A oferta que chega até o céu sempre vem de um coração crente naquele que ofertou a sua vida na cruz.
Dias atrás, certo líder de uma famosa igreja
neopentecostal brasileira incentivou seus seguidores a doarem todos os seus
bens materiais antes de morrerem: “Antes de você passar para a eternidade,
deixe o que você tem para a igreja. Deus se agrada dessa oferta”. Faltou dizer
pela boca desse pregador que esse tipo de oferta ou qualquer outra só agrada a
Deus se também morrer a velha natureza humana antes de “passar para a
eternidade”. Por isso a parábola do rico sem juízo, onde Jesus faz a
conclusão: “Isso é o que acontece com aqueles que juntam riquezas para si
mesmos, mas para Deus não são ricos” (Lucas 12.21). O homem da parábola
morreu sem poder “descansar, comer, beber e alegrar-se” com seus depósitos
abarrotados pelas excelentes colheitas. E mesmo se doasse tudo para a igreja,
essa oferta não chegaria no céu, apenas na terra. Aliás, quando Jesus
insistiu com aquele jovem rico para vender tudo o que tinha, dar aos pobres, e
assim ter um “tesouro no céu”, faltava nele exatamente isso, a morte do “eu
rico” que nasce no coração de todos.
Percebe-se, assim, que a correta interpretação
bíblica depende do entendimento do que é riqueza e do que é pobreza. Isso
porque, na ignorância e ganância humanas, e com a esperteza dos
estelionatários, é fácil cair no conto dos falsos “bilhetes premiados”. Foi isso
que descobriu Salomão com as ilusões do mundo: “Ajuntei para mim prata e ouro
dos tesouros dos reis e das terras que governei” (Ec 2.8). O famoso
monarca de Israel, no final da sua vida, fez um desabafo com as célebres
palavras: “É tudo como correr atrás do vento”.
Só que, enquanto muitos correm atrás do vento,
outros correm atrás do ventre – do ventre vazio, porque não têm comida. E esse
é outro problema que a perversa avareza produz, ela não tranca apenas a porta
no céu, mas também a boca dos famintos na terra. Hoje o mundo produz cerca de 5,2
bilhões de toneladas de comida por ano, suficiente para alimentar toda a
humanidade. Mas um quarto dessa produção é desperdiçado. Enquanto isso,
800 milhões de pessoas passam fome no mundo, causando a morte de onze pessoas a
cada minuto. No Brasil o drama não é diferente, dezessete pessoas morrem todos
os dias devido à desnutrição. São 33 milhões de brasileiros passando fome. O
que mais chama a atenção nesses números é que o Brasil está em segundo lugar na
produção mundial de alimentos. Qual o motivo dessa triste situação? Por que
existe fome quando o mundo tem alimento sobrando? A resposta está na parábola
do rico sem juízo, depósitos cheios de comida e o coração vazio da riqueza
divina. Sem dúvida, é preciso mais corações ricos para Deus para diminuir a
fome dos miseráveis na terra.
E quando não é preciso doar tudo à igreja antes de
morrer para agradar a Deus, sempre é bom enfatizar que a oferta que chega até o
céu sempre vem de um coração crente naquele que ofertou a sua vida na cruz, fé
que traz resultados no dia a dia. E daí Tiago oferece um exemplo muito
oportuno: “Se vocês não lhes dão o que eles precisam para viver, não adianta
nada dizer: ‘Que Deus os abençoe! Vistam agasalhos e comam bem.’ Portanto,
a fé é assim: se não vier acompanhada de ações, é coisa morta” (2.16,17). No
final, uma fé morta de ações deixa muita gente morta de fome.
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