Professor Donaldo Schuler


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19/05/2022 #Congregações #Artigos #Editora Concórdia

Lembrem-se dos seus líderes, os quais pregaram a palavra de Deus a vocês [...] honrem sempre os que são como ele (Hb 13.7; Fp 2.29)

Professor Donaldo Schuler

       Cerca de 450 pastores passaram pelas aulas do prof. Donaldo durante o tempo em que lecionou no Pré-Seminário e no Seminário Concórdia em Porto Alegre e em São Leopoldo, RS, sem contar os alunos de pós-graduação e os que não seguiram a carreira ministerial. Ele marcou época, e, com certeza, cada aluno tem alguma experiência marcante a relembrar. Prof. Donaldo levou os seus alunos para dentro das Escrituras, ensinando-os a decifrar os segredos da língua grega e a valorizar o sentido original das palavras.

      Seu currículo acadêmico é extenso e pouco conhecido no âmbito da IELB. Prof. Donaldo é reconhecido nacional e internacionalmente. Mas Deus conhece os seus filhos e sabe os dons, capacidades e oportunidades que cada um de nós recebeu.

      Das últimas vezes em que nos encontramos, sempre mostrou muito interesse pela missão na África e pela situação dos irmãos nas igrejas daquele continente.

      Convidei três colegas, ex-alunos do Prof. Donaldo, para escreverem um pouco sobre suas lembranças e experiências no convívio com o professor.

      A recomendação do apóstolo Paulo em Filipenses 2.29 certamente se aplica bem ao professor Donaldo: “Honrai sempre a homens como esse”.

 

Respeito e admiração

Tive o privilégio de ter o professor Donaldo como mestre no Seminário Concórdia. Suas aulas e sua personalidade eram cativantes por causa do extraordinário conhecimento do conteúdo que lecionava e a maneira hábil com que o transmitia. Nas aulas de interpretação bíblica, bastava-lhe uma cópia do Novo Testamento grego na mão. Eu fazia grande esforço para tomar nota do conteúdo lecionado, visto que ele era expresso com clareza e profundidade. Não dava para perder. Quem dos ex-alunos se esqueceria das exposições do Sermão do Monte?

Uma vez por semana, todos os alunos do seminário se reuniam numa mesma sala para um momento de reflexão sobre um texto do Novo Testamento. O professor Donaldo escolhia aleatoriamente os alunos para lerem e traduzirem um texto na língua grega. Torcia para que naquela hora me tornasse invisível aos olhos do professor e não ser escolhido para a tarefa!

Sendo mestre e escritor respeitado pelo conhecimento da cultura grega, o professor escrevia semanalmente para um conhecido jornal de Porto Alegre. Ele me convidou para datilografar os manuscritos dele, tarefa que às vezes era desafiante porque não conseguia decifrar algumas expressões desconhecidas para mim.

A família do professor Donaldo também merece menção pelo carinho estendido aos alunos. Tive a alegria de ministrar aulas de datilografia para as filhas do professor Donaldo. Coisas daquele tempo!

Duas palavras resumem a personalidade, o caráter e a maestria do professor: respeito e admiração. Respeito, pela posse duma mente brilhante fertilizada com sabedoria e vasto conhecimento. Admiração, porque sua vida e seu magistério continuam impactando muitas pessoas.

No ano passado, coube-me a rara oportunidade de participar de uma entrevista do professor Donaldo à Rádio Cristo Para Todos. Respeito e admiração pelo professor se renovaram para mim. Fiquei chocado quando, em dado momento, me chamou de senhor! Que é isso?

Uma pergunta que há décadas está no ar: Professor Donaldo, quando o mundo teológico e a igreja serão presenteados com um comentário seu sobre o evangelho de São Mateus?

(Pastor Arno Bessel, Plymouth, Inglaterra)

 

 

Raciocínio claro, profundo, não complicado

       Posso falar de minha experiência como aluno. Como de costume, o professor nem sempre sabe (raras vezes sabe) o impacto que causou em seus alunos. (O professor da gente sempre é mais importante do que os alunos que a gente tem) Quando nossa turma ingressou no Seminário Concórdia (em 1974), o dr. Donaldo era diretor do Curso de Letras da UFGRS. Para nós, sempre foi uma grande honra ter alguém da estatura intelectual do Donaldo como professor. (A gente via ele saindo. Na verdade, havia um carro oficial que vinha buscá-lo.) Em sala de aula, ele era exigente. Talvez pudesse ter exigido mais de seus alunos. Algo que muito admirávamos nele era (e continua sendo) a sua capacidade de ter um raciocínio claro, não complicado, mas ao mesmo tempo profundo. (Jamais se poderia esperar dele uma gramática grega, por exemplo, com longa lista de exceções à regra. Ele focalizava a regra. Ponto.)

       As reflexões que ele fazia sobre o texto do Sermão do Monte impactaram todos os seus alunos. Não se poderia esperar uma afirmação óbvia, porque sempre havia um ângulo diferente, algo que não nos havia ocorrido. (Em tempos recentes, em palestras, muitos se impressionaram com a capacidade do dr. Donaldo de relacionar as coisas com o conceito grego de Lógos. Na verdade, Donaldo Schüler representa bem aquilo que o poeta Mário Quintana expressou: “Quando a gente pensa que encontrou algo novo, descobre que um grego já tinha dito algo nesse sentido anteriormente”.)

