Distinção entre Lei e Evangelho


06/04/2022 #Publicações #Editora Concórdia

Livro da semana

Distinção entre Lei e Evangelho

Manejando Bem a Palavra da Verdade

John Pless garimpa as riquezas da Escritura, Confissões Luteranas, obras pastorais de Martinho Lutero e C. F. W. Walther para descobrir gemas vitais tanto para a vida cristã como para a pregação. Walther escreveu seu clássico estudo sobre a correta distinção entre Lei e Evangelho num cenário social muito diferente do século vinte e um nos Estados Unidos. Pless guia seu leitor do texto de Walther para dentro da Escritura e para dentro da vida diária, tanto através de comentários perceptivos como através de perguntas pontuais para discussão. Seu estilo de prosa vivaz tece em conjunto observações de teólogos (de Lutero a Bo Giertz, Gerhard Forde e Oswald Bayer) com seus próprios insights e exemplos de permutas ecumênicas contemporâneas e a vida real. Pastores e leigos vão encontrar neste livro de fácil leitura prazer e grande ajuda na prática do viver cristão.


Autor: John T. Pless
Tradutores: Acyr Raymann e Beatriz C. Warth Raymann
Dimensões: 16X23 cm
Páginas: 152

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Leia a Introdução do livro “Manejando bem a Palavra da verdade”.

Aprendendo a Distinguir Lei e Evangelho com o Pastor Walther

Não devemos pregar somente uma dessas palavras de Deus, mas as duas; devemos tirar de dentro de nosso tesouro coisas novas e coisas velhas, a voz da Lei bem como a Palavra da graça (Mateus 13.52). Necessitamos mostrar a voz da Lei para que o homem seja levado a temer e a chegar ao conhecimento de seus pecados e assim ser convertido ao arrependimento e a uma vida melhor. Mas não devemos parar por aí, porque isso somente levaria a sofrimentos, e não ao comprometimento; à punição, e não à cura; à matança, e não à vida. Estaríamos conduzindo ao inferno, e não trazendo novamente de volta; estaríamos humilhando, e não exaltando. Portanto, necessitamos também pregar a Palavra da graça e a promessa do perdão por meio do qual a fé é ensinada e despertada. Sem essa Palavra da graça, as obras da Lei, (contrição, penitência e todo o restante) são feitas e ensinadas em vão. – Martinho Lutero.[i]

As pessoas deveriam evitar ir a um restaurante onde o chefe de cozinha não sabe dizer qual é a diferença entre cianeto e sal. Uma pitada de sal dá sabor ao alimento, mas um toque de cianeto é letal. As distinções fazem diferença. Onde são feitas de maneira inadequada, os resultados podem ser mortais. O Pastor C.F.W. Walther (1811-87)[ii] sabia que onde a Lei de Deus não é corretamente distinguida do Seu Evangelho, a vida espiritual das pessoas é colocada em perigo, conduzidas à futilidade e ao desespero ou a uma autoconfiança e arrogância que nega a Cristo. O resultado final é o mesmo: descrença que condena. Onde Lei e Evangelho são misturados, a fé é colocada em perigo, e a incerteza domina o dia.

Entre os muitos legados que recebemos de Deus por meio de Walther está a verdade bíblica de que Deus fala aos seres humanos de duas formas fundamentalmente diferentes e até opostas. As Escrituras identificam essa dupla forma de falar como Lei e Evangelho. O grande teólogo do século 20 Werner Elert observou que Walther foi um dos poucos homens que genuinamente compreendeu o que estava em jogo com esse ensinamento do século 19.[iii] Walther, um aplicado estudioso de Lutero e das Confissões Luteranas, seguiu o padrão da Apologia da Confissão de Augsburgo: “reconhecemos que, em alguns lugares, as Escrituras apresentam a Lei e, em outros lugares, apresentam o Evangelho, a promessa gratuita do perdão dos pecados por causa de Cristo”[iv]. Esse insight governaria o trabalho de Walther como pastor, clérigo e teólogo.

Walther não pode ser compreendido sem Lutero, cujos passos doutrinais procurou seguir.[v] Robert Kolb observa que Walther “deu forma à sua época adaptando os ensinamentos de Lutero às necessidades dos imigrantes alemães do século 19 nas fronteiras americanas”[vi]. Walther aprenderia de Lutero que, “assim que a razão e a Lei se unem, a fé imediatamente perde a sua virgindade”[vii]. A razão humana e as implacáveis exigências da Lei, unidas uma à outra, martelam a consciência, de modo que a fé é adulterada, dividida entre a confiança em Cristo e a em si mesmo. Dessa união, só pode resultar desespero ou presunção. Ambos deslocam Cristo na consciência. Por outro lado, a pregação que tem a capacidade de distinguir entre a Lei e a promessa abre para o ouvinte um viver com confiança, liberto da “oscilação entre otimismo e pessimismo, entusiasmo e resignação”[viii].

