Sigmund
Freud, pai da psicanálise, definiu a ansiedade como uma reação a uma situação
de perigo, isto é, uma condição que pode causar algum tipo de prejuízo ao ser
humano. É inerente ao homem sentir certo grau de ansiedade, entretanto, é no
campo da ansiedade que o objeto começa a se tornar dúbio. Em outras palavras,
não se sabe ao certo de que medo está se falando, mas é sabido que existe algo
ali, que está por vir. E essa inquietação possui uma significativa relação com
os conteúdos do desejo. O indivíduo pode desejar muito algo, contudo, sem saber
se aquilo irá se consolidar.
Portanto,
a ansiedade está ligada a uma vontade de ter o controle da realidade, das
possibilidades, das fantasias, etc. Sintetizando: é uma preocupação com os
eventos futuros. Por outro lado, a expectativa pelo futuro tem suas bases nas
experiências do passado. Os estados afetivos são desenlaces de vivências
desagradáveis em diferentes épocas da vida. Com isso, a ansiedade é uma
resposta à ameaça de ocorrência de uma circunstância traumática. Por exemplo:
separação dos pais, um acidente, humilhação pública, uma perda e assim por
diante. Consequentemente, a ansiedade reproduzirá a manifestação da ansiedade
vivida em tempos anteriores, autorizando o desencadeamento de atuações de
defesa.
ANO NOVO E STRESS ANTIGO
Pensar em
sociedade, hoje, é ter ciência da corrente desenfreada da burocratização e
mercantilização das relações sociais. O ser humano é orientado a ter uma forma
de vida baseada na mercadoria e, como resultado, o indivíduo passa pelo
processo de coisificação, sendo resumido em expressão do desejo e espaço
referenciado das investidas capitalistas. Os relacionamentos humanos são
apropriados pelos sentimentos de propriedade e composição capital. Assim,
partindo de um olhar panorâmico sobre a coletividade, ela sugere ser um espaço
artificial e institucionalizado pelas forças exteriores das cifras e valores
numéricos. E qual é o resultado dessa fórmula social? Uma sociedade movida pelo
espetáculo, isto é, ter é ser; competitividade, a busca constante por um lugar
de destaque no mercado; individualismo, etc. Por conseguinte, o psiquismo da
pessoa fica adoecido: depressão, melancolia, desânimo, síndrome do pânico, ansiedade
e outros.
A grande
questão, amigo leitor, é a seguinte: ano começa, ano termina, todavia, os
estressores sociais persistem, as narrativas engessadas não passam pelo crivo
da mudança. Como efeito, as dores emocionais permanecem, a ansiedade continua. Diante
de um novo ciclo, leitor, não fique tão preocupado com os objetivos; claro, não
digo para dispensá-los, mas, primeiramente, olhe para si: revise seu dia a dia,
rotina, comportamentos, emoções e tenha clareza das coisas. Procure trabalhar
com fatos; por meio deles, a ansiedade reduz, porque você vai estar
visualizando as metas e não se amparando na imaginação ou suposições. Anote os
passos e sempre faça uma revisão no final de cada mês. Caso a rota não tenha
dado muito certo, revise e siga em frente, procure entender os motivos do
ocorrido. E não esqueça: a relação amorosa com Deus garante o desfrute de uma
paz única. Nosso real valor não vem das legitimações ou situações sociais, mas provém
do Criador. Em Cristo, o ser humano enfrenta as situações da vida com
esperança. Início de ano, sim, no entanto, sempre com Cristo.
Artur Charczuk
Pastor e psicanalista em São Leopoldo, RS