Quanto tempo e quais as patentes
ocupou enquanto bombeiro militar?
Atuei
como bombeiro militar por 23 anos, de janeiro de 1992 a janeiro de 2015. Fui desde
o posto de 2º Tenente até o de Tenente-Coronel, quando pedi a Reserva
Remunerada (aposentadoria por tempo de serviço).
O que o inspirou a buscar essa
profissão?
Minha
formação inicial como Oficial da Brigada Militar foi voltada para o
policiamento ostensivo, após quatro anos de estudos na Academia de Polícia da
Brigada Militar (1987/1990). Trabalhei no policiamento por sete meses, e ao
surgir o concurso interno para Oficial Bombeiro, não tive dúvidas. Após sete
meses de curso na Escola de Bombeiros, em Porto Alegre, RS, fui considerado
apto às funções de Oficial Bombeiro. Isso se deu em janeiro de 1992. A
inspiração veio da aptidão pela carreira militar, e o coroamento estava na
possibilidade de fazer isso no Corpo de Bombeiros, onde a missão é voltada essencialmente
para servir ao próximo.
Qual a principal função e missão
de ser bombeiro?
Conforme
a legislação, está na execução de atividades de
prevenção e de combate a incêndios, ações de buscas e salvamentos, ações de
defesa civil e de polícia judiciária militar aos seus efetivos.
Quais as principais
habilidades/capacidades que se deve ter para ser bombeiro?
Uma
vez que cabe ao bombeiro militar atuar em incêndios, desabamentos, acidentes com produtos perigosos, salvamentos, ações de resgate, cooperar com a defesa
civil, socorrer pessoas em inundações, aplicação e fiscalização da legislação de prevenção contra incêndio, e ações como palestras, algumas habilidades/capacidades são imprescindíveis, das quais destaco: equilíbrio emocional,
desejo de servir, raciocínio rápido, resistência física, disciplina, coragem,
liderança, boa saúde; capacidade de trabalhar em equipe, de trabalhar sob
pressão, de não se abalar quando se depara com pessoas acidentadas e
ensanguentadas, de decidir e de cumprir ordens.
Quais suas maiores
experiências/lembranças desta profissão? Tem alguma história pessoal que pode
compartilhar?
As
melhores recordações estão nas pessoas que pude conhecer, com quem pude conviver
e trabalhar. Como minha função era de comando, englobando coordenação e gestão
de recursos humanos e financeiros, bem como planejamento e fiscalização, foram
nestas áreas que me realizei profissionalmente. Destaco a inauguração de dois
novos quartéis de bombeiro sob meu comando: no município de São Lourenço do Sul
(09/2013) e no bairro Três Vendas, na cidade de Pelotas (11/2013), RS, fruto de
muito trabalho com as comunidades locais e Poder Executivo. Na parte
operacional, destaco uma ocorrência de incêndio em 2007, num prédio residencial
na área central de Pelotas, onde, na prática, vivenciamos a importância dos
equipamentos de prevenção e proteção contra incêndio, principalmente no tocante
às saídas de emergência. Era um prédio muito alto, com área comercial no
térreo, e ocupado principalmente por pessoas idosas. Umas das lojas teve um
princípio de incêndio que se alastrou rapidamente, dada a carga de incêndio
existente, que se tratava basicamente de materiais de informática. Isso gerou
muita fumaça, de coloração negra e de ação sufocante. Como a escada destinada à
saída não era estanque à fumaça, isso ocasionou certo pânico e dificuldade na
evacuação das pessoas, sendo retiradas por escadas por meio da sacada do
prédio. Inclusive os pets foram evacuados. Felizmente, dada a rápida
intervenção das equipes de socorro, o incêndio foi rapidamente contido e não
houve danos às pessoas. Isso serviu como alerta geral para a necessidade de
adequação dos prédios à legislação estadual de prevenção e proteção contra
incêndios.
Quais os principais desafios e
alegrias desta profissão? O que o motiva diariamente? Entendo
que os principais desafios estão na área da prevenção e proteção contra
incêndio. Ainda não temos a cultura da prevenção. Só é lembrada após grandes
catástrofes, e logo esquecida. Existem legislações específicas, porém ainda são
encaradas como mais uma “burocracia” a ser cumprida por empresários e síndicos
na busca de um alvará de funcionamento. Geralmente está associada a gasto e não
como investimento em segurança, e, na maioria das vezes, se puder ser burlada
e/ou “esquecida”, melhor. Salvo raras políticas de gestão, a prevenção contra
incêndio entra no rol das coisas supérfluas de uma edificação, quando deveria
ser o contrário. Deveria ser prioritária desde o planejamento até o acabamento
de uma obra. As alegrias vêm do dever cumprido, do agradecimento recebido por
parte da população, do equipamento adequado ofertado ao profissional bombeiro,
das acomodações dignas, do vencimento que corresponde à missão, e do brilho dos
olhos da criançada quando visita o quartel e pode dar uma voltinha na viatura
com a sirene ligada. A motivação está na superação dos obstáculos, no efetivo
que trabalha com você, no envolvimento com a comunidade, no bem servir ao
próximo.
Nesta profissão, nem sempre tudo
sai como esperado, e algumas perdas, inclusive de vidas, também ocorrem. Como
lidar com o sofrimento?
Dada
a peculiaridade das missões, lidar com a morte está no rol das nossas
atribuições. São afogados, queimados, soterrados, acidentados, eletrocutados...
Todas são encaradas de maneira muito profissional e imparcial, porém deixam
marcas. Nos lembram da nossa finitude, mas principalmente de que poderiam ser
evitadas por ações de prevenção. O sofrimento por perdas é muito individual.
Alguns bombeiros processam mais rapidamente, enquanto outros, conforme suas
experiências pessoais, custam a elaborar. O espírito de equipe colabora em
muito na superação, e a identificação com o cristianismo traz melhor
compreensão.
Ajudar (amar) o próximo é um dos
ensinamentos de Jesus. Na sua opinião, a profissão de bombeiro também é uma
oportunidade para exercer isso? Existe relação entre a profissão e o “ser
cristão”?
A
profissão de bombeiro é essencialmente um exercício do amor, pois está
diretamente relacionada com carências emergenciais do ser humano. Quando se
esgota a capacidade do indivíduo frente a uma dificuldade inesperada e o
bombeiro é requerido, sua ação passa a ser um serviço de amor ao próximo. A
relação bombeiro x cristão está fundamentalmente em servir, sem olhar a quem e
sem nada aspirar como retorno e/ou agradecimento. É uma vocação!
Marco
Leandro Petry
57
anos
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Aos poucos, algumas pessoas foram se juntando a esse grupo, outras foram reconquistadas, e hoje, oito anos depois, aqui estamos, com a bênção e força de nosso Deus, retomando a missão nos Campos ...