Esse era o tipo de pregação que Walther queria ouvir dos púlpitos de seus alunos. Em uma série de preleções informais que ocorriam sextas-feiras à noite, dirigidas a estudantes do Concordia Seminary em St. Louis, entre 12 de setembro de 1884 e 6 de novembro de 1885, atualmente publicadas sob o título Lei e Evangelho, Walther ecoa os ensinamentos das Confissões Luteranas ao escrever: “Os conteúdos doutrinários das Sagradas Escrituras, tanto do Antigo como do Novo Testamento, consistem de duas doutrinas que diferem fundamentalmente entre si. Essas duas doutrinas são Lei e Evangelho (Law and Gospel, trad. Tiews, pág. 11; Lei e Evangelho, pág. 26).[1] Longe de ser uma habilidade mecânica que possa ser dominada sem dificuldade, Walther reconhecia, assim como seu mentor do século 16, que distinguir Lei e Evangelho é uma arte, uma capacidade adquirida, forjada pelo Espírito na medida em que a vida do artista é imersa nas Escrituras ao mesmo tempo que é temperada na fornalha da aflição.[ix] Muito mais do que uma técnica ou um método adquiridos por meio do estudo acadêmico, a habilidade para conhecer e aplicar tanto Lei como Evangelho vem somente pela experiência de ouvir e confiar na Palavra de Deus, mesmo que vivamos em luta constante com o pecado e o diabo. Walther, sem dúvida, teria concordado com Hans Joachim Iwand na sua descrição da luta: “Paz com Deus significa no mesmo fôlego guerra consigo mesmo e luta com o mundo”[x].

Walther sabia dessa batalha. Robert Schulz escreve: “Ao final do século 18, a teologia ortodoxa luterana estava engajada nos últimos estágios de uma batalha perdida com o Racionalismo e o Pietismo”[xi]. Ele havia experimentado essa batalha em primeira mão quando estudante universitário na Alemanha, onde foi exposto aos ensinamentos do Racionalismo e do Pietismo. Esses dois movimentos poderosos obscureceram o que distingue Lei do Evangelho deixando as pessoas inseguras sobre a sua situação diante de Deus. O Racionalismo reduzia a Lei de Deus para preceitos morais capazes de serem cumpridos com a ajuda da sabedoria humana natural, não dando espaço para um Salvador que cumpriria a Lei por nós em sua vida obediente e sua morte sacrificial. Ao sujeitar as Escrituras Sagradas ao julgamento da razão humana, o Evangelho bíblico foi rejeitado como sendo obsoleto. Se a Palavra de Deus não for confiável, o pecador ficará à mercê de seus próprios esforços para levar uma vida moralmente decente. A ética se torna mais importante do que a doutrina. O Pietismo focava na experiência subjetiva do crente, dirigindo-o para o testemunho de suas próprias emoções. Isso novamente priva cristãos que estão em luta pela certeza da salvação somente em Cristo. Como jovem, Walther havia sido tiranizado pela incerteza criada em seu coração pelas exigências do Pietismo. Foi somente ao ouvir o verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo pregado como a promessa segura e certa de ser o Senhor de verdadeiros pecadores que Walther encontrou paz para sua alma atormentada. Walther esteve experimentalmente consciente da verdade na afirmação de Lutero: “Quando falamos de experiência, você encontrará o Evangelho como um convidado esporádico, mas a Lei como convidado constante na nossa consciência”[xii].

A obra de Walther é mais bem compreendida à luz do renascimento confessional do século 19, que foi uma reação multifacetada contra o estrago feito pelo Racionalismo e Pietismo sobre a teologia luterana e a vida da Igreja.[xiii] Retornando às nascentes da Reforma, nos escritos de Lutero e das Confissões Luteranas, teólogos e pastores renomados se posicionaram de modo polêmico contra os desvios da fé cristã do Iluminismo e de modo construtivo ao fundamentar a doutrina luterana e suas implicações para prática pastoral e a vida da Igreja. Schulz escreve:

O evento decisivo na vida da Igreja Luterana no século 19 foi o renascimento da teologia da ortodoxia antiga e a dos reformadores. Uma onda de restauração varreu a Alemanha. Os homens que imigraram para a América do Norte e mais tarde fundaram o Sínodo de Missouri eram eles próprios parte desse movimento. O grau de compreensão da Reforma por parte da restauração pode ser facilmente medido pela conscientização e aplicação da distinção entre Lei e Evangelho. É nesse contexto que a obra de C.F.W. Walther deve ser compreendida.

