e acreditar que é possível. Tem momentos em que ouvimos um prognóstico e tomamos aquilo como verdade. Mas, às vezes, a gente só precisa de 1%.

Embora tenha tido dificuldades, a mão de Deus esteve em todos os passos, em cada momento. Se o curso da polícia não tivesse sido adiado, eu teria que ter desistido.

Se eu não tivesse passado por tudo, talvez eu não seria a mãe que a Clara precisava que eu fosse.

O importante é ver que Deus está em tudo. Ele dá dificuldade e dá força também.

Mileine Pires Ferreira

Dois Irmãos

Congregação Rei Jesus, Novo Hamburgo, RS

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Daiene Bauer Kühl

Jornalista, Curitiba

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