“Eu
acho que todas as pessoas se odeiam!” Foi essa a frase que eu recebi na
narração sobre como um amigo tem percebido as relações em diferentes contextos
como escola, universidades, empresas, etc. Você pode estar pensando, como
assim? Para evoluir com essa reflexão, eu quero compartilhar algo sobre mim,
muito pessoal e muito difícil de expor para mim mesma, e, para vocês, ainda
mais.
Preciso
contextualizar contando um pouco da minha história. Quando fiz faculdade,
compartilhei minha moradia com mais duas colegas da faculdade. Colegas, essas,
que se tornaram grandes amigas, amigas mesmo! São madrinhas dos meus filhos,
pessoas que amo e em quem confio e de quem gosto de estar por perto. Uma delas
seguiu a mesma trajetória que eu na profissão, trabalhando com psicologia nas
empresas e desempenho profissional, e é sobre ela que quero contar
especificamente.
Ela
escolheu trabalhar como funcionária no RH das empresas, e eu, como autônoma e
empreendedora com foco em desenvolvimento de pessoas e consultoria para os RHs.
Nós duas tivemos momentos bons e ruins no trajeto. Mas eu, como empreendedora,
tive uma ascensão diferente da minha amiga, nem melhor nem pior, diferente
apenas. Ocorre que, depois que ela se tornou mãe, o modelo de funcionária não
se encaixava mais na vida dela. Ficou difícil conciliar horários e viver a
maternidade como ela gostaria tendo que cumprir todos os compromissos de uma
carga horária no contrato de CLT. Ela estava sofrendo muito, e eu, como
empreendedora, já mãe e com o trabalho a todo vapor, a aconselhava, dizendo que
como empreendedora tudo ficaria mais fácil, e a encorajava a deixar o contrato
CLT e viver uma vida com mais autonomia nos horários.
Aos
trancos e barrancos, ela se rendeu! Não porque eu dizia, mas pelo que ela
sentia que deveria fazer. Abandonou seu emprego e começou a construir o seu
negócio, que é cada vez mais parecido com o meu. Agora, além de amigas e
parceiras, somos concorrentes! Concorrentes diretas em vários projetos! E
agora?
Há
aproximadamente um ano, ela tem empreendido, e eu tenho orgulho de contar como
ela tem crescido e conquistado um espaço importante. E agora vem a parte de que
me envergonho de contar: eu também sinto ciúmes! Olho para a quantidade de
trabalho que ela tem e, ao mesmo tempo em que fico imensamente feliz pela
realização que ela está encontrando, me sinto diminuída e menos capacitada para
o trabalho. Antes de você me julgar pelo sentimento “feio” que estou
envergonhadamente confessando sentir, quero convidá-lo a olhar para si mesmo e
conseguir assumir para si os momentos em que sentiu raiva porque um colega teve
um resultado melhor que o seu, porque seu cônjuge recebeu mais amor do seu
filho do que você, porque seu irmão tem mais dinheiro do que você ou porque um
amigo fez uma festa e não o convidou.
Nos
sentirmos diminuídos, com raiva ou ciúmes é natural em diversos contextos,
principalmente quando nos comparamos às outras pessoas. Faz parte da natureza
humana! O QUE FAZEMOS com esse sentimento é o que vai ditar se vivemos em
contextos que as pessoas se amam ou se odeiam.
Para
mim, assumir esse sentimento em relação à minha amiga é triste e vergonhoso,
mas é o primeiro passo para a minha reestruturação. Caso contrário, algum
evento pode acontecer e eu cair na cilada de culpá-la por um sentimento que é
meu com falas do tipo: “Mas também, ela tem mais suporte do que eu”; “Ela está
usando o material que conversamos”; “Ela está sendo desleal”; ou coisas do
tipo. É muito comum diminuirmos o talento ou as escolhas da outra pessoa para
nos desculparmos pelo sentimento “feio” que estamos sentindo. Isso resulta
muitas vezes em brigas que se estendem por anos, separações, ambientes hostis
de trabalho ou estudo. Mas me deixa contar algo para você? Sentimentos não são
feios! Podem ser desagradáveis, mas são naturais. Os comportamentos que temos
ao nos depararmos com o sentimento é o que o torna feio ou bonito.
Eu
tenho trabalhado minha consciência para não alimentar os pensamentos irreais,
olhado mais para mim e para os meus resultados e ser grata por eles. Tenho
ajudado minha amiga cada vez que ela pede uma orientação técnica ou
comportamental na nova jornada e nutrido o orgulho que tenho em vê-la
ascendendo. Lembrar sempre que no céu tem espaço para todas as estrelas
brilharem, é o maior desafio!
Ainda
que seja desagradável, precisamos aprender a identificar e acolher nossos
sentimentos “feios” e não deixar que eles se manifestem em disputas,
comentários hostis e conflitos. Precisamos assumir nosso papel! Sugiro que
treine para que, em casa, fique feliz pelo amor que seus filhos dão ao seu
cônjuge e promova momentos para receber esse carinho também! No trabalho,
celebre com seu colega que teve bons resultados e trabalhe duramente para ser
reconhecido e ter bons resultados você também! Na escola, elogie seu amigo com
boas notas e peça conselhos sobre como obtê-las também! Olhe para você, por
seus resultados, e seja grato por suas lutas e conquistas!
Somos
imperfeitos! Precisamos içar nossa consciência de volta e nos atentar aos fatos
quando ela se perde no meio dos sentimentos “feios” e nas interpretações que
nossa mente é capaz de criar sobre os fatos, para construirmos contextos em que
o amor prevaleça em detrimento do ódio! É o que você e eu fazemos que vai mudar
a percepção geral de competição destrutiva nos ambientes e dar espaço à
cooperação ascendente para todos!
Vamos
fazer a nossa parte!
Joseani Kochhann
Psicóloga, especialista em Saúde Mental e
Engajamento no trabalho