Geração Z: A saúde psíquica dos jovens da Revolução Digital


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24/06/2022 #Artigos #Jovens #Editora Concórdia #Exclusivo Assinantes

Falar é compartilhar um peso, é dar voz ao sofrimento, é ser franco consigo mesmo. A dor não é para ser vivida no silêncio.

Geração Z: A saúde psíquica dos jovens da Revolução Digital

Como é bom encontrar você, leitor, por estas páginas do Mensageiro Luterano. Eu gostaria de compartilhar com você um conteúdo que é bastante pertinente, atual e que precisa de uma especial reflexão. Vou falar sobre os jovens, mais especificamente sobre a geração Z, observando os seus aspectos de saúde mental. Proponho, antes de escrever qualquer palavra sobre a temática, adentrarmos nos diferentes comportamentos dos adolescentes das gerações anteriores, para uma melhor compreensão das características da geração atual. Vale lembrar que cada geração vivenciou um momento histórico e socioeconômico, o que fez com que os fatos marcantes da época influenciassem o comportamento das pessoas. Cada transformação foi um romper da continuidade social, uma ressignificação do paradigma da época, em síntese, um ponto de partida para cada geração. A primeira geração foi chamada de Tradicional, isto é, jovens nascidos até o ano de 1945. Ela acompanhou a Primeira Guerra Mundial, passando por mudanças políticas e socioculturais, proporcionando jovens práticos e dedicados.

A próxima geração foi chamada de Baby Boomers, nascida entre os anos de 1946 e 1964. Na época, com uma boa perspectiva econômica, houve o aumento do índice de natalidade, assim, ela ficou conhecida como Baby Boomers, explosão de bebês. Um grupo que valorizou o emprego fixo e uma vida com estabilidade. A geração seguinte, Geração X, nasceu entre os anos de 1965 e 1977. Foi o tempo de grandes avanços tecnológicos: o primeiro microprocessador, o surgimento do videogame, etc. Uma geração mais questionadora, com dúvidas acerca dos valores, com tendências individualistas, entretanto, não esqueceram do espírito de equipe. A seguinte foi chamada de Geração Y, nascida entre os anos de 1978 e 1994. Os jovens da Geração Y tiveram uma educação acompanhada dos primeiros computadores, da TV a cabo, do surgimento do disquete, do CD e outros. Jovens que aprenderam a compartilhar mais cedo, a divulgar conteúdos, comparar e assim por diante. A Geração Y norteou os primeiros fundamentos acerca dos relacionamentos nas redes sociais. Já a Geração Z são os jovens nascidos a partir dos anos de 1995 e 2010. São os considerados nativos digitais, isto é, eles vieram ao mundo já rodeados por celulares, computadores, serviços de mensagens, dispositivos portáteis e o acentuado número de informações instantâneas. Jovens transpassados pela hiperconectividade. No entanto, até que ponto é saudável estar online o tempo todo?

 

A SAÚDE MENTAL OFFLINE NA ERA DIGITAL

A sociedade contemporânea é mediada pelas inovações tecnológicas. As tecnologias de informação e demais mídias são, digamos assim, as mediadoras das relações humanas atuais. Elas incentivam e produzem padrões, estruturam comportamentos, ainda mais: interferem no contexto político, econômico e social em escala global. Portanto, os meios eletrônicos se tornaram essenciais para a sociedade, tornando-se o elemento central nas atividades humanas. Claro, a tecnologia trouxe muitos benefícios. Pela internet, a pessoa faz tudo, ou quase tudo: compras, consultas médicas, pagamentos, transferências bancárias, ou seja, tudo acontece no sofá de casa. O grande desafio de hoje é saber quem exerce poder sobre quem. Como por exemplo: existem pessoas que dependem emocionalmente de uma quantidade numérica de curtidas em uma dada foto postada em seu Instagram ou Facebook. São indivíduos que dependem da chamada ditadura da felicidade, ou seja, é passar um estado constante de felicidade nas redes sociais, como se o sofrimento não fosse parte da existência humana.

As informações instantâneas e os avanços tecnológicos exigem um sujeito mais ágil e dinâmico diante de ambientes estressores. Assim sendo, com o aumento considerável da cobrança, ele precisa atingir os êxitos pré-estabelecidos. E com o aumento da velocidade informacional, o tempo diminuiu e a intolerância aumentou consideravelmente. As pessoas não têm mais paciência, precisam de tudo para ontem, enfim, o ser humano carece estar se adequando constantemente. É como se ele estivesse atravessando uma permanente etapa de angústia. O período atual possui algumas características próprias: o materialismo, o que importa é ter; hedonismo, a busca sem limites pela excitação; relativismo, não existe uma verdade, tudo é passível de crítica; e a desreferencialização, a perda das referências sociais, isto é, a pessoa decide o que é certo e errado. Tudo isso gera nas pessoas: depressão, ansiedade, individualismo, vazio interior, etc. Eis o contexto histórico da Geração Z: são ativos, estão sempre online e conectados o tempo todo, mas, no que tange à saúde mental: inativos, offline e desconectados; em síntese, precisam de ajuda.

 

DESCONECTAR É PRECISO

Escutar é o primeiro passo para uma ajuda eficiente. A escuta também está relacionada com uma boa comunicação, uma vez que ela demanda desejo, receptividade, vontade e atenção para cada palavra dita pela outra pessoa. Escutar não é apenas com os ouvidos, mas também com os olhos. É olhar para o outro com interesse, dado que o rosto é o livro aberto das emoções. É escutar não com julgamento, mas com amor e empatia. Falar também é um valioso instrumento de ajuda, mas quando escrevo sobre conversar, não estou mencionando o WhatsApp, Messenger, e cada um num cômodo da casa, nada disso. Para a saúde mental, nada substitui uma boa conversa frente a frente. Falar é compartilhar um peso, é dar voz ao sofrimento, é ser franco consigo mesmo. Pela fala, o sofrimento encontra um sentido na cadeia dos discursos, o falar auxilia o afeto, antes dissociado, a ter um sentido e resolução. A dor não é para ser vivida no silêncio.

A convivência é um dos princípios fundamentais da vida. Em tempos de um individualismo desproporcional, as programações com os familiares, passeios com os amigos, frequência nos cultos das congregações, vivência cristã, são excelentes meios para desativar o modo offline da saúde mental contemporânea. Orar, escutar e conversar com Deus é imprescindível. Através do diálogo, da escuta e da convivência, Jesus Cristo mostrou os aspectos do Reino e sua presença no mundo. As orações individuais, em família e congregacional são valiosos caminhos, ou seja, como está escrito na Bíblia: “Volta-te para mim e tem compaixão, porque estou sozinho e aflito. Alivia-me as tribulações do coração; tira-me das minhas angústias” (Sl 25.16-17). Deus promete responder à oração do pecador. Em meio a uma sociedade altamente tecnológica e virtual, Deus irrompe com sua promessa de fidelidade e amor. Desconectar é preciso, mas estar conectado a Jesus Cristo é essencial.

Artur Charczuk

Pastor e psicanalista em São Leopoldo, RS

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