Por que peste? Onde estava você?


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09/06/2022 #Reflexão #Editora Concórdia #Estudos #Exclusivo Assinantes

Jesus intervém quando a casa desaba. No abandono, Jesus, o abandonado, se aproxima de abandonados.

Por que peste? Onde estava você?

Jó era homem de negócios, lia, pensava, aconselhava. A mulher e os sete filhos estavam na lista de suas orações. Aflitos o procuravam. De repente o afortunado perde os rebanhos, perde os filhos, perde a saúde, perde a admiração, perde amigos, perde o carinho da mulher, perde tudo. Por quê? Os interlocutores – sobraram três – inventavam infrações para explicar os sofrimentos de Jó. No sofrimento, o atormentado ouvia palavras acusadoras, proferidas por pessoas sadias. Quando Jó, triturado pelos males, amaldiçoa o nascimento, aproxima-se do abismo.

Uma tempestade tinha desabado sobre Jó, no meio da tempestade soa a voz de Deus: Onde estava você? (Jó 38.4). Deus fala de fundamentos, dos fundamentos de uma casa, a casa em que vivemos, em que respiramos, em que nos alimentamos, em que amamos, casa iluminada pelo sol e pela lua, olhos aparelhados de lentes poderosas observam corpos a bilhões de anos luz, não encontram nada igual à Terra, até o momento a casa em que moramos é única.  Por quê? Onde estava você?

Por que lembrar Jó? Por ignorarmos como Jó, a origem dos nossos males. Por que milhões morrem de fome, de doenças incuráveis? Por que filas intermináveis de desempregados? Por que uns têm sucesso e outros fracassam?  Por que bombardeios? Por que desalojados? Por que refugiados? Por que exilados? Por que peste? Por que morremos? O que adianta planejar vida estável? O que adianta encher a cabeça de reflexões sábias? O que adianta constituir família? O que adianta amar? Por que eu estou doente e outros passeiam saudáveis? Por que não somos felizes? Trabalho para me sustentar, cuido dos meus, não quero o mal de ninguém. Por que eu?

Onde estava você? A voz divina não fala de doença, não fala de sofrimento, não fala de abandono. Deus fala da construção do mundo. O fundamento está em discussão. Como entender os detalhes se não entendemos o fundamento? Jó, o sábio, não encontra resposta por ignorar tudo, sobre si mesmo não sabia nada, ele se declarava justo. Começa a conhecer-se diante de Deus. Não saber é o ponto de partida, Jó precisa esvaziar-se do que sabe para que Deus o ilumine.  Onde estava você?  Debruçado sobre livros? Afundado em bibliotecas? Abismado em tarefas? Lutando pela sobrevivência? Onde estava você? Diante do Deus poderoso, começamos a compreender nossa falta de poder.

O fundador do universo fala a um você, a uma partícula de pó. Jó não deixou marcas nos acontecimentos mundiais. Apareceu e sumiu como a maioria de nós. Num universo de bilhões de galáxias, numa galáxia de trilhões de corpos estelares, onde estava você? Por que Deus nos fala? Por que Deus se interessa por nós? Cada um de nós é um mundo, um universo, universo que não se repete. Desde o primeiro casal, bilhões já passaram pela terra, somos universos que colidem, amam, procriam, amparam, destroem, somem.

Vibrações em nós levam ao haja luz, a palavra que iluminou o universo. Deus deitou os fundamentos, os do universo e os nossos. A história do universo e da humanidade começa e termina na Palavra, “no início era a Palavra”, a Palavra sustenta todas as palavras do mundo. A Palavra é o fundamento, a Palavra se fez homem, nasceu e viveu como todos nós. Alimenta famintos, cura doentes, consola aflitos, anuncia a paz. Quando perguntaram onde morava, Jesus, a Palavra, respondeu: animais se abrigam em cavernas, aves têm ninhos, eu não tenho onde me abrigar. O Ungido desceu à dor para redimir os que vivem na dor. Sacerdotes não o entenderam, autoridades não o entenderam, eruditos não o entenderam, discípulos não o entenderam, Cristo morreu entre dois criminosos. Referia-se a si mesmo com uma expressão enigmática: “Filho do homem”, um homem que teve a morte que nenhum de nós deseja, tortura até o último suspiro, um homem que na hora de morrer proferiu estas palavras terríveis: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”, esse homem não soprou o último alento no espaço vazio, disse: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”.

