Tinha dificuldade de chamar Deus de pai, porque não me sentia filha.
Nunca
tive contato com meu pai. Nunca o vi, nem por foto.
Quando
criança, sempre ouvia sobre Deus, de que ele castigava, respondia orações e
curava. Mas, para mim, ele era alguém que estava laaaá no céu, bem longe do meu
quarto. E não achava ele tão bonzinho, afinal, eu não tinha um pai. Minha mãe
sempre me dizendo palavras negativas, me achava burra e feia e, se Deus é quem
criava tudo e todos, ele não deveria ser bom, segundo meu pensar. E ainda
abandonava as pessoas.
Nasci
num lar católico. Meu primeiro contato com a Palavra de Deus foi aos nove anos,
quando iniciei a catequese. Minha mãe não frequentava a igreja, mas a partir da
catequese eu tinha que ir.
Por
volta dos 33 anos percebi que, mesmo já tendo experiências com Deus, ele ainda
era alguém distante. Ele era o meu Senhor, o Salvador, menos o Pai. Tanto que,
ao orar, eu dizia primeiro Deus e depois Pai.
Deus
não podia ser pai. Todos dizem que pai é bondoso, não abandona...Tenho certeza de
que não ter tido um pai contribuiu para que eu vivesse muitos momentos ruins e
dolorosos em minha vida. A começar na escola, pois para quem eu iria entregar
aquelas lembrancinhas? Me lembro como se fosse hoje, das gravatinhas que nos
davam para colorir.
Sem
contar as vezes em que minha mãe dizia: “Vou levar você para morar com seu pai.
Aí você vai ver o que é bom”. Minha vida já era horrível! Imagina como deveria
ser morar com um pai? Eu tinha uma mistura de sentimentos ali, afinal sempre
ansiei ter um pai, mas, por outro lado, tinha medo das punições.
Hoje
tenho isso muito claro: além de não ter tido pai, o que não é culpa de Deus, sou
filha de um adultério. Minha mãe se relacionou com um homem casado. Ela dizia,
que por causa da religião dele, ele queria muito um menino. Disse que se eu
fosse homem, eu teria tudo o que eu pudesse imaginar. Mas se fosse mulher,
poderia me jogar em um chiqueiro de porco, pois filha mulher ele já tinha
quatro. Então, de forma inconsciente, eu fazia muitas coisas de “piá”. E há
pouco tempo percebi isso. Por exemplo, eu queria pilotar minha moto como se
fosse um homem. Foi quando me dei conta que, mais uma vez, eu queria agradar um
pai que não existia. Foi quando caí em mim e me dei conta de tantas coisas
masculinizadas que eu fazia e tinha.
Os
pais, na maioria das vezes, não imaginam o impacto que isso gera na vida de um
filho. Eu não tinha identidade, era extremamente carente; a forma de me vestir
e de me expressar mostravam como aquilo era a necessidade de ser vista, amada,
cuidada. Me envolvi com homens buscando, no relacionamento, um pai. Claro que
era inconsciente.
Me
dei conta de que tinha dificuldade de chamar Deus de pai, porque não me sentia
filha. Aos 36 anos eu ainda olhava para mim como uma criança abandonada, que já
tinha intimidade com um Deus que era pai de todos os meus irmãos, menos meu. Para
mim, ele era só o Deus. Quando me dei conta disso, orei ao Senhor que me
ajudasse a simplesmente ser o que eu já era: filha.
Foi
um exercício! Parece maluco, mas eu acordava todas as manhãs e, antes de fazer
meu devocional, eu sorria para o lado e dava “bom dia” para meu Pai. Me lembro
de vezes em que minha afilhada estava comigo e dizia: “Gegê, com quem você está
falando? Não tem ninguém aí. Você é maluca!” Então fui buscar na Palavra e
também com pessoas que eram filhas, como um filho de Deus age. E fui permitindo
que o Espírito Santo fosse tirando todos os sofismas da paternidade de Deus.
Hoje,
busco todos os dias me lembrar de Isaías 54: ali é o próprio Deus dizendo o que
está fazendo por mim. O segredo para este processo de libertação, de ser livre
do cativeiro mental que criamos sobre Deus Pai, é através da Palavra de Deus. É
no início, todas as manhãs, ler e meditar no que Deus está falando através das Escrituras.
É ter coragem de olhar no espelho e dizer: “Gennefer, seja o que Deus te chamou
para ser: filha!”. E filha pede as coisas ao seu pai. Pede ajuda, pede amor,
carinho, conselhos, companhia, colo.
Outro
momento de espelho importante para mim foi verbalizar o que a Bíblia diz que
sou: escolhida, amada, inteligente, querida, importante, especial, capaz!
Acredito que a frase e o versículo que eu mais repito para mim é: “Você é
capaz! Em Deus você pode todas as coisas (Filipenses 4.13)”.
Eu
tenho por costume acordar mais cedo, ler a Palavra e orar. Eu não abro mão
disso. Deus é o primeiro pensamento do meu dia. Eu nunca sei quando alguém vai
precisar de Deus através de mim. Por isso tenho que sempre ter “água no cântaro”.
Minha
dica para quem não sabe orar: marque um tempo e um lugar a sós com ele.
Estipule um tempo, que pode ser de cinco minutos, e diga: “Pai, estou aqui. Espírito
Santo, estou aqui”. Sabe quando você marca um café com seu amigo chegado? É
igual. Ele é informal. O bom é que foi ele quem nos fez, então ele já sabe como
somos. Conte seus medos, sonhos, erros. E ouça Deus falar lendo a Bíblia. Nos
primeiros dias, cinco minutos parecem uma eternidade. Mas quando você menos
esperar, vai perceber que duas horas passaram voando.
Eu,
hoje, tenho um Deus Pai.
Gennefer
Kelle Barbosa, 38 anos
Curitiba,
PR
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