      O prof. Donaldo sempre foi um modelo de excelência aos seus alunos, também na maneira de expressar as ideias. Seu trato da língua portuguesa em sala de aula trazia o “currículo oculto” de que as coisas da Teologia podem (precisam!) ser expressas com nobreza!

     Em Donaldo Schüler, o dom de desenvolver um raciocínio profundo a partir de coisas aparentemente simples, vem acompanhada de uma capacidade de, em poucos instantes, produzir um texto. Várias vezes ouvi o testemunho (especialmente do pastor Leopoldo Heimann) de que, encontrando o prof. Donaldo no corredor, lembrava a ele que estava “devendo” uma reflexão sobre uma das petições do Pai-Nosso, para ser publicada no Mensageiro Luterano. A resposta (típica) do prof. Donaldo, ali no corredor ou diante da sala dos professores: “Pois bem...”, e pegava um pedaço de papel, uma caneta (ou lápis) e, no ato, escrevia uma meditação, sucinta, mas ao mesmo tempo profunda. (Prof. dr. Vilson Scholz, São Leopoldo, RS)

 

Conhecimentos e simplicidade

          Quando eu cursei História na Universidade de Passo Fundo, RS, meu professor de literatura me olhou com certo desdém quando eu lhe disse acreditar em Adão e Eva, não apenas como personagens da literatura. A coisa mudou e comecei a ser respeitado quando ele trouxe para estudo “O Tatu”, de autoria de Donaldo Schüler, recém-lançado, para discussão. Eu disse, de pulmão cheio, que o autor desse livro foi meu professor de latim, grego, filosofia e literatura. Além disso, foi meu orientador no TCC (que não tinha esse nome na época), cujo tema era a “mudança de mentalidade” pregada por Jesus no início de seu ministério (Mt 4.17).

         Encontrei o professor Donaldo vinte anos após minha formatura e tive o privilégio de arejar meus conhecimentos teológicos em cursos de especialização no Seminário Concórdia. Como ganhei a incumbência de levá-lo e trazê-lo de Porto Alegre a São Leopoldo, fui mais enriquecido com suas conversas informais. Esta proximidade me encorajou a fazer-lhe um convite para conversas teológicas com os pastores do Distrito Porto-alegrense da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB). Esses encontros eram mensais e foram muito bem aproveitados pelos colegas num determinado momento. Posteriormente, formamos um grupo de estudos bíblicos na congregação e convidamos o professor Donaldo para colocar em debate os temas sugeridos. Ele aceitou prontamente e nos contagiou com seus conhecimentos e sua simplicidade em nos presentear com sua presença.

        Donaldo Schüler é reconhecido como um dos grandes escritores gaúchos, foi patrono da 50ª Feira do Livro de Porto Alegre em 2004; mas, para mim, ele continua sendo o professor do Seminário Concórdia. Certo dia, quando viúvo, o professor Donaldo agendou uma conversa comigo sem dar pista do conteúdo desse encontro. Claro, fiquei apreensivo! Na hora marcada, ele apareceu acompanhado da viúva Carmen Cynira Otelo Gonçalves, para me convidar como oficiante do casamento deles. Fiquei lisonjeado ao oficiar esta cerimônia e muito alegre ao vê-los felizes e participativos na vida da igreja. (Pastor Edgar Lemke, Porto Alegre, RS)

 

 

DONALDO SCHÜLER

Nascimento: 25/09/1932, em Videira, Santa Catarina

Filho de Alvim Schüler e Irene Krüger

Formatura: 12/12/1955, no Seminário Concórdia, em Porto Alegre, RS

Ordenação: na Congregação Concórdia, em 1956

Data do casamento: 03/09/1959

Esposa: Bertha Schwarz (falecida em 31 de julho de 2015)

Filhos: Lavínia, Lívia, Lisiane e João Paulo

Esposa: Carmen Cynira Otero Gonçalves

Data do casamento: 15/10/2016

Enteados: Fábio, Débora e Laura Otero Gonçalves

Locais em que serviu:

Estágio em Hulha Negra, RS

Pastor:  Congregações Concórdia e Da Cruz, de Porto Alegre, RS

Professor no Colégio Concórdia, Porto Alegre, RS, aulas eventuais

Professor no Pré-Seminário Concórdia, em Porto Alegre, RS, a partir de 1968

Professor de Teologia no Seminário Concórdia em Porto Alegre, RS, de 1969 a 1988

Professor Emérito desde 1988

Mora em Porto Alegre, RS

No dia 11 de dezembro de 2021, recebeu da Congregação de Professores do Seminário Concórdia da IELB, por ocasião da formatura de pastores e diáconos no Seminário Concórdia, em São Leopoldo, a medalha Christus Dominus, concedida em 2020.

Cursou Letras Clássicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Títulos acadêmicos: Doutor em Letras e Livre Docente pela UFRGS em 1974; professor titular de Língua e Literatura Grega, UFRGS; diretor do Curso de Letras da UFRGS de 1972 a 1976; Pós-doutor em Letras pela USP; Professor Emérito da UFRGS em 2007. Escritor e tradutor.

 

 

 

Carlos Walter Winterle

Pastor emérito

cwwinterle@gmail.com

 

Colaboraram com este artigo:

Pastor e professor dr. Vilson Scholz, pastor Edgar Lemke, pastor Arno Bessel, Carmen Cynira Otelo Gonçalves, Instituto Histórico e Secretaria da IELB

Carlos Walter Winterle

Santa Cruz do Sul, RS cwwinterle@gmail.com

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