Se as guerras nascem no coração humano, é lá que as coisas precisam ser resolvidas.
Num planeta onde milhares de pessoas morrem todo
dia por falta de comida, os gastos em armamento poderiam matar a fome num tiro
só. Mais de 800 milhões de pessoas passam fome no mundo, e não por falta de
comida ou condições na produção de alimentos. O problema é que a humanidade se
empenha muito mais no sustento pelas armas do que no sustento pela comida. A
cifra é escandalosa: em média são dois trilhões de dólares por ano na produção
e gastos com armamento. E agora, com esta guerra na Ucrânia, estes números
inflacionaram.
Claro, isso não vem de hoje. A primeira guerra
mundial aconteceu quando Caim matou Abel, e desde lá, a história humana carrega
um insistente registro de horror e crueldade. “De onde vêm as lutas e as
brigas entre vocês?”, pergunta Tiago. Ele responde: “Elas vêm dos maus desejos
que estão sempre lutando dentro de vocês. Vocês querem muitas coisas; mas,
como não podem tê-las, estão prontos até para matar a fim de consegui-las.
Vocês as desejam ardentemente; mas, como não conseguem possuí-las, brigam e
lutam”.
Se as guerras nascem no coração humano, é lá que as
coisas precisam ser resolvidas. E daí surge aquele que diz: “Deixo para vocês a
paz que o mundo não pode dar”. Essa é a solução contra as guerras, a paz com
Deus pelo corredor humanitário ao céu, Jesus. E por isso a Quaresma, época
cristã para lembrar com mais intensidade que Deus “abriu mão de tudo o que era
seu e tomou a natureza de servo, tornando-se assim igual aos seres humanos” (Fp
2.7).
Mas, este mesmo Deus – que travou e venceu a guerra
espiritual para nos alcançar a vitória – grita lá de cima: “Parem de lutar e
fiquem sabendo que eu sou Deus. Eu sou o Rei das nações, o Rei do mundo
inteiro” (Sl 46.10). Um dia os senhores da guerra se curvarão diante desta
ordem. Enquanto isso, a história comprova que os causadores de atrocidades,
destruição e morte já neste mundo pagam por seus atos. A própria Bíblia adverte
que a hora deles sempre chega, ou, como diz Provérbios 6.15: “A desgraça cairá
de repente sobre eles, e não poderão escapar”. O problema é que eles também
podem desgraçar a nossa vida. Ainda mais nestes tempos das armas nucleares.
Resta-nos a suplicante oração: “Ó meu Deus, livra-me dos meus inimigos!
Protege-me daqueles que me atacam. Salva-me dos homens maus; livra-me desses
assassinos” (Sl 59.2).
O profeta Jeremias, no entanto, já tinha dito para
não perdermos a coragem nem ficar com medo das notícias, porque “cada ano se
espalha uma notícia diferente; são notícias de violência na terra e de um rei
lutando contra outro” (51.46). Mais tarde, Jesus diria o mesmo: “Não tenham
medo quando ouvirem o barulho de batalhas ou notícias de guerras”. Foi isso que
o Salvador disse ao aparecer vivo aos assustados discípulos diante da
morte. Eles precisavam de coragem. É o que tanto necessitamos. Não
empunhando armas destruidoras e confiando em nossas capacidades. “Vistam-se com
toda a armadura que Deus dá a vocês”, lembra Paulo na carta aos
Efésios, “para ficarem firmes contra as armadilhas do Diabo”.
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