“Deus me preparou desde que nasci”, declara Antônio Carlos Ramos da Rosa, de 74 anos. Em sua trajetória, percorreu diversos caminhos até chegar à Igreja Luterana.
Em sua carreira profissional, atuou como entregador de marmita, aos nove anos; auxiliar de carpinteiro, aos doze; e marceneiro. Mas na maior parte de sua vida, foi técnico em efeitos especiais de escolas de samba do Rio de Janeiro – sendo campeão diversas
vezes pelas escolas carnavalescas Mocidade, Salgueiro, Mangueira, Rocinha, entre outras. Também foi produtor de brinquedos de parque de diversões e de shopping center, e hoje trabalha com empresa de saneamento.
Nascido em família católica, participava de missas e chegou a ser auxiliar em celebrações de missas. Na adolescência, conheceu e começou a participar do espiritismo. “Após um
período de farto aprendizado, veio o desejo de saber um pouco mais e ingressei
em outro grupo, que se denominava umbandista. E através longo período e
estudos, conheci também quimbanda, xêto, nagô e outros afro-abrasileirados”,
relembra Antônio.
O contato com
a Igreja Luterana começou quando namorava uma moça cuja irmã namorava um rapaz
chamado Norberto. “Quase todos os dias após o namoro, caminhávamos até o centro
de Teresópolis, RJ, que naquele horário já não tinha mais condução. Por ser uma
cidade do interior, as atividades cessavam mais cedo, e, assim, íamos conversando
até chegar em nossas casas, e cada um seguia para seu descanso”, relata. Nas
conversas, raramente se falava de religião, mas cada um sabia das convicções
religiosas do outro.
Anos depois, uma
cunhada – que também morava na casa de Norberto – adoeceu. Antônio percebeu que
ela recebia muitas visitas dos irmãos luteranos, que ajudavam a cuidar dela.
Ele conta que pensava: “esse povo não é nada dela (parente) e se importa com
ela, cuida dela. Essa igreja deve ser legal mesmo”. Algum tempo depois, ela faleceu
de câncer, aos 32 anos de idade.
A esposa de
Antônio, Jorgina, começou então a frequentar a Igreja Luterana, na Congregação da
Penha, do Rio de Janeiro, RJ. Ele comenta que sempre a levava e buscava para as
programações e reuniões de departamento, mas ia sempre de camiseta, bermuda e
chinelos, pois imaginava que este seria um empecilho e que, assim, iria
escandalizar os irmãos. Sempre a aguardava do lado de fora.
“Até que um
dia, ao chegar para pegar minha esposa, encontrei o pastor (Nilo Wachholz) na
porta. Ele me convidou a entrar e esperar, uma vez que a reunião se estenderia
um pouco mais. Retruquei, colocando a condição de minhas vestes. Recebi a
resposta de que na casa de Deus eu podia entrar até como ‘vim ao mundo’, já que
tudo dependia apenas do meu coração. Adentrei então no templo, me sentando em
um dos bancos, na quarta fileira. Em silêncio, passei a questionar porque, ao
invés de me irar por estar naquele lugar, apenas sentia dentro de mim
felicidade. Aí entendi que esse era o momento que o Criador havia guardado para
mim. Fui convertido dentro da casa do Senhor. Estava no lugar certo”, conta com
entusiasmo.
A mudança foi
completa. Desde 1994, Antônio é membro ativo da Congregação Penha, além de
ocupar cargos de liderança na comunidade, distrito e mesmo na Liga de Leigos
Luteranos do Brasil (LLLB).
“A vida com
Deus é muito boa. Não tem como negar. É nosso consolo, refúgio e fortaleza. A
vida tem nuances, dúvidas, decisões mal tomadas. Mas sempre agradeço a Deus
pela minha vida”, celebra.
Testemunho de Antônio Carlos Ramos da Rosa, Rio de Janeiro,
RJ
“Prezado senhor, gostaria de, nesse instante, estar falando
não para o irmão-amigo, mas, sim, para o competente diretor, editor e muito
mais, Nilo Wachholz.