 O significado do tratamento de Walther da distinção entre Lei e Evangelho pode ser inteiramente compreendido quando visto como tentativa de recuperar os ensinos de Lutero e do Livro de Concórdia e de restaurá-los para o século 19 de maneira que apresentasse a posição dos reformadores livre de distorções da ortodoxia, do racionalismo e do Pietismo. A contribuição específica de Walther foi a de restaurar o significado da distinção para a pregação e o trabalho pastoral.[xiv]

No seu livro Lei e Evangelho, Walther demonstra como a Lei de Deus é diferente de seu Evangelho na forma como são revelados, no seu conteúdo, na maneira em que ameaçam ou fazem promessas, nos seus efeitos e no que diz respeito às pessoas a quem devem ser pregados. Walther quer que os cristãos saibam que a Lei de Deus não é o caminho para a salvação; ao invés disso, é a Palavra de Deus que revela a ira divina sobre o pecado e ameaça os pecadores impenitentes com a condenação. Enquanto a Lei de Deus promete vida para aqueles que a guardam e ameaça com punição todos os que a quebram, ela não tem poder para tornar uma pessoa justa aos olhos de Deus. É somente o Evangelho que declara os pecadores como sendo justos – não por causa de sua moralidade ou boas intenções, mas por causa da obra de Jesus Cristo que cumpriu a Lei, sofreu sob a condenação em nosso lugar e ressuscitou dos mortos como nosso irmão. Walther era insistente na correta distinção da diferença entre Lei e Evangelho para que os pecadores quebrantados pudessem vir a conhecer e confiar na definitiva palavra de boas–novas, a promessa de que somente o sangue e a justiça de Jesus nos dá perdão dos pecados. Esse é o Evangelho que nos faz e nos mantém cristãos e que deve predominar em toda pregação e ensino.

O Evangelho é verbal; não é um princípio sem palavras. “Pregue o Evangelho. Use palavras se necessário” é uma frase atribuída a São Francisco de Assis. Se ele realmente disse isso, estava completamente errado. O Evangelho requer palavras. Não são quaisquer palavras que podem ser usadas, mas palavras que são “espírito e vida” (leia João 6.63); palavras que são uma promissória daquele que é o único que pode cumprir o que ele próprio promete fazer, a saber, mostrar favor aos pecadores ao perdoar os seus pecados. Somente isso é o Evangelho, e Walther aprendeu de Lutero que ele precisa ser pregado. Esse Evangelho, diz Lutero, “na verdade não é uma coleção de livros de leis e mandamentos que requerem ações de nós, mas é um livro de promessas divinas nas quais Deus promete, oferece e dá a todos nós seus bens e benefícios em Cristo”[xv]. Aqui Walther simplesmente ecoa Lutero: “Assim nenhuma condição, qualquer que seja, está anexada ao Evangelho; é unicamente uma promessa da graça” (Law and Gospel, trad. Tiews, pág.15; Lei e Evangelho, pág. 29). A pregação dessa alegre notícia anuncia e concede a justificação de Deus para o descrente somente por causa de Cristo.

Distinguir Lei de Evangelho não é um pressuposto assumido por causa da doutrina da justificação pela fé somente. Aqui a advertência de Hans Joachim Iwand, pronunciada pela primeira vez há bem mais do que meio século, é notavelmente oportuna:

Uma Igreja Evangélica que encara o ensinamento da justiça da fé como autoevidente – mas a respeito da qual ninguém deveria se preocupar mais porque outras questões são mais importantes – tem, em princípio, roubado de si mesma a solução central através da qual todas as outras perguntas são iluminadas. Tal Igreja vai se tornar cada vez mais fragmentada e desgastada. Se tiramos o artigo da justificação fora do centro, muito em breve não saberemos por que somos cristãos evangélicos ou por que deveríamos permanecer sendo. Como resultado, vamos lutar pela unidade da Igreja e sacrificaremos a pureza do Evangelho; teremos mais confiança na organização da Igreja e no governo da Igreja e prometeremos mais com base na reforma da autoridade cristã e no treinamento da Igreja do que qualquer um desses é capaz de entregar. Se perdermos nosso centro, iremos cortejar o Pietismo, ouvir outros ensinamentos e estaremos em perigo de ser tolerantes onde deveríamos ser radicais e radicais onde deveríamos ser tolerantes.[xvi]

 


[1] N. do T. A partir da edição atualizada, o autor optou por utilizar a nova tradução do livro de Walther: WALTHER, C.F.W. Law and Gospel. How to Read and Apply the Bible.Traduzido por Christian C. Tiews. St. Louis: Concordia, 2010. Para honrar a escolha do autor, a tradução foi feita a partir desse texto. Caso o leitor queira comparar e utilizar o livro de Walther traduzido para o português, é fornecido em cada citação o número da página do livro: WALTHER, C.F.W. A Correta Distinção Entre Lei e Evangelho. Traduzido por Marie Luize Heimann. Porto Alegre: Editora Concórdia / Canoas: Editora da ULBRA, 2005.

