Jó era
homem de negócios, lia, pensava, aconselhava. A mulher e os sete filhos estavam
na lista de suas orações. Aflitos o procuravam. De repente o afortunado perde
os rebanhos, perde os filhos, perde a saúde, perde a admiração, perde amigos,
perde o carinho da mulher, perde tudo. Por quê? Os interlocutores – sobraram
três – inventavam infrações para explicar os sofrimentos de Jó. No sofrimento, o
atormentado ouvia palavras acusadoras, proferidas por pessoas sadias. Quando
Jó, triturado pelos males, amaldiçoa o nascimento, aproxima-se do abismo.
Uma
tempestade tinha desabado sobre Jó, no meio da tempestade soa a voz de Deus: Onde
estava você? (Jó 38.4). Deus fala de fundamentos, dos fundamentos de uma
casa, a casa em que vivemos, em que respiramos, em que nos alimentamos, em que amamos,
casa iluminada pelo sol e pela lua, olhos aparelhados de lentes poderosas
observam corpos a bilhões de anos luz, não encontram nada igual à Terra, até o
momento a casa em que moramos é única.
Por quê? Onde estava você?
Por
que lembrar Jó? Por ignorarmos como Jó, a origem dos nossos males. Por que
milhões morrem de fome, de doenças incuráveis? Por que filas intermináveis de
desempregados? Por que uns têm sucesso e outros fracassam? Por que bombardeios? Por que desalojados? Por que refugiados? Por que exilados? Por que peste? Por que morremos? O que adianta planejar vida estável?
O que adianta encher a cabeça de reflexões sábias? O que adianta constituir família? O que adianta amar? Por que eu estou doente e outros passeiam saudáveis? Por que não somos felizes? Trabalho para me sustentar, cuido dos meus, não quero o mal de
ninguém. Por que eu?
Onde estava
você? A voz divina não fala de doença, não fala de sofrimento,
não fala de abandono. Deus fala da construção do mundo. O fundamento está em
discussão. Como entender os detalhes se não entendemos o fundamento? Jó, o sábio,
não encontra resposta por ignorar tudo, sobre si mesmo não sabia nada, ele se
declarava justo. Começa a conhecer-se diante de Deus. Não saber é o ponto de
partida, Jó precisa esvaziar-se do que sabe para que Deus o ilumine. Onde estava você? Debruçado sobre livros? Afundado em bibliotecas? Abismado em tarefas?
Lutando pela sobrevivência? Onde estava
você? Diante do Deus poderoso, começamos a compreender nossa falta de poder.
O
fundador do universo fala a um você, a uma partícula de pó. Jó não deixou
marcas nos acontecimentos mundiais. Apareceu e sumiu como a maioria de nós. Num
universo de bilhões de galáxias, numa galáxia de trilhões de corpos estelares, onde
estava você? Por que Deus nos fala? Por que Deus se interessa por nós? Cada
um de nós é um mundo, um universo, universo que não se repete. Desde o primeiro
casal, bilhões já passaram pela terra, somos universos que colidem, amam,
procriam, amparam, destroem, somem.
Vibrações
em nós levam ao haja luz, a palavra que iluminou o universo. Deus deitou os
fundamentos, os do universo e os nossos. A história do universo e da humanidade
começa e termina na Palavra, “no início era a Palavra”, a Palavra sustenta
todas as palavras do mundo. A Palavra é o fundamento, a Palavra se fez homem,
nasceu e viveu como todos nós. Alimenta famintos, cura doentes, consola
aflitos, anuncia a paz. Quando perguntaram onde morava, Jesus, a Palavra,
respondeu: animais se abrigam em cavernas, aves têm ninhos, eu não tenho onde
me abrigar. O Ungido desceu à dor para redimir os que vivem na dor. Sacerdotes
não o entenderam, autoridades não o entenderam, eruditos não o entenderam,
discípulos não o entenderam, Cristo morreu entre dois criminosos. Referia-se a
si mesmo com uma expressão enigmática: “Filho do homem”, um homem que teve a
morte que nenhum de nós deseja, tortura até o último suspiro, um homem que na
hora de morrer proferiu estas palavras terríveis: “Deus meu, Deus meu, por que
me abandonaste?”, esse homem não soprou o último alento no espaço vazio, disse:
“Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”.