O intuito desta não é fazer nenhum testamento ou
edital ou coisa parecida, mas, sim, uma maneira de confessar um pensamento
contido dentro de mim, pelo qual gostaria de expressar etapas que tentarei
descrever com maior transparência e clareza possíveis. Quero fazer colocações
de meu entendimento sobre o que é CONVENIÊNCIA, COMPETÊNCIA, CONVIVÊNCIA E
CONVICÇÃO.
Começarei a falar sobre o que classifico de conveniência:
nascido de família de classe média tradicional em minha cidade, Teresópolis,
RJ, tive, por conveniência de minha família, a orientação para militar na
Igreja Católica, uma vez que amealhava grande parte do núcleo da sociedade,
como políticos, socialites, etc. Cheguei, inclusive, a auxiliar no ofício de celebração
da missa.
Isso se deu até os 14 anos, quando por competência, já
que tive o direito de opção, ingressei em um grupo espírita cardecista, me
aprofundando no estudo e conhecimento espírita. Após um período de farto
aprendizado, veio o desejo de saber um pouco mais, e ingressei em outro grupo,
que se denominava umbandista. E através de longo período e estudos, conheci
também quimbanda, xêto, nagô e outros afro-abrasileirados.
Ainda nesse período, passei por experiência que só bem depois
pude entender, e que chamo aqui de período de convivência. Comecei
namoro com uma jovem, com a qual estou casado há 42 anos, presenteados com um
casal de filhos de sangue, três de coração e cinco netos. Ao mesmo tempo, a
irmã de minha esposa namorava um rapaz, Norberto Berger, gaúcho de nascimento e
luterano de berço.
Pois bem, por que classifico esse período de convivência? É
que só agora entendo por que, mesmo tendo de berço orientação religiosa e
privando de minha amizade, quase todos os dias após o namoro, caminhávamos até
o centro da cidade, que naquele horário já não tinha mais condução. Por ser uma
cidade do interior, as atividades cessavam mais cedo, e, assim, íamos
conversando até que chegássemos próximos de nossas casas, e cada um seguia para
seu descanso.
Só hoje compreendo porque Norberto – atualmente meu cunhado,
compadre e irmão de fé – nunca havia me convidado para frequentar sua igreja.
Uma vez que, sabendo de minhas convicções religiosas, o Senhor Deus – que
preparava para mim um outro momento – não tocou o seu coração para que fizesse
tal convite (sabedoria divina), até mesmo quando por ele convidado fui padrinho
de um de seus filhos.
E a vida seguia em frente, até que minha esposa, após a morte
de sua irmã mais nova, tornou-se membro da IELB, na Congregação Penha, no Rio
de Janeiro. Eu a levava para assistir ao culto e aos estudos bíblicos, assim
como à reunião das servas. No entanto, não entrava para participar de qualquer
evento, usando, para tanto, o artifício de sempre que a levava me vestia de
bermuda, camiseta e chinelos, achando que assim não seria convidado a entrar,
por achar que em uma igreja evangélica se escandalizariam com a minha entrada
com aqueles trajes.
Até que um dia, ao chegar para buscar minha esposa, encontrei
o pastor oficiante na porta. Ele me convidou a entrar e esperar, uma vez que a
reunião se estenderia um pouco mais. Retruquei, colocando a condição de minhas
vestes. Recebi do mesmo a resposta de que na casa de Deus eu podia entrar até
como “vim ao mundo” e que tudo dependia apenas do meu coração (palavras santas
de sabedoria). Adentrei então na paróquia, me sentando em um dos bancos, onde,
por instantes, em silêncio, passei a me questionar porque, ao invés de me irar
por estar naquele lugar, apenas sentia dentro de mim felicidade. Aí entendi que
esse era o momento que o Criador havia guardado para mim, e começava ali a fase
da convicção, e, por isso, hoje me conclamo como um cristão evangélico
luterano convicto.
Termino esse meu relato com um agradecimento a ti, de coração,
meu pastor.”
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