Foi em 1915 que o pastor Albert Lehenbauer, recém-formado no seminário de St. Louis, em Missouri, nos Estados Unidos, chegou em Porto Alegre, RS.
Foi em 1915 que o pastor Albert Lehenbauer, recém-formado
no seminário de St. Louis, em Missouri, nos Estados Unidos, chegou em
Porto Alegre, RS. Sua intenção era tornar-se um missionário na China, mas, com
o início da Primeira Guerra Mundial, a China fechou suas portas para
estrangeiros. Assim, ele decidiu viajar à América do Sul seguindo seus
dois irmãos mais velhos, que também eram missionários. Seu irmão, Conrad,
havia chegado ao Brasil em 1913, e George, em 1914. Hospedou-se no Seminário
Concórdia uns poucos dias e dali rumou para a região de Sta. Rosa,
onde serviu à Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) até 1937.
Por um bom tempo o pastor Albert atendeu até 19 pontos de missão, no
assentamento Guarany, atual município de Ubiretama, RS. É difícil imaginar
quantas horas passou na sela da sua mula percorrendo a vasta região durante os
primeiros anos. Além do trabalho de missão, foi o editor do LutherKalender
para a América do Sul e co-editor do Kirchenblatt de 1925 a 1937
(alemão). Também exerceu vários outros cargos dentro da igreja, como
vice-presidente do distrito brasileiro. Foi o editor do Himnario
Evangelico Luterano (espanhol), e co-editor de vários livros em português e
em espanhol. Aceitou um chamado para servir à Igreja Luterana na Argentina
em 1937, primeiro como diretor em seu seminário, em Buenos Aires, e, de 1946
até 1955, quando faleceu, foi professor de dogmática. Ele era uma pessoa
extremamente capaz e foi abençoado com muitos dons. Interessava-se tanto pelo
campo da teologia como também por outros temas. Organizou várias escolas
durante o seu pastorado no Brasil, e ele mesmo cuidou para que leigos fossem
capacitados a lecionar nelas. Também fundou uma cooperativa de agricultores,
pois os problemas dos imigrantes eram imensos, e queria ajudá-los a melhorar de
vida.
Em 1918 o pastor Albert Lehenbauer se casou com Helena
Priebe, uma jovem de origem alemãrRussa. Eles foram abençoados com oito filhos,
dos quais seis nasceram no Brasil, um nos Estados Unidos, e o mais jovem na
Argentina.
Os colonos vindos da Ucrânia, Rússia e Alemanha
haviam tido uma vida muito dura antes de chegar ao Brasil e continuavam a
enfrentar grandes desafios. Por isso o pastor se esmerou em introduzir
seus congregados em técnicas diferentes das que conheciam. Como sua esposa
se interessava muito pela apicultura e mantinha suas próprias colmeias, ele
incentivou seus paroquianos a fazerem o mesmo. Também os incentivou a
cultivar plantas que, ao florescer, forneciam uma boa quantidade de
néctar, para que as abelhas pudessem produzir mais mel. Sugeriu-lhes a criação
de peixes em açudes e auxiliou no cruzamento de bovinos para maior e melhor
produção de leite e carne, e aumento do consumo de proteína na sua
alimentação. Tornou-se o professor das crianças nas escolas paroquiais, e
é muito provável que até tenha elaborado um livro de caligrafia e leitura em português
para educá-las, pois a grande maioria das famílias falava a língua do seu país
de origem, ou seja, não liam nem escreviam em português. Como gostava muito de
música, não só insistiu que seus filhos aprendessem a tocar um
instrumento, mas incentivou seus alunos no canto e na música. Uma
noite por mês, promovia um encontro para quem quisesse vir e escutar discos. Numa
carta de 1916, também menciona que a água de consumo da casa pastoral tinha que
ser trazida de uma boa distância. Quando descobriu que havia uma bomba de
água que podia bombear água morro acima sem fazer uso de energia elétrica,
ele incentivou sua aquisição para abastecer a casa pastoral com água corrente, o
que facilitou muito a vida da sua família.
Desde sua chegada ao Brasil, o pastor Lehenbauer sempre
se preocupava com a situação dos colonos, membros de suas congregações.
Como lia muito, ficou empolgado com um artigo em que o autor dizia que certas
plantas produzem nódulos nas suas raízes, onde mudam a composição do nitrogênio
capturado do ar e o introduzem na terra como fertilizante. Cerca de 79% do ar
que respiramos é nitrogênio, mas nesta forma não pode ser utilizado por plantas.
Logo pensou: se pudesse obter uma planta que pudesse adubar a terra com
nitrogênio, isso seria uma grande bênção para os agricultores. Foi assim
que aprofundou seu conhecimento sobre a soja, e resolveu introduzir este singelo
grão nas terras de Guarany.
Como havia desenvolvido uma
doença estomacal que requeria uma cirurgia bastante delicada, os
médicos brasileiros o aconselharam a viajar para os Estados Unidos ou para a
Alemanha. Em 1923, ele recebeu licença para viajar e fazer esse procedimento.
