Lutero foi um professor de Bíblia. Sua área de concentração era o Antigo Testamento.
Oração
Querido
Pai Celestial. A tua criação foi feita com ordem. Ajuda-nos a ver como ela é
boa, para podermos honrá-la e vivermos bem muito tempo em meio às
bem-aventuranças que tu nos proporcionas. Em Jesus Cristo. Amém.
Introdução
A
quarta palavra é a forma que Deus encontrou para restaurar a sua criação. É o
mandamento contra a anarquia, porque esta palavra restaura a ordem criada por
Deus em Gênesis. O Quarto Mandamento é a primeira palavra que nos ajuda a
entender um pouco de como era o Jardim do Éden, e, se o ouvirmos, podemos
desfrutar da condição que Deus uma vez nos deu em Adão e Eva, e da qual, agora,
por causa de Cristo, podemos novamente usufruir.
Deus provê as nossas necessidades básicas
Quarto
Mandamento
Honrarás
a teu pai e a tua mãe, para que vás bem e vivas muito tempo sobre a Terra.
Que significa isso?
Resposta: Devemos temer
e amar a Deus e, portanto, não desprezar nem irritar nossos pais e superiores;
mas devemos honrá-los, servi-los, obedecer-lhes, amá-los e querer-lhes bem.[1]
Lutero
foi um professor de Bíblia. Sua área de concentração era o Antigo Testamento.
Na última década de sua vida, dedicou-se a comentar o livro de Gênesis. O
Catecismo foi escrito um pouco antes do seu comentário a Gênesis, mas as
palavras aqui registradas refletem claramente o Lutero professor do Antigo
Testamento, que leu muito bem o primeiro livro da Bíblia.
Segundo
o relato de Gênesis 1, Deus realiza sua criação no ambiente doméstico, e, neste
ambiente, ele organiza a sociedade humana. Obviamente, não é uma organização
complexa, com várias estruturas sociais e com possibilidades de escolhas que
vemos atualmente.
Na
época de Lutero, a sociedade estava bem estratificada, dividida. Ele sabia
disso. A Igreja estava no topo da pirâmide social, e as pessoas comuns, na base
dessa pirâmide. No meio da pirâmide havia príncipes, soldados, proprietários de
terras, alguns formados em universidades, que representavam uma pequena
proporção da sociedade.
Lutero
recupera a história de Deus com seu povo. Coloca novamente Deus em ação e
aproxima Deus, o Criador, de suas criaturas. Ele inverterá a pirâmide da
sociedade da época. O que estava na base agora estará mais próximo de Deus. Deus distinguiu o estado paterno e materno
de modo especial, acima de todos os estados que estão abaixo de Deus. Não
ordena simplesmente que amemos os pais; manda honrá-los. Com respeito aos
irmãos, às irmãs e ao próximo em geral, não preceitua coisa mais elevada que
amá-los. Dessa maneira, separa e destaca pai e mãe acima de todas as outras
pessoas na terra e os põe ao lado dele. Pois honrar muito mais elevada coisa é
que amar. Não abrange apenas o amor, senão modéstia, humildade e reverência
como para com uma majestade aí oculta. E honrar não requer apenas que nos
enderecemos aos pais de modo amável e respeitoso, porém, acima de tudo, que, de
coração e corpo, nos disponhamos de maneira tal que os tenhamos em alta conta e
os coloquemos no lugar mais elevado, depois de Deus. Pois que para honrar
alguém de coração é preciso que, deveras, o tenhamos por elevado e grande.
