A Palavra gerada pelo Pai soa no próprio Deus, revela o encoberto, brilha na manjedoura de Belém, ilumina parábolas.
Palavras
incitam, anunciam produtos para serem adquiridos e consumidos, palavras
circulam vazias, perseguem, invadem lugares privados, perturbam horas de
descanso,alagam como águas de enchente,
bracejamos para sobreviver. João, ao anunciar a Luz,lembra a Palavra que iluminou o universo. A
Palavra gerada pelo Pai soa no próprio Deus, revela o encoberto, brilha na
manjedoura de Belém, ilumina parábolas, dá esperança aos desorientados, ativa
braços acolhedores, conforta abandonados, move corpos enfraquecidos. Na
Palavra, Deus é Emanuel, Deus conosco; a Palavra é presença criadora, em nós,
através de nós. Vimos a glória do Pai.Vimos e vemos. A Palavra, viva e ativa na
aurora do universo, age em cada um dos que recebem a Luz. A Palavra nos toca:
nuvens passam, o território se ilumina, lugar em que respiramos, fortalece-nos
em dores persistentes, bate no peito, traz conforto. A Luz ilumina olhares que
se abrem à Luz, a Luz se aproxima calorosa, Luz de Luz, Luz de luzes, Luz dos que
esperam.
Antes
de a Luz iluminar, pessoas sabem que estão a caminho embora ignoremdonde viemose para onde vamos,tarefas pesam,
faltam palavras para contar o quepassa,somem conexões, distanciam-se
ouvidos queouçam.As trevas são fortes, surgem na dúvida, nas dificuldades,
nos caminhos que não são o Caminho. Sombras em mim e sombras em outros adensam
as trevas, não se transformam em sendas iluminadas. Olhares trevosos assombram,
agridem, condenam, ferem.A Luz busca os
que vivem nas trevas.
A Palavra,
vida dos que convivem, brilha em palavras que ouvimos e proferimos, abre
veredas que nos aproximam. A luz brilha nas trevas, nas trevas em que estamos,
nas trevas que somos. A Luz irrompe como solução imprevista, ilumina passos que
avançam, possibilidade de ser e de viver. A Palavra, corpo do nosso corpo, é
corpo que pulsa, corpo que reúne o disperso, consonância em dissonâncias. A Luz
é a esperança de pessoas que viviam sem esperança.
Raios
sobem e descem coloridos nas paredes de altos edifícios, iluminam rostos
sorridentes, despertam júbilo, o verde de árvores à luz de velas ressalta o
vigor da vida.Mãos infantis buscam
brilhos distantes. A Luz, luz da vida diária, desce aos afazeres, ao pátio em
que brincam crianças; a Luz é luz de luzes, força de mechas frágeis. Presentes
estabelecem vínculos entre mim e os que estão comigo, presentes unem como
palavras quando fundadas na Palavra. Na Luz os olhos se abrem, vemos e somos
vistos, contemplamos e somos contemplados. Vivemos na Luz, reconhecemos nossas
limitações sem o sentimento de sermos abandonados. Sem a Luz, luzes se apagam,
o mundo se afunda nas sombras, no sem sentido.
Natal
é canto. Falamos do que aconteceu, daquilo que nos aconteceu, o acontecido soa
no canto. A voz de cada um aviva o coral
de todos.
O que
faz a Palavra na época do excesso de palavras? O canto de Natal narra a
história da Palavra que se fez carne, entrou no corpo da história, torna inteligível
o que vemos. Se vimos sua glória, renascemos, somos acolhidos e acolhemos, olhares
em que brilha a Luz amparam aflitos. Iluminados buscam angustiados, ouvem a voz
de desalentados, Belém é o berço da confraternização universal. As vozes dos
que contam se fazem canto, saúdam a Luz.
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A arqueira branca deixa de lado seu arco. Esquece seu treino, esquece suas costas vergadas. Pega seu filho tão querido, tão sofrido nos braços e, sentindo uma imensa dor em seu coração, entrega ...