Vamos iniciar esta reflexão com o
significado de empatia: é uma aptidão, a capacidade de sentir o que a outra
pessoa sente através de uma escuta ativa, de nos colocar no lugar do outro; é
uma identificação com outra pessoa; é a vontade sincera de compreender e
respeitar o outro na sua totalidade.
Como o próprio significado sugere, não
nascemos empáticos, pois naturalmente somos marcados com neurocircuitos da
sobrevivência e da competição, então o caminho que a empatia trilha no nosso
cérebro, assim como a generosidade e a compaixão, precisam ser treinados.
Considerando isso, podemos afirmar que ser empático exige um esforço consciente
e permanente da nossa parte em todos os momentos, desde o nosso acordar… Então,
é comum ouvir que não basta só vontade, mas, sim, a coragem de fazer.
Uma pessoa empática pergunta e reflete, de
forma sincera e profunda:
– Onde errei e não percebi?
– O que posso fazer para ajudar o outro a ser
mais feliz?
– E se fosse comigo?
– Dei um passo hoje na direção de ser uma
pessoa melhor e mais empática?
Nos últimos anos, e durante a pandemia,
nunca se falou tanto da importância de ser empático. E fica cada vez mais
evidente, na reflexão sobre as relações sociais, que a empatia é fruto de
consciência e sabedoria, não de estudo! Ela é a chave não só para o bem-estar
do outro, mas para o de quem a está oferecendo.
Há necessidade do outro
na nossa vida! Somos neurologicamente programados a buscar conexão,
pertencimento e amor; e, na falta disso, há um sofrimento e vazio muito
grandes. Para a convivência ser harmoniosa, é preciso um esforço diário de
empatia, entendendo que, muitas vezes, o que nos irrita, fala muito mais sobre
nós do que da outra pessoa. Aí entra o autoconhecimento: quanto mais eu conheço
a mim mesmo, meus limites, mais respeito e confiança posso ter na jornada do
outro. Olhar o outro é, muitas vezes, perguntar-se: O que lhe faltou? Por que
ele está se comportando dessa forma? Aí, a partir dessa reflexão, não falaremos
nem faremos certas coisas.
Não somos empáticos quando impomos
nossas preferências e gostos às outras pessoas, quando menosprezamos suas
escolhas e decisões, dando a entender que aquilo que elas gostam não tem valor.
Dessa forma, demonstramos que somos arrogantes, apontadores de falhas, críticos
excessivos, levando assim a um distanciamento social. A dificuldade de aceitar
que somos diferentes uns dos outros não permite uma escuta ativa pela outra
pessoa. As percepções de mundo, de dor, frio, alegria, fome, são diferentes em
cada um, e não há problema nisso! É de extrema importância estar aberto às
novas narrativas de mundo e aprender mais com e sobre o outro!
Importante, como cristãos, percebermos a
ligação que a empatia tem com o amor de Deus por nós. Em João 3.16, lemos:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que
todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Então podemos
concluir que o maior exemplo de empatia foi dado por Deus.
E Jesus, em Marcos 12.31, nos ordena: “Ame
o seu próximo como você ama a si mesmo”. Para exemplificar quem é o nosso
próximo, ele nos contou a parábola do bom samaritano. Sem fazer “vista grossa”
ao sofrimento de quem cruza o nosso caminho, fica evidente nessa parábola que
precisamos enxergar a necessidade do outro, estendendo-lhe a mão e nos
responsabilizando até o final pelo seu cuidado.
O bom samaritano impactou
verdadeiramente a vida daquele desconhecido. E uma vez que entendemos o evangelho
de Cristo, amar o próximo é uma resposta ao seu amor por nós. Porque ele nos
amou primeiro é que podemos amar nosso próximo.
Exercitar a verdadeira empatia sem
esperar nada em troca não é algo fácil, requer entendimento do que Jesus fez
por nós, seguir seus ensinamentos e pedir diariamente a sua ajuda para colocar
em prática a nossa fé em favor do nosso próximo. Quando conseguimos ser
empáticos, nos aproximamos da sabedoria divina, pois nossas escolhas e decisões
são baseadas naquilo que Jesus faria em nosso lugar… E aí não há como uma
resposta a essa reflexão não nos levar a algo construtivo!
Com a parábola do bom samaritano, podemos
também aprender que não precisamos ser ricos financeiramente, mas, sim, ser
disponíveis, usando nossos dons, nosso tempo e nossa vida!
Deixar de sermos superficiais e rasos
nas nossas relações com os outros é primordial, porque parece que ninguém mais
escuta ninguém. É uma concorrência permanente por atenção própria, estimulada
pelo discurso do “Eu mereço ser feliz”, “Eu preciso disso ou daquilo”, e “O que
vou ganhar em troca?” Mas é preciso entender que, se ajudamos alguém e esperamos
algo em troca, estamos fazendo negócios e não gentileza!
Tolstói, escritor russo (1828-1910), exemplifica
esse egoísmo do ser humano: “Há quem passa por uma floresta e só vê lenha para
sua fogueira”. Quer dizer, só aquilo que nos serve é levado em conta. E assim
não percebemos a beleza de servir ao próximo genuína e desinteressadamente.
Somos únicos, criados por um Deus de
amor, chamados para amar nosso próximo e tratá-lo assim como gostaríamos de ser
tratados também. Sejamos nós a mudança que tanto almejamos para o mundo,
começando com o convívio junto aos nossos familiares, colegas, irmãos da
igreja. Não precisamos ir muito longe para ajudar o outro; prestemos atenção à nossa
volta e sempre teremos a oportunidade de sermos empáticos e amar o próximo.
Helen Keller, escritora cega e surda,
ativista social norte-americana (1880-1968), é uma inspiração ainda hoje para
muitos, com suas palavras: “Enquanto você pode aliviar a vida de alguém, a vida
não é em vão”. Que nosso referencial seja sempre Jesus, pois, somente com sua
ajuda conseguiremos exercitar a verdadeira empatia e, assim, sermos mais
resilientes diante das adversidades do mundo em que vivemos!
Deici R. Weschenfelder
Professora e psicopedagoga
Marau/RS
Congregação São João, de Passo Fundo, RS