Em Cristo, nada nos separa do amor de Deus


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09/09/2022 #Reflexão #Artigos #Editora Concórdia #Exclusivo Assinantes

A esperança nos leva aos altos céus, junto de Deus. O amor nos faz descer à terra, para junto dos que precisam de nós.

Em Cristo, nada nos separa do amor de Deus

 

“Tudo posso naquele que me fortalece.”

(Filipenses 4.13)

 

“O Senhor é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o meu alto refúgio”(Salmo 18.2).

 

Os textos bíblicos se valem de linguagem militar para descrever as lutas da vida e, metaforicamente, claro, descrevem a Deus como uma fortaleza militar, um lugar de refúgio e de segurança, de onde se pode ver as vicissitudes e provações desde a perspectiva da confiança em Deus. Paulo estava preso, aguardando julgamento, e recebeu donativos (alimentos, roupa, algum dinheiro) da igreja da cidade de Filipos (uma cidade fundada por veteranos ou ex-combatentes das forças militares de Roma).

Paulo fala de suas experiências, tempos de fartura e de fome, de liberdade e de prisão, de angústia diante de uma possível execução, mas da confiança de entregar sua vida em testemunho de sua fé (martírio). Ao dizer “tudo posso” Paulo estava se referindo a viver ou a morrer, a serviço de Cristo, como fiel combatente, para quem “estar com Cristo” é o que mais importa, nesta vida ou na eternidade.

A esperança nos leva aos altos céus, junto de Deus. O amor nos faz descer à terra, para junto dos que precisam de nós. Pela fé, “tudo podemos”, tanto viver como morrer, porque Deus é nossa fortaleza e refúgio, tanto na vida como na morte. Pela fé, podemos enfrentar todas as dificuldades, sem medo, assim como podemos usufruir de todas as bênçãos, sem soberba, porque não estamos sozinhos neste mundo. Não somos órfãos, abandonados no mundo, somos pessoas conhecidas e amadas por Deus, que nos dá a vida e a toma de volta, que permite que morramos neste mundo para, então, vivermos na sua presença eterna.

O último inimigo a ser vencido, escreveu Paulo, é a morte. E, de novo, nos salmos, temos a confissão da esperança, a de que a sepultura é apenas um lugar de repouso, pois Deus nos tomará para si, dando-nos descanso de nossas lutas e fadigas, enxugando nossas lágrimas. Jamais perecem aqueles a quem Deus ama, porque Deus é amor, amor eterno, Senhor e Doador da vida. Os que se refugiam no amor e proteção de Deus não serão desamparados, porque Deus é Amparo, Fortaleza, Refúgio, Salvação.

Paulo foi decapitado por ordem de Nero, o imperador romano, mas, já condenado, escreveu ao seu discípulo e companheiro de lutas e fadigas: “Combati o bom combate” e afirma que o seu sangue seria derramado como oferta integral (“holocausto”) a Deus, como testemunho (martírio) de sua confiança inabalável em Deus. “Tudo posso naquele que me fortalece!” Se vivemos, para o Senhor (Cristo ressuscitado) vivemos. Se morremos, para o Senhor (Cristo ressuscitado) morremos. E nada, nem a vida nem a morte, nos separa do amor de Deus em Cristo.

Crer em Deus é, fundamentalmente, buscar refúgio e proteção em nele, com gratidão e louvor, tanto nos bons como nos maus dias, tanto nos momentos de serenidade como de aflição, tanto na saúde como na doença, tanto na fartura como na escassez, tanto na riqueza como na pobreza, tanto na vida como na morte. A fé nos ensina a orar com total entrega aos cuidados de Deus: “Eu sou pobre e necessitado, porém o Senhor cuida de mim!” e a nada temer: “O Senhor é o meu pastor, nada me faltará!”

A letra de um hino diz: “Com Deus ao meu lado, a me fortalecer, nada há neste mundo que eu possa temer!” – esta é uma oração de quem pede coragem em meio ao medo, que busca forças em Deus porque sabe não ter força em si mesmo para nada temer. Sozinho, Paulo não poderia enfrentar o martírio senão tomado de medo. Com Cristo ao seu lado, Paulo não só se sentia fortalecido para o martírio, mas para fazer corajosamente, mas sem revolta, “a boa confissão” diante de Nero, como Jesus havia feito diante de Pilatos.

Muitos anos antes de seu julgamento em Roma, Paulo havia escrito numa de suas cartas: “Quando sou fraco, então é que sou forte, porque o poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza!” Quando somos pobres, então é que somos ricos, porque as dádivas de Deus são recebidas com muito mais alegria e gratidão. Quando estamos enfermos, então é que somos ainda mais espiritualmente saudáveis, porque percebemos que a vida não vem de nós mesmos, mas do Criador. Quanto tudo nos falta, tudo temos, porque só nos resta Deus, e junto do Bom Pastor, nada nos faltará. Quando todas as coisas visíveis desaparecerem e não pudermos mais confiar no socorro e ajuda deste mundo, então veremos as coisas hoje invisíveis para nós, nas quais de fato há amparo e proteção.

“Tudo posso naquele que me fortalece!” Quando Deus nos dá forças, nada pode contra nós, porque “se Deus é por nós, quem será contra nós?” Ao dizer: “Tudo posso – até morrer!”, Paulo estava afirmando: “Nada pode contra mim – nem mesmo a morte!” Deus dá força aos cansados; saúde aos enfermos; conforto aos que sofrem; e, aos que nele se refugiam, vida eterna. Como diz outro hino: “Que tudo se vá, os céus nos são deixados”. Nada perdemos que, antes, Deus não nos tenha dado. Tudo recebemos, inúmeras vezes mais, quando reconhecemos que o pouco e o muito são, sempre, dádivas de Deus.

A vida presente, comparada à vida que Deus tem reservado para nós, é “pouca vida”, alguns anos apenas, onde experimentamos alegrias e tristezas, em meio a lutas e fadigas. Recebida com confiança em Deus, no entanto, a vida presente é “muita vida”, porque cada dia, ainda que em meio a angústias e problemas, é repleto de bênçãos. Viver é muito bom, apesar dessa mistura de coisas boas e ruins de cada dia, de ganhos e perdas, de encantos e desencantos. Somos criaturas frágeis do Todo-Poderoso, feitos do pó da terra, mas trazemos em nós o sopro do Espírito Santo, carentes de coisas sem importância alguma diante da maravilhosa experiência de existirmos, de estarmos aqui, neste tempo e neste lugar.

Nada é melhor do que esta vida que vivemos, exceto a vida no porvir, a vida eterna, no “refúgio do Altíssimo”. Tudo posso naquele que me fortalece, viver e morrer, sim, mas morrer e viver, também. A vida é muito pouco, quase nada, mas não tem coisa mais bonita do que viver. Na morte, não há beleza. E a promessa divina é a de que contemplaremos a Deus “na beleza do seu santuário”. A vida é bela e, por isso mesmo, ela é eterna. A verdadeira beleza é eterna, e por ser bela, também, a vida com Deus é vida eterna.

 

 

Luisivan Vellar Strelow

Lagos, Nigéria

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