Cumpre, por isso, incutir à gente moça que vejam nos pais representantes de
Deus e advirtam que, ainda quando modestos, pobres, alquebrados e excêntricos,
não obstante, são pai e mãe, dados por Deus. Não ficam privados dessa honra por
causa de sua conduta ou em razão de fragilidades. Por isso, não devemos olhar a
pessoa, como é, mas a vontade de Deus, que assim estabelece e ordena. É verdade
que a outros respeitos somos todos iguais aos olhos de Deus, mas entre nós é
necessário que haja essa desigualdade e diferença ordenada. Razão por que Deus
manda seja observada, para que me obedeças como ao teu pai e eu tenha a
autoridade... Compete-nos, em terceiro lugar, honrá-los também por meio de
atos, isto é, com nosso corpo e bens, servindo-os, ajudando-lhes e cuidando
deles quando idosos, enfermos, alquebrados ou pobres. E tudo isso se há de
fazer não apenas prazerosamente, senão com humildade e reverência, como na
presença de Deus. Pois, quem sabe de que maneira deve considerá-los no coração
não permitirá que sofram penúria ou fome, porém os colocará acima de si mesmo e
a seu lado, partilhando com eles quanto possuir e estiver ao seu alcance.[2]
A
base da ordem social é a família. Lutero sugere que uma família estruturada
leva a uma sociedade organizada. O texto que segue reflete um pouco do que
aconteceu no relato bíblico da queda de Adão e Eva e a consequência deste
pecado na vida social dos filhos, Caim e Abel, que Lutero observa na sociedade
de sua época: Aí tens, portanto, o fruto
e o prêmio: quem guardar o mandamento, haverá de ter bons dias, felicidade e
prosperidade. Por outro lado, o castigo: quem for desobediente, tanto mais cedo
perecerá e nunca há de fruir a vida com alegria. Pois longevidade, segundo as
Escrituras, não significa apenas chegar a macróbio, porém, que se tenha tudo o
que pertence a uma vida longa, como, por exemplo, saúde, mulher e filhos,
alimentação, paz, bom governo, etc., coisas sem as quais esta vida não pode ser
alegremente fruída, nem durar por tempo dilatado. Agora, se não quiseres
obedecer a pai e mãe e te recusares a permitir que te eduquem, então obedece ao
carrasco. Se não obedeces a esse, então obedece ao estica-pernas, isto é, à
morte. Pois Deus, positivamente, quer isto: ou recompensar-te generosamente,
com todo o bem, se lhe obedeceres e o amares e servires; ou, então, se
provocares a sua ira, enviar sobre ti assim a morte como o verdugo. De onde se
não da desobediência, vêm tantos patifes, que, diariamente, têm de ser
enforcados, decapitados e rodados? Visto não se deixarem levar por bem, chegam,
pelo castigo de Deus, a ponto de nos proporcionarem um espetáculo de desgraça e
aflição. Pois que, mui raramente, sucede morrerem tais criaturas infames morte
reta ou não prematura. Os piedosos e obedientes, todavia, têm a bênção de
viverem por longos dias em boa paz e verem os filhos dos seus filhos, conforme
dito acima, até a terceira e quarta geração. E a experiência o ensina: onde há boas e antigas famílias que estão
bem de vida e têm muitos filhos, certamente se deve isso ao fato de alguns
deles terem sido bem-educados e haverem andado atentos em seus pais. Quanto aos
ímpios, por outro lado, está escrito no Salmo 109.13: Desapareça a sua
posteridade, e na seguinte geração se extinga o seu nome. Toma boa nota, por conseguinte, da grande importância que tem aos
olhos de Deus a obediência, visto que tanto a exalta, tão grandemente nela se
compraz e ricamente a premia e, além disso, vela com tamanho rigor, a fim de
castigar os que agem contrariamente.[3]
Lutero
conviveu com a experiência da desordem. Um momento crucial e difícil foi a
Guerra dos Camponeses, que se desenrolou bem próximo de sua cidade. Foi uma
guerra violenta, uma revolta que causou muitas mortes e que teve consequências
drásticas para muitas famílias e reinos da época. Em sua própria vida pessoal,
Lutero teve que lidar com várias situações de pessoas que sofreram as
consequências da desordem causada pela guerra. Por isso, ele queria que se
investisse na família, e não em guerras.
Um
papel positivo do estado brota de uma estrutura familiar sadia, afirma Lutero.
Ele até utiliza a mesma expressão, “pai”, para designar o governante do estado.
Família e estado estão presentes nessa palavra e são a base da ordenação e
organização de Deus para suprir todas as necessidades que temos, para vivermos
bem e felizes muito tempo sobre a terra.
Mais
adiante, Lutero retomará essa explicação quando conectar o pão nosso de cada
dia, na Quarta Petição, ao Quarto Mandamento. Em nosso contexto parece difícil
imaginar isso, que o governo tenha a responsabilidade sobre o nosso alimento,
porque vemos o nosso governo muito mais como função política, sendo que nossas
necessidades básicas são supridas pelo nosso esforço. Não é o que vemos em
países onde as ideias de Lutero tomaram formas mais concretas. A responsabilidade
pela sobrevivência básica, em muitos casos, é assumida pelo Estado, como pai, e
os cidadãos vivem dessa condição. As ideias de Lutero não chegaram até nós.