Jesus intervém quando a casa desaba. No abandono, Jesus, o abandonado, se aproxima de abandonados. A voz na tempestade descentra Jó, outro é o centro, Deus nos ampara no abandono, na tempestade dos nossos sofrimentos, o sofrimento nos aproxima de outros sofredores, as dores de todos concentram-se em Jesus, Jesus sofreu a nossa dor para nos levar a um lugar além da dor

 

DEUS FALA COM JÓ (Parte do diálogo Jó 38 – NAA)

“Então, do meio de um redemoinho, o Senhor respondeu a Jó e disse: “Quem é este que obscurece os meus planos com palavras sem conhecimento? Cinja os lombos como homem, pois eu lhe farei perguntas, e você me responderá.”

 

Eu lancei os fundamentos da terra.

Onde você estava, quando eu lancei os fundamentos da terra? Responda, se você tem entendimento. Quem determinou as medidas da terra, se é que você o sabe? Ou quem estendeu sobre ela uma linha de medir? Sobre o que estão firmadas as suas bases ou quem lhe assentou a pedra angular, quando as estrelas da alva, juntas, alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus gritavam de alegria?” “Ou quem encerrou o mar com portões, quando irrompeu do ventre, quando eu lhe pus as nuvens por vestimenta e a escuridão por fraldas, quando eu lhe tracei limites, e lhe pus ferrolhos e portas, e disse: ‘Até aqui você pode chegar, mas deste ponto não passará. Aqui se quebrará o orgulho das suas ondas’?”

 

De onde vêm a luz e a escuridão?

“Alguma vez na vida você deu ordens à madrugada ou mostrou ao amanhecer o seu lugar, para que agarrasse a terra pelas extremidades e dela sacudisse os perversos? A terra se modela como o barro debaixo do selo, e tudo se apresenta como um vestido. Dos ímpios é retirada a sua luz, e o braço levantado para ferir se quebra.” “Você foi até as nascentes do mar ou percorreu o mais profundo do abismo? Será que a você foram reveladas as portas da morte? Você viu essas portas da região tenebrosa? Você tem noção clara da largura da terra? Responda, se você sabe tudo isso.” “Onde está o caminho para a morada da luz? E, quanto às trevas, onde é o seu lugar, para que você as conduza ao seu território e conheça o caminho para a sua casa? Você sabe isso, porque nesse tempo já era nascido e porque é grande o número dos seus dias!”

 

Quem faz a neve?

“Você alguma vez entrou nos depósitos da neve ou viu os reservatórios do granizo, que eu guardo até o tempo da angústia, até o dia da batalha e da guerra? Qual é o caminho para o lugar onde se difunde a luz e onde o vento leste se espalha sobre a terra?” Quem faz a chuva, o orvalho, o gelo e a geada? “Quem abriu canais para o aguaceiro ou caminho para os relâmpagos e trovões, para fazer chover sobre a terra onde não há ninguém, e nos lugares desertos onde ninguém mora; para dessedentar a terra deserta e assolada e para fazer crescer os renovos da erva? Por acaso a chuva tem pai? Ou quem gera as gotas de orvalho? De que ventre procede o gelo? E quem dá à luz a geada do céu? As águas ficam duras como a pedra, e a superfície das profundezas se torna compacta.” Você conhece as leis que governam o céu? “Será que você pode atar as correntes do Sete-estrelo ou soltar as cordas do Órion? Você pode fazer aparecer as constelações a seu tempo ou guiar a Ursa Maior com os seus filhos? Você conhece as leis que governam os céus, e pode estabelecer a sua influência sobre a terra?” Quem pode derramar a chuva? “Você é capaz de levantar a sua voz até as nuvens, para que a abundância das águas cubra você? Você pode dar ordens aos relâmpagos, para que saiam e lhe digam: ‘Às suas ordens!’? Quem pôs sabedoria no coração ou deu entendimento à mente? Quem pode numerar com sabedoria as nuvens? Ou os cântaros dos céus, quem os pode despejar, para que o pó se transforme em massa sólida, e os torrões se apeguem uns aos outros?”

 

Quem alimenta os animais e as aves?

“Será que é você que caça a presa para a leoa ou mata a fome dos leõezinhos, quando se agacham nos covis e ficam à espreita nas suas covas? Quem prepara o alimento para o corvo, quando os seus filhotes clamam a Deus e andam vagueando, por não terem o que comer?”

(Leia em sua Bíblia todo o diálogo final de Deus com Jó – Jó 38.1-42.6)

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Donaldo Schüler

Professor emérito e escritor donaldoschuler@yahoo.com

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