Como é bom encontrar você, leitor, por estas
páginas do Mensageiro Luterano. Eu gostaria de compartilhar com você um
conteúdo que é bastante pertinente, atual e que precisa de uma especial
reflexão. Vou falar sobre os jovens, mais especificamente sobre a geração Z,
observando os seus aspectos de saúde mental. Proponho, antes de escrever
qualquer palavra sobre a temática, adentrarmos nos diferentes comportamentos
dos adolescentes das gerações anteriores, para uma melhor compreensão das
características da geração atual. Vale lembrar que cada geração vivenciou um
momento histórico e socioeconômico, o que fez com que os fatos marcantes da
época influenciassem o comportamento das pessoas. Cada transformação foi um
romper da continuidade social, uma ressignificação do paradigma da época, em
síntese, um ponto de partida para cada geração. A primeira geração foi chamada
de Tradicional, isto é, jovens nascidos até o ano de 1945. Ela acompanhou a
Primeira Guerra Mundial, passando por mudanças políticas e socioculturais, proporcionando
jovens práticos e dedicados.
A próxima geração foi chamada de Baby
Boomers, nascida entre os anos de 1946 e 1964. Na época, com uma boa
perspectiva econômica, houve o aumento do índice de natalidade, assim, ela
ficou conhecida como Baby Boomers, explosão de bebês. Um grupo que
valorizou o emprego fixo e uma vida com estabilidade. A geração seguinte, Geração
X, nasceu entre os anos de 1965 e 1977. Foi o tempo de grandes avanços
tecnológicos: o primeiro microprocessador, o surgimento do videogame, etc. Uma
geração mais questionadora, com dúvidas acerca dos valores, com tendências
individualistas, entretanto, não esqueceram do espírito de equipe. A seguinte
foi chamada de Geração Y, nascida entre os anos de 1978 e 1994. Os jovens da Geração
Y tiveram uma educação acompanhada dos primeiros computadores, da TV a cabo, do
surgimento do disquete, do CD e outros. Jovens que aprenderam a compartilhar
mais cedo, a divulgar conteúdos, comparar e assim por diante. A Geração Y
norteou os primeiros fundamentos acerca dos relacionamentos nas redes sociais.
Já a Geração Z são os jovens nascidos a partir dos anos de 1995 e 2010. São os
considerados nativos digitais, isto é, eles vieram ao mundo já rodeados por
celulares, computadores, serviços de mensagens, dispositivos portáteis e o
acentuado número de informações instantâneas. Jovens transpassados pela
hiperconectividade. No entanto, até que ponto é saudável estar online o tempo
todo?
A SAÚDE MENTAL OFFLINE
NA ERA DIGITAL
A sociedade contemporânea é mediada pelas
inovações tecnológicas. As tecnologias de informação e demais mídias são,
digamos assim, as mediadoras das relações humanas atuais. Elas incentivam e
produzem padrões, estruturam comportamentos, ainda mais: interferem no contexto
político, econômico e social em escala global. Portanto, os meios eletrônicos
se tornaram essenciais para a sociedade, tornando-se o elemento central nas
atividades humanas. Claro, a tecnologia trouxe muitos benefícios. Pela
internet, a pessoa faz tudo, ou quase tudo: compras, consultas médicas,
pagamentos, transferências bancárias, ou seja, tudo acontece no sofá de casa. O
grande desafio de hoje é saber quem exerce poder sobre quem. Como por exemplo:
existem pessoas que dependem emocionalmente de uma quantidade numérica de
curtidas em uma dada foto postada em seu Instagram ou Facebook. São indivíduos
que dependem da chamada ditadura da felicidade, ou seja, é passar um estado
constante de felicidade nas redes sociais, como se o sofrimento não fosse parte
da existência humana.
As informações instantâneas e os avanços
tecnológicos exigem um sujeito mais ágil e dinâmico diante de ambientes
estressores. Assim sendo, com o aumento considerável da cobrança, ele precisa
atingir os êxitos pré-estabelecidos. E com o aumento da velocidade
informacional, o tempo diminuiu e a intolerância aumentou consideravelmente. As
pessoas não têm mais paciência, precisam de tudo para ontem, enfim, o ser
humano carece estar se adequando constantemente. É como se ele estivesse
atravessando uma permanente etapa de angústia. O período atual possui algumas
características próprias: o materialismo, o que importa é ter; hedonismo, a
busca sem limites pela excitação; relativismo, não existe uma verdade, tudo é
passível de crítica; e a desreferencialização, a perda das referências sociais,
isto é, a pessoa decide o que é certo e errado. Tudo isso gera nas pessoas:
depressão, ansiedade, individualismo, vazio interior, etc. Eis o contexto histórico
da Geração Z: são ativos, estão sempre online e conectados o tempo todo, mas,
no que tange à saúde mental: inativos, offline e desconectados; em síntese,
precisam de ajuda.
DESCONECTAR É PRECISO
Escutar é o primeiro passo para uma ajuda
eficiente. A escuta também está relacionada com uma boa comunicação, uma vez
que ela demanda desejo, receptividade, vontade e atenção para cada palavra dita
pela outra pessoa. Escutar não é apenas com os ouvidos, mas também com os
olhos. É olhar para o outro com interesse, dado que o rosto é o livro aberto
das emoções. É escutar não com julgamento, mas com amor e empatia. Falar também
é um valioso instrumento de ajuda, mas quando escrevo sobre conversar, não
estou mencionando o WhatsApp, Messenger, e cada um num cômodo da casa, nada
disso. Para a saúde mental, nada substitui uma boa conversa frente a frente. Falar
é compartilhar um peso, é dar voz ao sofrimento, é ser franco consigo mesmo. Pela
fala, o sofrimento encontra um sentido na cadeia dos discursos, o falar auxilia
o afeto, antes dissociado, a ter um sentido e resolução. A dor não é para ser
vivida no silêncio.
A convivência é um dos princípios fundamentais
da vida. Em tempos de um individualismo desproporcional, as programações com os
familiares, passeios com os amigos, frequência nos cultos das congregações,
vivência cristã, são excelentes meios para desativar o modo offline da saúde
mental contemporânea. Orar, escutar e conversar com Deus é imprescindível.
Através do diálogo, da escuta e da convivência, Jesus Cristo mostrou os
aspectos do Reino e sua presença no mundo. As orações individuais, em família e
congregacional são valiosos caminhos, ou seja, como está escrito na Bíblia:
“Volta-te para mim e tem compaixão, porque estou sozinho e aflito. Alivia-me as
tribulações do coração; tira-me das minhas angústias” (Sl 25.16-17). Deus
promete responder à oração do pecador. Em meio a uma sociedade altamente
tecnológica e virtual, Deus irrompe com sua promessa de fidelidade e amor. Desconectar
é preciso, mas estar conectado a Jesus Cristo é essencial.
Artur Charczuk
Pastor e psicanalista em São Leopoldo, RS
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