Portanto, temos uma relação em nosso ambiente familiar e doméstico distante do
ambiente do Estado. A estratificação social que herdamos ainda é grande. Há uma
grande divisão em nossa forma de pensar.
Um
último aspecto importante que Lutero destaca e, de certa forma, faz-nos voltar
ao Primeiro Mandamento, é o princípio retirado de Atos 5.29: Antes importa
obedecer a Deus do que aos homens. Lutero afirma que a quarta palavra precisa
ser ouvida à luz das palavras anteriores. Ele nem sempre divide as palavras ou
mandamentos em duas tábuas. Reafirmando, para Lutero, o Primeiro Mandamento é o
grande cabeçalho de todo o Catecismo. ...
Que essa obediência aos pais fique subordinada à obediência a Deus e não vá de
encontro aos mandamentos precedentes.[4]
Referências
bíblicas
Mateus
22.34-40 – Jesus ensina sobre as duas justiças.
Efésios
6.1-4 – Os pais são as máscaras de Deus nesta vida.
Romanos
13.1-7 – As autoridades estão a serviço de Deus.
Recapitulando
1.Como
Lutero aproxima o Quarto Mandamento do Primeiro Mandamento?
2.É
possível ver Deus Criador em ação no Quarto Mandamento?
3.Os
nossos pais são máscaras de Deus?
4.Obediência
e honra são palavras-chave para Lutero. Como elas são fundamentais para
entendermos nossas condições básicas para viver como filhos de Deus?
5.Qual
a relação que Lutero estabelece entre a ordem familiar e a ordem social? Como
ele amplia as necessidades básicas?
6.O
que significa uma boa promessa no Quarto Mandamento?
7.De
que forma já podemos desfrutar da presença de Deus com o Quarto Mandamento?
8.Como
interpretamos a autoridade dos pais e do governo à luz de Lei e Evangelho?
Referências bibliográficas
McCain, P. T. (Org.). Concordia: The Lutheran Confessions. St. Louis, MO: Concordia
Publishing House, 2005.
LUTERO, Martinho. Catecismo Maior. Livro de Concórdia. São Leopoldo:
Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 1983, 105-111.
LUTERO, Martinho. Catecismo Maior. Livro de Concórdia. São Leopoldo:
Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 1983, 137-139.
LUTERO,
Martinho. Catecismo Maior. Livro de
Concórdia. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 1983, 116.
Stjerna, K. I. The Large Catechism of Dr. Martin
Luther. In: H. J. Hillerbrand, K. I. Stjerna, T. J. Wengert (Orgs.), Word and Faith. Minneapolis,
MN: Fortress Press, 2015, v. 2, p.317.
Nota: Estudo nº 6 – A QUARTA
PALAVRA – DEUS SE ESCONDE ATRÁS DA DÁDIVA DA AUTORIDADE, de Clóvis Jair
Prunzel, em “Os Catecismos de Lutero para o povo de Deus”. Porto Alegre,
Concórdia, 2017, p.56-61.
*Prunzel
é Bacharel
em Teologia. Licenciado em Letras. Mestre em Teologia. É membro da Comissão
Obras de Lutero. É doutor em Teologia
Sistemática e Confessional, pelo Concordia Theological Seminary, Fort
Wayne, USA. Professor de Teologia Sistemática no Seminário Concórdia, de São
Leopoldo, e professor de Teologia na ULBRA. Coordenador de Teologia presencial
e EAD na Ulbra.
Amar significa criar valores que se renovam como os lírios do campo. O amor embeleza e perfuma a vida. Amor em lugar de rusgas. O amor conforta, condimenta a alegria de viver.
Que bênção é termos o SENHOR como confessor. Aos seus cuidados podemos orar com os segredos de nosso coração. Com as tristes histórias que poucos sabem. Com as dores que apenas nós sentimos
É preciso ler a Bíblia. Mas a simples leitura também não resolve muita coisa. É preciso crer no que a Bíblia ensina. Além disso, é preciso compartilhar o aprendizado feito.
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