O que é uma pessoa inteligente,
para você?
Durante muito tempo se pensou
que a inteligência estava relacionada à capacidade intelectual. Alguém com Quociente
de Inteligência (QI) elevado era admirado e valorizado.
Logo se percebeu, porém, que
essas pessoas não eram necessariamente os melhores profissionais, e, na maioria
das vezes, tinham dificuldade de se relacionar com as outras pessoas ou
resolver questões básicas e práticas do dia a dia.
Então os estudiosos começaram
a pensar de uma forma mais ampla, e surgiu a Inteligência Emocional (IE), que tem
a ver com uma leitura adequada da situação, com gerenciar emoções e sentimentos,
como também com tomar decisões, avaliando consequências e resultados.
Como cristãos, podemos pensar
num tipo de inteligência ainda mais amplo, que engloba o nosso intelecto,
emoções, ações, mas, sobretudo, a nossa fé. Dessa forma poderíamos pensar numa
“inteligência espiritual”.
O grande obstáculo para essa
inteligência é o pecado, que atrapalha a visão que temos de nós mesmos, das
outras pessoas, do mundo, e, acima de tudo, de Deus. Ajuda bastante uma palavra
que normalmente tem uma conotação negativa: arrependimento. Falar nisso,
geralmente, nos leva a pensar em algo negativo, que nos coloca para baixo, que
traz um sentimento ruim.
Uma possibilidade de tradução,
porém, da palavra grega para arrependimento, é, literalmente “mudar a maneira
de pensar”. Isso se encaixa com o versículo de Romanos 12.2b: “Deixem que Deus
os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês”.
Viver em arrependimento diário
é ter Deus renovando e transformando a nossa maneira de pensar. Isso é o que
estamos chamando de “inteligência espiritual”: olhar as coisas do ponto de
vista de Deus. E isso significa olhar para Jesus.
E lembramos que:
– ele é o primogênito da nova criação;
– se o pecado atrapalha essa inteligência, ele
não tinha pecado;
– no batismo fomos unidos a ele, e dele vem a
força para uma vida nova, restaurada e transformada.
E ligado a tudo isso, Paulo
afirma em 1Coríntios 2.16: “Nós temos a mente de Cristo”.
Podemos aprender com Jesus
alguns aspectos maravilhosos dessa inteligência, que podem nos ajudar a mudar a
nossa maneira de pensar.
A primeira coisa que chama a
atenção é que Jesus tinha uma noção muito clara de sua identidade, sabia
perfeitamente bem quem era. Aos 12 anos, quando se perdeu dos seus pais e
depois de três longos dias foi achado no templo, ao ser questionado por Maria,
respondeu: “Não sabiam que eu tinha de estar na casa do meu Pai?” Uma tradução
melhor seria: “Não sabiam que eu deveria estar cuidando dos negócios do meu
Pai?” Aos 12 anos, clareza absoluta.
Em João 8.14, ele declara: “Eu
sei de onde vim e para onde vou”.
Por 18 vezes, afirma a sua
identidade com o “Eu sou”. Pão, água, luz, bom pastor, a ressurreição e a vida,
para citar alguns exemplos. Essa expressão, “Eu sou”, foi a forma como o
próprio Deus se revelou no Antigo Testamento. Há nela uma afirmação da divindade
do Senhor. Essa é a identidade de Jesus. Ele sabia perfeitamente bem que era.
Saber quem somos é fundamental
para nossa “inteligência espiritual”. Observe que, desse ponto de vista, nenhum
ser humano é capaz de dar uma definição adequada, pois somos iguais, limitados
e “emburrecidos” pelo pecado.
Por isso precisamos, sempre de
novo, voltar ao nosso manual do fabricante, a Escritura Sagrada, que nos ajuda
a entender quem somos. Ela diz que somos criaturas de Deus, que ele é o nosso
Pai querido. Mostra também a tensão que existe na nossa identidade. Somos ao
mesmo tempo pecadores e santos.
Somos pecadores, uma parte de
nós luta para só fazer pecado, e sofremos com ele e suas tristes consequências.
