Quando o sofrimento tenta roubar a razão da vida, olhemos para Jesus, que disse: Eu sou a Vida!
O sofrimento com que
este vírus tem afligido o mundo, de alguma forma, atinge todos nós. Se não
fomos infectados, ele já alcançou um membro da nossa família, parente, amigo,
vizinho, alguém da nossa congregação cristã. E muitos não resistiram. É um
sofrimento coletivo, universal, ou, como define a doença, é uma pandemia – palavra
que vem do grego e significa “de todo o povo”.
Quero repartir com vocês
uma história que foi matéria do Jornal NH, de Novo Hamburgo, RS, sobre o
assunto “oração”, e que também ilustrou meu artigo semanal, editado no jornal
citado, no último dia 16 de março. As pessoas envolvidas são o pai, Guido, e o
filho, Jonas, da família Sonntag, muito conhecida na IELB. O artigo tem o
título “De volta para casa”.
Quando o perigo do
contágio na pandemia separa as pessoas umas das outras, o que tem ajudado é o
celular. Só que este meio de comunicação está registrando o drama que milhares
de famílias vivem – e morrem. Foi o que aconteceu na última conversa entre pai
e filho, gravada no WhatsApp. O filho, 34 anos, internado num hospital de Novo
Hamburgo, escreve para o pai:
“– Com a permissão de
Deus, semana que vem quero estar de volta.
– Tem que confiar,
responde o pai. Por enquanto, um grande abraço de longe. Quando tiveres alta,
vou te dar um abração bem apertado, meu filho. Tá bom?
– Tá bom, sim, pai.
– Uma boa noite e um bom
descanso”, diz o aflito pai, que ainda insiste:
“– Quando quiser, me
liga ou manda mensagem a qualquer hora. Tô sempre grudado no celular.
– Tá bom”, diz o
filho, “mando, sim!”.
Naquela noite, no
entanto, Jonas não resistiu ao poder agressivo do coronavírus. Guido, que
recentemente havia perdido a esposa num processo doloroso na luta contra o
câncer, me chamou pelo celular no alvorecer do dia, e em prantos, lamentou:
“– O Jonas faleceu. Tá
difícil de suportar a dor, pastor!”.
E choramos juntos,
tanto que as palavras se transformaram em murmúrio de um sofrimento que não tem
explicação.
A dor deste pai
expressa a aflição de um mundo de gente na frente de um caixão lacrado num
velório vazio, sem o abraço de parentes e amigos. É um sofrimento solitário,
antes, durante e depois. Como suportar tamanha dor que rasga o coração em
pedaços? Qual o motivo da vida, se a morte rouba aquilo que preenche a razão de
viver?
Meu amigo Guido, no
entanto, apesar de não encontrar forças para “seguir adiante”, enxerga uma luz
no fundo do poço. A mesma luz que o Jonas enxergou – e que agora pode ver com
esplendorosa luminosidade. Aliás, foi isto que o Jonas testemunhou nas suas
últimas palavras, “com a permissão de Deus, semana que vem quero estar de volta”.
Com a permissão de Deus, o filho do Guido voltou para casa naquele mesmo dia.
Para a casa do seu Pai celestial.
Este Pai celestial
sofreu uma dor parecida, mas, ao mesmo tempo, bem diferente. O próprio Jesus
disse que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito...”
(Jo 3.16). Este amor sofrido de Deus está marcado nas últimas palavras do seu
Filho, sozinho e abandonado na cruz. Mas havia um propósito, era para que o
nosso sofrimento neste mundo ficasse apenas neste mundo. Por isso as
confortadoras palavras do Salvador: “Que o coração de vocês não fique
angustiado [...] Na casa de meu Pai há muitas moradas [...] Pois vou preparar
um lugar para vocês” (Jo 14.1,2).
Quando o sofrimento
tenta roubar a razão da vida, então olhemos para Jesus, que disse: Eu sou a
Vida!
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