Jesus
intervém quando a casa desaba. No abandono, Jesus, o abandonado, se aproxima de
abandonados. A voz na tempestade descentra Jó, outro é o centro, Deus nos
ampara no abandono, na tempestade dos nossos sofrimentos, o sofrimento nos
aproxima de outros sofredores, as dores de todos concentram-se em Jesus, Jesus
sofreu a nossa dor para nos levar a um lugar além da dor
DEUS
FALA COM JÓ (Parte
do diálogo Jó 38 – NAA)
“Então,
do meio de um redemoinho, o Senhor respondeu a Jó e disse: “Quem é este que
obscurece os meus planos com palavras sem conhecimento? Cinja os lombos como
homem, pois eu lhe farei perguntas, e você me responderá.”
Eu
lancei os fundamentos da terra.
“Onde
você estava, quando eu lancei os fundamentos da terra? Responda, se você tem
entendimento. Quem determinou as medidas da terra, se é que você o sabe? Ou
quem estendeu sobre ela uma linha de medir? Sobre o que estão firmadas as suas
bases ou quem lhe assentou a pedra angular, quando as estrelas da alva, juntas,
alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus gritavam de alegria?” “Ou quem
encerrou o mar com portões, quando irrompeu do ventre, quando eu lhe pus as
nuvens por vestimenta e a escuridão por fraldas, quando eu lhe tracei limites, e
lhe pus ferrolhos e portas, e disse: ‘Até aqui você pode chegar, mas deste
ponto não passará. Aqui se quebrará o orgulho das suas ondas’?”
De
onde vêm a luz e a escuridão?
“Alguma
vez na vida você deu ordens à madrugada ou mostrou ao amanhecer o seu lugar, para
que agarrasse a terra pelas extremidades e dela sacudisse os perversos? A terra
se modela como o barro debaixo do selo, e tudo se apresenta como um vestido. Dos
ímpios é retirada a sua luz, e o braço levantado para ferir se quebra.” “Você
foi até as nascentes do mar ou percorreu o mais profundo do abismo? Será que a
você foram reveladas as portas da morte? Você viu essas portas da região
tenebrosa? Você tem noção clara da largura da terra? Responda, se você sabe
tudo isso.” “Onde está o caminho para a morada da luz? E, quanto às trevas, onde
é o seu lugar, para que você as conduza ao seu território e conheça o caminho para
a sua casa? Você sabe isso, porque nesse tempo já era nascido e porque é grande
o número dos seus dias!”
Quem
faz a neve?
“Você
alguma vez entrou nos depósitos da neve ou viu os reservatórios do granizo, que
eu guardo até o tempo da angústia, até o dia da batalha e da guerra? Qual é o
caminho para o lugar onde se difunde a luz e onde o vento leste se espalha
sobre a terra?” Quem faz a chuva, o orvalho, o gelo e a geada? “Quem abriu
canais para o aguaceiro ou caminho para os relâmpagos e trovões, para fazer
chover sobre a terra onde não há ninguém, e nos lugares desertos onde ninguém
mora; para dessedentar a terra deserta e assolada e para fazer crescer os
renovos da erva? Por acaso a chuva tem pai? Ou quem gera as gotas de orvalho? De
que ventre procede o gelo? E quem dá à luz a geada do céu? As águas ficam duras
como a pedra, e a superfície das profundezas se torna compacta.” Você conhece
as leis que governam o céu? “Será que você pode atar as correntes do
Sete-estrelo ou soltar as cordas do Órion? Você pode fazer aparecer as
constelações a seu tempo ou guiar a Ursa Maior com os seus filhos? Você conhece
as leis que governam os céus, e pode estabelecer a sua influência sobre a
terra?” Quem pode derramar a chuva? “Você é capaz de levantar a sua voz até as
nuvens, para que a abundância das águas cubra você? Você pode dar ordens aos
relâmpagos, para que saiam e lhe digam: ‘Às suas ordens!’? Quem pôs sabedoria
no coração ou deu entendimento à mente? Quem pode numerar com sabedoria as nuvens?
Ou os cântaros dos céus, quem os pode despejar, para que o pó se transforme em
massa sólida, e os torrões se apeguem uns aos outros?”
Quem
alimenta os animais e as aves?
“Será
que é você que caça a presa para a leoa ou mata a fome dos leõezinhos, quando
se agacham nos covis e ficam à espreita nas suas covas? Quem prepara o alimento
para o corvo, quando os seus filhotes clamam a Deus e andam vagueando, por não
terem o que comer?”
(Leia
em sua Bíblia todo o diálogo final de Deus com Jó – Jó 38.1-42.6)
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