Somos santos, justos,
santificados e justificados por Jesus, temos a nova vida em Cristo, e essa
parte de nós luta para fazer a vontade de Deus e vencer o pecado.
Como a clareza da nossa
identidade nos ajuda em dois aspectos fundamentais:
– humildade:
não somos melhores que ninguém, precisamos, a cada dia, de arrependimento;
– total
dependência de Deus: se somos cristãos, se permanecemos na graça, se
experimentamos coisas boas nesta vida, é porque Deus é extremamente amoroso e
bondoso conosco.
O segundo aspecto da
“inteligência espiritual” de Jesus, que nos interessa, é que ele tinha muito
claro o propósito de Deus para a sua vida. Sua visão, objetivos e ações sempre
foram dirigidos de acordo com esse propósito.
Em João 10.10, declara: “Eu
vim para que vocês tenham vida, e vida em abundância”.
Duas palavras nos ajudam a
entender o seu propósito, de acordo com Filipenses 2: sacrifício e serviço. Ele
se sacrificou por nós. É o maior exemplo de servo e serviço. Abriu mão da glória
celeste para ser um simples servo, servindo-nos com a sua obra.
Pensando em propósito, fica
claro o de Deus, ao mandar Jesus, em textos como João 3.16: “Porque Deus amou
ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que
crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Mas olhe só que graça: se no
evangelho, em João 3.16, temos o propósito de Deus, na carta, em 1Jo 3.16, Deus
nos ajuda a entender o nosso propósito: “Nisto conhecemos o amor: que Cristo
deu a sua vida por nós; portanto, também nós devemos dar a nossa vida pelos
irmãos”.
Somos desafiados a nos
sacrificar e servir uns aos outros; a deixar de lado o nosso orgulho,
egocentrismo e egoísmo e perguntar a quem Deus coloca diante de nós: O que eu
posso fazer por você? Como eu posso tornar a sua vida melhor e mais feliz?
O terceiro aspecto da
“inteligência espiritual” de Jesus temos em João 16.32: “Não estou sozinho,
porque o Pai está comigo”.
Ele sabia que o Pai estava com
ele porque estava em constante comunhão com o Pai através da oração. A oração
era uma prioridade no seu ministério.
É tão interessante como os discípulos
nunca pediram “ensina-nos a pregar, ensinar, curar, expulsar demônios”, mas
pediram “ensina-nos a orar”. Este precisa ser o nosso pedido também.
Se Jesus, que era tão ocupado,
reservava um tempo para orar, o quanto nós, com nossas dificuldades e
limitações, precisamos muito da oração. Por que será que muitas vezes estamos
tão cansados, ansiosos, agitados, achando que precisamos resolver e dar jeito
em tudo? Aqui vai uma dica valiosa: faça pequenas pausas no seu dia para a oração.
Chame Deus para agir na sua agenda. Isso, sim, é “inteligência espiritual”.
Para terminar, Jesus tinha
claramente uma perspectiva eterna da vida, olhava as coisas além desse mundo. Em
Hebreus 12 nos é dito que ele suportou a cruz porque pensou e focou na alegria
que viria depois.
Uma perspectiva eterna nos
ajuda a suportar os sofrimentos: vai passar, logo estaremos com Jesus.
Uma perspectiva eterna nos
ajuda a valorizar as coisas que precisam ser valorizadas.
Já pensou que outro poderá
usar esse carro, morar na sua casa, digitar nesse celular que você gosta
tanto?! Um dia, que pode ser exatamente hoje, você precisará abrir mão desse
tipo de coisa e de tantas outras.
Há uma frase, que não sei o
autor, que nos leva a pensar: “O que não tem valor eterno, é eternamente
inútil”. Valorize o que é eterno.
O que é ser inteligente, para
você? Para mim, inteligente é você que está lendo este artigo e quer ter a
mente transformada por Deus através de sua Palavra. Cultive e invista na
inteligência de valor eterno.
Pastor Flávio Luis Hörlle