Decidiu ir para a Alemanha com sua esposa Helena e seu filho. Ao
chegar lá, após inúmeros testes, nada encontraram de errado e o declararam
curado. Já durante a viagem e mesmo depois, enquanto esperava os
resultados dos exames médicos, o pastor Albert escreveu seu livro: Roughing it for Christ in the
Wilds of Brasil (BatalhandoporCristonasselvasdoBrasil). Esse livro foi tão procurado que passou rapidamente por três edições, todas
publicadas na Alemanha. (A pedido da minha mãe, eu tive o prazer de traduzi-lo para
o português.) Em 1964, o Sínodo de Missouri decidiu homenagear o trabalho do
meu avô, reeditando uma obra abreviada das três originais anteriores, que foi publicada
nos EUA.
Missouri até hoje é um
estado agrícola, onde se cultivam variados tipos de grãos. No início de 1900, lá já se plantava a
soja. Aliás, a irmã e o cunhado do pastor Albert plantavam soja na sua
fazenda em West Ely quando ele foi visitá-los naquele ano. No livro da
Fenasoja de 2004, na página 40, há uma cópia da carta escrita por minha
avó, Helena, onde ela menciona que foi sua cunhada que lhes deu um punhado de
sementes de soja. A família retornou a Guarany no dia 12 de novembro de
1923. Meu avô não perdeu tempo em plantar as sementes que havia trazido. Um
punhado de sementes de soja são um pouco mais de 160 sementes. De acordo com a
carta da avó Helena, as primeiras plantas não cresceram muito altas, ainda
assim produziram o dobro de grãos no primeiro ano. Na mesma carta, ela diz
claramente que a cada ano seguinte as plantas não só cresceram mais, mas
produziram bem mais grãos. Portanto, é fácil de entender por que a soja se
espalhou tão rapidamente na região. Também é razoável concluir que as
casas de comércio agrícola, com o tempo, se empenharam em adquirir o produto
para revendê-lo aos seus fregueses.
Minha avó contou que, como eles voltaram de navio, meu
avô estava preocupado que as sementes pudessem estragar durante a viagem, com a
exposição ao ar marinho por um mês inteiro. E foi assim que,
por sugestão da sua irmã de Missouri, os dois decidiram usar uma garrafa,
colocando um punhado de sementes nela e deixando o resto da garrafa vazia. Lacraram
a garrafa para que o ar salgado não afetasse o conteúdo. E foi assim que
a soja chegou à Sta. Rosa, entre suas bagagens.
Meu avô estava muito curioso para ver como
germinariam e o quanto produziriam em solo brasileiro. Como
a soja germinou bem no Brasil e a produção de sementes aumentava todos os anos,
depois de reservar parte delas para o ano seguinte, o Pr. Albert passou a
distribuir 2, 3 sementes para o maior número possível de congregados, para eles
mesmos plantarem e distribuírem aos seus conhecidos. Desta forma, em um tempo
relativamente curto, centenas de pessoas puderam plantar a soja. Minha avó
disse que mais tarde, quando plantou algumas sementes entre suas flores do
jardim, elas cresceram muito bem, e várias mudas produziram até 400 sementes, sendo
que alguns dos seus vizinhos tiveram o mesmo êxito. Essa seria uma maneira
simples e bastante lógica de explicar como em poucos anos, a partir de 1924,
mais colonos tiveram acesso à soja e puderam produzir este grão em suas
lavouras. A partir daí, alguns deles plantaram a soja em maior escala,
como está descrito no livro da Fenasoja, de 2004. Especialmente quando as
pessoas aprenderam que a soja poderia ser usada para a
alimentação animal e humana, bem como para tantos outros usos na indústria.
O que o meu avô queria era tão somente ajudar os
colonos a progredir econômica, social e intelectualmente. Julgava que haveria
meios de facilitar a vida daquelas pessoas cujos antepassados sofreram tanto em
terras distantes, e que não estavam em melhores condições após imigrarem. Ele
acreditava que se os colonos tivessem as ferramentas certas, eles mesmos
trabalhariam com entusiasmo para melhorarem de vida. Com certeza, as ideias vieram
de suas extensas leituras, e da correspondência que mantinha com pessoas de três
ou quatro continentes. Aliás, como sua correspondência era tão importante
para a sua comunicação com a igreja-mãe nos Estados Unidos, com familiares e
amigos, ele ajudou a melhorar o sistema de correio, entre Guarany e Santa Rosa.
À primeira vista, talvez, todas essas coisas não pareçam
ser tão importantes, mas todas elas cooperaram para melhorar a vida dos
habitantes de Guarany, e impulsionaram o setor agrícola. O resultado que vemos
hoje modificou a vida de muitas pessoas como nunca ninguém imaginou, muito
menos meu avô.
Pastor Walter Lehenbauer
Cloquet, Minnesota, EUA
Redação: Contraponto ou complemento à matéria publicada no Mensageiro
Luterano, julho de 2022, p. 22 e 23, sob o título: UM BERÇO PARA A SOJA, de
Anete Rosane k. Guimarães.
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