Quaresma e Semana Santa: Um tempo de oportunidades


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03/03/2023 #Artigos #Exclusivo Assinantes

A Quaresma tem conotação de recolhimento

Quaresma e Semana Santa: Um tempo de oportunidades

A Quaresma é um período do calendário da igreja que inicia com a Quarta-Feira de Cinzas e segue por quarenta dias, onde a ênfase é o preparo para a celebração da Festa da Páscoa. A palavra forte para o período é arrependimento. E arrependimento requer uma volta para Deus, pois sem ele não há perdão, e sem perdão não há salvação.
Os quarenta dias simbolizam os quarenta dias de tentação que Jesus sofreu no deserto. Também pode ser oportuno lembrar dos quarenta anos que o povo de Israel viveu no deserto em preparação para entrar na terra prometida.
A Quarta-feira de Cinzas vem do costume bíblico de manifestar pesar e penitência pelo cobrir-se com panos de saco e cinzas (Is 58.5).
A semana seguinte é chamada de Semana Santa, que inicia com o Domingo de Ramos, no qual lembramos de Jesus sendo recebido como Rei. O estender de ramos e vestes é um chamado para estendermos nosso coração também em arrependimento. A Semana Santa inclui a Quinta-feira Santa, dia especial dedicado para a Santa Ceia. A Sexta-feira Santa é dia para nos recolhermos no sacrifício de Cristo por nós. É uma semana própria para reflexão mais profunda sobre o que Cristo fez para nos libertar da condenação eterna e sobre a nossa situação pecaminosa diante da obra dele por nós.
Tanto a Quaresma como a Semana Santa são oportunas para constatarmos a realidade em que vivemos. Somos pecadores por natureza e totalmente dependentes de Deus. Porém, mais do que isso, este é um tempo para lembrar que o peso dos nossos pecados está sobre os ombros de Cristo, e que apesar da nossa natureza pecaminosa, Deus não nos abandonou. É tempo para dizer a Deus, “Estou aqui com minhas imperfeições, lamentando meus pecados e confiando no sacrifício de Cristo por mim”.

O que distingue a Quaresma de outras épocas?
Cada época do ano da igreja têm uma conotação ou ênfase. O Advento relembra as promessas da vinda do Senhor e enfatiza a esperança. A Epifania lembra a manifestação do Senhor Jesus. A Páscoa celebra o regozijo da ressurreição. O pós-Pentecostes enfatiza a vida igreja e o seu crescimento. A Quaresma é diferente. Ela nos convida a um recolhimento e nos chama a contemplar o sacrifício de Cristo por nós.

Outras oportunidades que a Quaresma nos oferece
1. Uma excelente forma é observar a sequência das leituras bíblicas usadas nos cultos na Quaresma, a começar pela Quarta-Feira de Cinzas. As leituras para esse dia são sempre as mesmas (Sl 51.1-19; Jl 2.12-19; 2Co 5.20b-6.10; Mt 6.1-6,16-21). Elas têm a linguagem do chamado de Deus ao arrependimento. “Rasguem o coração e não as suas roupas” diz a leitura a do Antigo Testamento para o dia (Jl 2.13). A motivação para a volta a Deus está na mesma leitura do dia, “ele é bondoso e compassivo, tardio em irar-se e grande em misericórdia” (Jl 2.13). Um culto neste dia é uma boa oportunidade para entrarmos com o pé direito na Quaresma, e para lembrar que os 40 dias seguintes serão para constatar a nossa dependência do grande amor de Deus.
2. No primeiro Domingo na Quaresma sempre é usado o relato da tentação que Jesus sofreu no deserto por 40 dias. É uma oportunidade para lembrar que, assim como o Senhor foi tentado, nós também somos assediados pelo diabo. E muitos têm sofrimentos e peso de consciência por terem cedido à tentação. É preciso, sim, alertar que, na tentação está o perigo da morte eterna. Porém, mais do que isso, é preciso lembrar que o Senhor sofreu a tentação e venceu. “Ele foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15). Esse dia nos incentiva a olhar para Jesus, como aquele que venceu a tentação pela Palavra. Ela é o guia, orientação e consolo na tentação.
3. Os textos para os domingos seguintes, principalmente dos evangelhos, mostram uma nítida caminhada de Jesus indo para Jerusalém, rumo ao Calvário. Parece uma caminhada compassada. É o compasso do amor de Deus, que nos chama ao arrependimento e a confiar nos méritos de Cristo. Não é uma boa ideia interromper a sequência desses textos com outros textos e outros temas. Um olhar mais atento para essa sequência nos ajuda a entender o quanto Deus amou o mundo.
4. A Quaresma nos chama para um olhar com mais atenção para os hinos próprios da época. No Hinário Luterano, eles têm um conteúdo muito rico. Às vezes se houve queixas de que os hinos dessa época são pesados para se cantar. Mas, na verdade, eles seguem o ritmo do recolhimento e da contemplação. E os hinos não são feitos para apenas serem cantados pela congregação. Uma possibilidade é ensaiar um canto solo ou por um grupo musical. Outra possibilidade é a recitação de um hino em forma de oração. Um exemplo é hino 88 do Hinário: “Ó fronte ensanguentada”. Outra possibilidade é colocar alguém para fazer uma declamação poética de um hino em cada culto. Os hinos 80 e 95 são adequados para declamação.
5. Uma alternativa para a Sexta-feira Santa é não usar paramento nenhum no altar, o que lembra que Cristo se desfez de tudo em nosso favor.

David Karnopp
Pastor
Vacaria, RS

REFERÊNCIAS
KARNOPP, David. A Dinâmica do Culto Cristão. Origem prática e simbologia. Porto Alegre: Concórdia, 2003.
Shünke, Adilson D. Somos Acompanhados por Deus na Quaresma. Mensageiro Luterano, mar.2009, n.3, ano 92, p. 6.
Sonntag, Martinho. A Quaresma ainda é importante para o povo de Deus? Mensageiro Luterano, mar.2020, p.16,17.
Quaresma. Disponível em: <brasilescola.uol.com.br/pascoa/quaresma.htm>. Acessado em: 7 fev.2023.


OS DOMINGOS NA QUARESMA

Tradicionalmente, os domingos não são contados como sendo de Quaresma, apesar de estarem dentro do período quaresmal. Eles são denominados Domingos “na” Quaresma e não “de” Quaresma. Por que assim?
Todos os domingos, por serem “dias do Senhor” e por serem comemoração semanal da ressurreição do Senhor, são considerados dias festivos. Já a Quaresma não tem conotação festiva; ela tem conotação de recolhimento.
Assim, os domingos na Quaresma não interrompem semanalmente a conotação quaresmal. Os domingos são festivos, porém os cultos quaresmais estão atrelados ao conteúdo da Quaresma. E o culto não tem finalidade em si. Ele não termina com a bênção. Cada culto na Quaresma direciona nosso olhar para a semana, onde a nossa vida prossegue. E a semana aponta para o Domingo, que direciona nosso olhar para o Senhor, para nos alegrarmos com a sua ressurreição.

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