 

[i] LW 31:364.

[ii] Sobre a vida de Walther, veja o livro de August R. Suelflow: Servant of the Word: The Life and Ministry of C. F. W. Walther. St. Louis: Concordia, 2000.

[iii] “Mesmo entre os intérpretes de Lutero do último século, somente uns poucos, tais como Theodosius Harnack e o luterano norte-americano C.F.W. Walther, conseguiram chegar à compreensão Paulina-Luterana da divergência” entre Lei e Evangelho. Leia o livro de Werner Elert: Law and Gospel. Traduzido por Edward Schroeder. Philadelphia: Fortress Press, 1967, pág. 2.

[iv] Apologia da Confissão de Augsburgo IV, 186 (K-W, 150; ênfase no original).

[v] Para uma visão geral do uso que Walther faz de Lutero, leia o livro de Eugene Klug: Walther and Luther, em C.F.W. Walther: The American Luther de Arthur Drevlov et al. (eds.). Mankato, MN: Walther Press, 1987, pág.1-11. Klug observa que, para Walther assim como para Lutero, “a doutrina sobre a justificação e a correta distinção entre Lei e Evangelho são cortadas de um mesmo tecido. Conhecer bem uma significa conhecer o outro. Além disso, conhecer o Comentário de Lutero aos Gálatas é conhecer o quadro sobre o qual Walther jogou seu pensamento em Lei e Evangelho. Walther cita passagens desse livro com abundância” pág. 10. Veja também o artigo de Cameron A. Mackenzie: C.F.W. Walther’s use of Luther. Concordia Theological Quarterly 75 (July/October 2011) pág. 253-73. Para comparação e contraste interessantes de como Walther e dois outros proeminentes teólogos norte-americanos se apropriaram de Lutero, veja o livro de E. Theodore Bachmann: Walther, Schaff and Krauth on Lutherin: Jaroslav Pelikan (ed.). Interpreters of Luther: Essays in Honor of Wilhelm Pauck. Philadelphia: Fortress Press, 1968, pág. 187-230.

[vi] KOLB, Robert. C.F.W. Walther, Interpreter of Luther on the American Frontier. Lutheran Quarterly 1 (Winter, 1987):469. Veja também Richard W. Kraemer: The Structure of Walther’s Lectures on Law and Gospel em Soli Deo Gloria: Essays on C.F.W. Walther. Thomas Manteufel e Robert Kolb (eds.) (publicação privada [S. d.], pág. 61-81. Kraemer identifica 66 citações de Lutero em Law and Gospel, observando que Walther “escolhe [as citações] principalmente de preleções, sermões e tratados quando Lutero estava na meia-idade. Foi nessa época – durante o período de 1528 a 1538 – que Lutero começou a passar a maior parte do tempo refinando suas ideias a respeito da correta distinção entre lei e Evangelho” (pág. 71).

[vii] LW 26: 113.

[viii] BAYER, Oswald. The Reliable Word: Luther’s Understanding of God, Humanity, and the World. Logia 23 (Holy Trinity 2014):10.

[ix] Aqui os leitores têm acesso ao capítulo informativo C.F.W. Walther and Affliction escrito por Christian Barnbrock em C.F.W. Walther: Churchman and Theologian. St. Louis: Concordia, 2011, pág. 3-23. Barnbrock escreveu: “É evidente que tristezas, aflições, tribulações e tentação são experiências básicas na vida de C.F.W. Walther, as quais, ao menos em algumas ocasiões, estão conectadas com colapso físico. Mas também pudemos perceber que essas ocasiões o levaram repetidamente a novos insights espirituais” (pág. 8).

[x] IWAND, Hans Joachim. The Righteousness of Faith According to Luther. Traduzido por Randi Lundell. Eugene, OR: Wipf and Stock, 2008, pág. 22. Usado com permissão de Wipf and Stock Publishers (www.wipfandstock.com)

[xi] SCHULZ, Robert. The Distinction between Law and Gospel. Concordia Theological Monthly 32 (October 1961): 592.

[xii] LW 26: 117.

[xiii] Para um guia muito útil sobre o renascimento confessional e o lugar de Walther dentro desse, veja o texto de Martin Nolan: Walther and the revival of Confessional Lutheranism.  Concordia Theological Quarterly 75 (Julho/Outubro 2011): 195-216. Veja também Carl S. Meyer (ed.): Moving Frontiers: readings in The History of the Lutheran Church-Missouri Synod. St. Louis: Concordia, 1964, pág. 47-89.

[xiv] Schulz. The Distinction between Law and Gospel, pág. 592.

[xv] LW 35: 120.

[xvi] Iwand. The Righteousness of Faith, pág.16.

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